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Manaus: na linha de frente, fisioterapeuta relata situação em hospital e diz que perdeu “vários pacientes jovens”

Foto: Alexandre Cavalcante

Manaus vive um caos na saúde. Sem oxigênio, hospitais lotados e pacientes sendo transferidos para outros estados, os profissionais da linha de frente no combate à covid-19 enfrentam inúmeras dificuldades dentro dos hospitais e vivem uma verdadeira luta contra o tempo para salvar a vida dos pacientes. O Eufemea conversou com a fisioterapeuta, Ana Carla Rocha, de 34 anos que trabalha no Hospital e Pronto-Socorro 28 de Agosto, em Manaus. Nessa segunda onda da doença, Ana disse que perdeu vários pacientes jovens.

Segundo a fisioterapeuta, apesar da cidade ter muitos leitos de UTIs e muitos hospitais públicos grandes e de referência, isso não tem sido o suficiente diante do número de pessoas contaminadas. “Elas evoluem de forma moderada a grave da doença e necessitam de internação hospitalar”, contou.

Ana viu a rotina dela mudar do dia pra noite. Conciliar o tempo com família, trabalha e consigo mesmo tem sido difícil. “A minha rotina tem sido bastante corrida, mas eu realmente espero que tudo isso passe. Logo tudo vai ficar bem”.

A fisioterapeuta disse que o hospital que ela trabalha continua lotado e explicou como tem sido esse cenário. “Na UTI covid não extrapolamos a lotação. A superlotação acontece nas salas rosas porque os pacientes chegam de maneira grave e a gente tem que colocá-lo em algum lugar; aí chega paciente que passa mal na enfermaria ou aqueles que estavam evoluindo bem. Então eles acabam indo para as salas de emergência e isso gera superlotação”, explicou Ana acrescentando que ela trabalha na UTI.

Ela disse que os outros colegas que trabalham nas salas rosas sofrem mais e que precisam fazer escolhas. “Eles ficam com os aparelhos de ventilação não invasivo portátil e precisam rodar esses aparelhos em vários pacientes ao mesmo tempo”.

Dos pacientes que mais marcaram a vida da fisioterapeuta, ela lembra de um de maneira especial. “Muitos pacientes já chegam ao hospital muito graves, às vezes, mesmo com todo o esforço da equipe, não temos sucesso. Esse paciente foi muito perseverante, não desistiu de lutar, estava muito mal, mas nunca deixava de sorrir, estava sempre brincando. Seguia a risca todas as nossas orientações e fazia tudo o que pedíamos para que ele melhorasse”, enfatizou.

A fisioterapeuta também contou que foram 30 dias difíceis de internação. “Dias em que melhorava, dias em que achávamos que não iríamos conseguir. Mas no final, deu tudo certo, e a tão esperada “alta pra casa” veio. Importante ressaltar: a equipe de Fisioterapia que temos no HPS 28 de Agosto. Se não tivéssemos uma equipe tão boa e que vestisse a camisa, não teríamos conseguido”.

A covid mata

E ela deixa uma mensagem para quem não acredita no vírus. “A covid-19 é uma doença grave e que mata. Não esperem perder um ente querido para acreditar nela. Cuide de quem você ama. Sei que não é fácil ficar sem abraçar e ficar longe de quem amamos, mas tudo isso logo logo vai passar”.

A força que vem do pai

E de onde vem essa força da profissional? De acordo com ela, do pai — que faleceu após pegar covid em junho de 2020 –. “Ele tem me dado forças para continuar. Sem ele, eu não seria a fisioterapeuta que sou hoje”.

Foto: Cortesia ao Eufemea

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.