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Pandemia: denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes não estão acontecendo

A pandemia do novo coronavírus trouxe graves problemas não apenas para a saúde e economia mundiais, mas de maior exposição e ameaça a crianças e adolescentes vítimas de exploração sexual. Ficar em casa, no isolamento social, necessário para conter a doença, acaba expondo ainda mais os jovens que convivem com seus algozes ou estão em maior contato agora com a internet. O mais grave: as denúncias não estão acontecendo.


No Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, neste 18 de maio, o Eufemea ouviu a superintendente da Criança e do Adolescente da Secretaria de Estado de Prevenção à Violência (Seprev), Samylla Gouveia, e traz o quadro em Alagoas.

“Um comparativo do boletim de ocorrência do final do mês de março, quando iniciou a quarentena no Estado, até o início de maio de 2020, tivemos 46 boletins. Em 2019, nesse mesmo período, foram 96”, ela diz.


Os dados não comprovam, mas Samylla afirma que ao analisar o problema identifica-se que as denúncias não estão acontecendo nesse período de isolamento social. “Se eu tenho pessoas que estão me observando, se tenho a escola como fator de proteção que vai identificar se estou com alguma lesão, algum comportamento diferente, ela vai me ajudar a fazer essa denúncia. Como a maioria dos agressores está dentro de casa com a vítima, essa denúncia não está acontecendo”.

Fatores de proteção, como é o caso da escola, vizinho, o colega, o amigo, relata Samylla, que começam a identificar sinais de que a criança ou adolescente está sofrendo algum tipo de violência, são interações que nesse período de isolamento não vêm ocorrendo. “Isso tende a contribuir para que essa violência venha aumentar”, ela alerta.


Como identificar?


Para identificar se a criança ou adolescente está sofrendo ou sofreu algum tipo de violência sexual, Samylla afirma que “o fator primordial é observar os sinais e sintomas, principalmente comportamentais. A criança que era sorridente e agora está mais retraída, triste, vive chorando nos cantos, não consegue dormir bem, acorda de madrugada chorando, com pesadelos, não quer comer ou está se alimentando de forma demasiada, a automutilação dos adolescentes, ou começam a ter um comportamento mais erotizado, iniciam a masturbação de forma muito aberta. São sinais que podem identificar um possível abuso sexual”.


Os casos ocorrem em qualquer faixa etária, classe social e independem do gênero, bem como em qualquer família, aponta Samylla. “O que acontece muitas vezes é a parte da denúncia. Como a classe mais pobre é a mais vulnerável, então os olhares são mais focados nesse público. As famílias com poder aquisitivo mais elevado costumam abafar a situação. Levam para um hospital particular, para que seja feito o exame de conjunção carnal ou não. Então, essas denúncias muitas vezes não acontecem. Diferente da classe com poder aquisitivo menor. A escola hoje é um grande fator de identificação nessas possíveis denúncias de violência”, diz.


Internet, porta de entrada

Nesse, as crianças e jovens também estão tendo mais acesso à internet, o que aumenta os riscos. “Esses casos estão aumentando não só no Brasil, mas no mundo. Os pais, os responsáveis, precisam ficar atentos às plataformas que essas crianças estão utilizando. Quem são as pessoas que estão nas suas redes sociais, com quem estão conversando, porque a maioria dos abusadores sexuais se passa por criança e adolescente da mesma faixa etária para ganhar confiança. A partir daí o jogo sexual de sedução começa a acontecer e as ameaças, também. A internet hoje está sendo porta de entrada para essa violação de direito, sim”.


Quem tiver casos a denunciar não precisa se identificar. “A partir da denúncia é que vai ser iniciada a investigação. Existe o Disque 100, que é nacional, o 181, da Polícia Militar aqui do Estado, que não precisa de identificação. E o 190, quando você está vendo naquele momento a violência e solicita que a guarnição da polícia vá naquele local. Aí, sim, você precisa se identificar. Mas é importante fazer a denúncia, para que se possa procurar os serviços de proteção para as vítimas”, orienta Samylla.

Niviane Rodrigues

Niviane Rodrigues

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