Colabore com o Eufemea

Você sabe o que é gaslighting? Psicóloga explica manipulação e relacionamento abusivo

Crédito das fotos: Zô Guimarães

Você vive pedindo desculpas ao seu parceiro?  Você se pergunta se uma parceira boa o suficiente? Seu parceiro diz que você está vendo coisas onde não tem? Gaslighting é uma forma de abuso psicológico. O termo surgiu em 1938, na peça de teatro Gaslight, do dramaturgo inglês Patrick Hamilton. Na trama, o marido manipula sua mulher para ela achar que está ficando louca, de forma a proteger um terrível segredo dele.

Sobre o assunto, o Eufemea conversou com a Adriana Nunan, Doutora em Psicologia Clínica pela PUC do Rio de Janeiro. A especialista explicou que a partir dos anos 1970, o termo “gaslighting” foi ganhando popularidade e passou a englobar episódios contra mulheres e homens. 

“Hoje, entendemos como gaslighting casos onde uma pessoa manipula a outra para fazer com que ela questione sua memória, percepção, capacidade de tomar decisões ou saúde mental, independentemente do gênero”, comentou.

Apesar de ser algo que atinge a todos – homens ou mulheres – Adriana disse que as mulheres têm uma probabilidade maior de serem vítimas pelas mesmas razões em que são elas são as vítimas mais frequentes dos demais tipos de violência.

Adriana destacou que qualquer pessoa pode se tornar vítima de gaslighting e que isso não acontece apenas nos relacionamentos amorosos, mas também no ambiente profissional, entre amigos ou numa dinâmica familiar disfuncional. 

Segundo ela, o que define o abuso não é o ambiente ou os atores, mas sua natureza manipulador. “Informações são negadas, omitidas, distorcidas ou inventadas com o objetivo final de desestabilizar, confundir e desorientar a vítima, reduzir sua autoestima e fazer com que ela se torne cada vez mais dependente do abusador”.

Como começa o gaslighting?

A psicóloga afirmou que geralmente começa de forma sutil e com situações de pouca importância, por exemplo, escondendo um objeto da vítima. 

“A tensão vai escalando aos poucos, com o abusador mentindo e negando coisas que ele disse ou fez, mesmo que existam provas em contrário. O abusador também pode inventar eventos que jamais ocorreram, fazendo com que a vítima passe a duvidar do que é real e o que não é. O processo atinge seu ápice quando o abusador questiona a sanidade da vítima, chamando-a de “louca” ou de “desequilibrada”, ressaltou.

Nem sempre ele vem acompanhado de violência física, mas isso não quer dizer que as consequências não sejam devastadoras. “ Muitas vezes irreversíveis, incluindo transtornos de ansiedade, depressão e, em casos mais graves, suicídio”, disse.

Como lidar com o abuso?

A doutora em psicologia deu algumas informações de como lidar com o abuso:

  1. Preste atenção
    Foque nas coisas que o abusador faz, ao invés das coisas que ele diz. O abusador mente, logo a palavra dele não deveria ser levada em consideração pela vítima. Já as ações costumam ser muito mais fiéis à real intenção do autor. Outra vantagem de focar nas ações é que, quando descritas, podem ser interpretadas por outra pessoa, isenta. As falas, por outro lado, caso não sejam relatadas de forma precisa, arriscam perder parte de sua intenção.
  2. Dialogue
    Sim, o diálogo funciona, não para fazer o abusador assumir seu comportamento e pedir desculpas, mas para ajudar a vítima a diferenciar a realidade da ficção. Mesmo que o abusador tenha um raciocínio rápido e um bom domínio da língua, mais cedo ou mais tarde acabará caindo em contradição.
  3. Faça registros
    Tire fotos, grave áudios, anote. Vale tudo. O importante é registrar os eventos assim que eles acontecerem e mantê-los à salvo do abusador. Se os registros forem digitais, guarde também cópias em lugares seguros, como repositórios na nuvem, pendrives ou caixas de email.
  4. Busque ajuda
    Converse sobre o assunto com familiares ou amigos próximos, já que uma tática comum entre abusadores é isolar as vítimas da sua rede de apoio, buscando exercer maior controle e poder sobre ela. Se o abuso acontecer dentro do escritório, acione os canais corporativos de ajuda. A maioria das grandes empresas hoje em dia têm canais semelhantes, com o objetivo de proteger a vítima. Se a situação estiver saindo do controle, procure um psicólogo urgentemente, de preferência um especializado no assunto. Nunca se automedique nem evite o problema. Se for não confrontado, o abuso só irá aumentar.
Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.