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Quem são as mulheres por trás das máscaras?

Por Niviane Rodrigues e Raíssa França

Elas são mulheres e estão na linha de frente de combate ao novo coronavírus. Por causa da pandemia, a rotina delas mudou: o trabalho ficou mais intenso, e a sensação de medo é constante. Mas não é o suficiente para que elas desistam do que juraram ao se formar. 

Por trás de cada máscara, há uma mulher com família, sonhos, relacionamentos e vida. Quem são essas mulheres? Como é a rotina de cada uma dentro dos hospitais e no dia a dia? Em sua estréia, o Eufemea traz uma reportagem com sete profissionais da saúde do Nordeste. Conheça hoje a história de quatro delas.

Conheça a história delas:

No Hospital Manoel Afonso, em Caruaru, a médica Fernanda Sales, de 24 anos, atua no combate ao novo coronavírus. Além de lá, a profissional também trabalha em algumas UPAs. O plantão dela é semanal e dura 24 horas: começa às 8h e vai até às 8h do dia seguinte. 

A rotina tem sido exaustiva; tanto pelos equipamentos de proteção (que são desconfortáveis), quanto pela evolução dos pacientes que intercorre muito rápido.

“Os equipamentos machucam o corpo e são difíceis de utilizar por causa do calor. Evitamos até usar o banheiro. Outra coisa que torna a rotina exaustiva é ver a piora dos pacientes -que ocorre muito rápido, apesar do hospital ter os recursos necessários para o tratamento deles”.

Outro fato que chama atenção da médica é que vários pacientes na faixa de 30 a 39 anos são internados. “São homens e sem comorbidades”, disse.

A médica ainda disse ao Eufemea que atendeu um paciente em especial, que marcou o plantão dela. “Fui examiná-lo , me apresentei e ele me questionou: “doutora, o que tenho?” Daí expliquei pra ele que necessitávamos  aguardar o resultado dos exames. Ele já estava necessitando de oxigênio, e mesmo assim estava com desconforto respiratório. O olhar dele era de melancolia, solidão e preocupação . Olhar de quem não acreditava estar naquela situação”, lembra.

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A enfermeira Dalanne Jessica Costa, tem 28 anos, e é formada há seis anos. Atualmente trabalha em um hospital da rede privada em Olinda, na Grande Recife.

Me formei em 2001, e atuo em um hospital de grande porte. Meu setor é UTI geral. Porém, devido à pandemia, houve a necessidade da abertura de leitos para covid- 19, então assumi essa UTI com pacientes doentes e suspeitos

Costa lembra que o grupo da enfermagem é composto, na sua grande maioria, por mulheres. “Sua fundadora foi uma mulher chamada de Florence Nightingale, uma mulher à frente do seu tempo, batalhadora, inteligente, destemida, dedicada e ousada”, destacou.

Para ela, ser mulher e estar na linha de frente é um privilégio. “Abracei esta profissão com muito amor e dedicação. É importante fazer parte desse momento tão delicado. Contribuir com minha assistência e ver a recuperação de um paciente não tem preço. E ainda que o paciente evolua para o óbito sei que dei o melhor, e isso me conforta”.

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Das 8h às 18h, a nutricionista Juliana Bomfim está no hospital Santa Efigênia, em Caruaru. Ela trabalha em duas UTIs criadas para a covid-19. “Realizo as visitas presencialmente. Porém na UTI 03 as visitas são realizadas de forma fonada com os enfermeiros e no 2° andar com os pacientes. Eles repassam as queixas, preferências alimentares e aversões pelo telefone. O meu papel dentro do hospital é oferecer um suporte nutricional para eles, sobretudo para os pacientes que apresentam SRAG (Síndrome respiratória aguda grave), estabelecendo metas nutricionais que auxiliarão na melhor resposta metabólica do paciente”, explicou.

Para ela, a pandemia fez com que ela valorizasse ainda mais o outro e a tivesse um olhar mais humano e a compreender o quanto um equipe multidisciplinar (médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, fisioterapeutas) são igualmente importantes. 

Tenho mais força como mulher por passar por essa situação de guerra atual e por contribuir com o estado nutricional de tantos pacientes e aprender a não fraquejar, buscar forças da nossa fé e prosseguir

A nutricionista disse que sente tensão, medo e insegurança, mas que é preciso estar lá. “Precisamos levantar todos os dias e enfrentar toda essa situação de cabeça erguida, fortes. Sim, por que é preciso ser. E nesse momento difícil que estamos vivendo, precisamos nos unir aos outros profissionais. Deixar o ego de lado, e se colocar no lugar do outro”, completa.

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De Quixeramobim, no Ceará, a técnica de enfermagem Maria Mikaelly Ferreira Dos Santos, 32 anos, é formada há 10 anos. Ela cursa agora enfermagem em uma faculdade na cidade onde mora. Devido à pandemia, a técnica precisou se distanciar da filha.  

“Sou casada, mãe de uma menina linda (a Naraelly), da qual infelizmente nesse período de pandemia tive que me distanciar por um tempo e mandá-la para outra cidade, para a casa dos avós.” 

A técnica disse que trabalha nos dois hospitais da cidade: o Hospital Regional Doutor Pontes Neto, municipal; e o Hospital Regional do Sertão Central, estadual. “Em ambos, hoje eu atuo no setor do centro cirúrgico. Minha rotina hoje é entre os trabalhos, casa, faculdade e igreja (esses dois últimos online), onde tento administrar o máximo do meu tempo”, diz.

Nós respiramos uma realidade de vida e morte todos os dias. Nós também somos suscetíveis para a morte. O covid-19 não escolhe endereço

Segundo ela, “atrás do avental de isolamento, dos nossos óculos de proteção, da nossa máscara e do nosso protetor de face, existe um ser humano que também tem família e é o amor da vida de alguém”.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.