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WhatsApp como ferramenta de ensino em tribo no CE e conteúdo para o Enem pelo Instagram no ES

A aldeia Gameleira, do povo tapuya kariri, está localizada a 360 km de Fortaleza, e a 9 km de São Benedito, município do Estado do Ceará. A distância não impede que os índios da Escola Indígena Francisco Gonçalves de Sousa tenham aulas, que chegam online via WhatsApp e nesse momento de isolamento social, com a pandemia do novo coronavírus, fazem a diferença. Para os alunos que não têm acesso à tecnologia, as atividades são impressas e levadas para a casa deles. Já no Espírito Santo, o esforço vem de uma aluna do curso de Medicina, que criou um perfil no Instagram para compartilhar conteúdo com estudantes que vão fazer o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

O Eufemea conversou com a professora Andrea Rufino da Silva, do Ceará, e a estudante Anna Carolina de Assis Ribeiro, do Espírito Santo, e traz os relatos das iniciativas para levar conhecimento a quem mais precisa nesse período de pandemia.

Com as aulas presenciais suspensas desde o dia 18 de março por decreto que determinou o isolamento social, é à internet que a professora Andrea Rufino, cacique do povo tapuya kariri, atualmente diretora da escola, leva conteúdo para os estudantes.

“Mantivemos o calendário letivo e elaboramos um plano de ações para executar durante a pandemia”, ela conta. “Atendemos 300 alunos, sendo 15 não indígenas. Temos os mesmos componentes curriculares das escolas convencionais e a nossa parte diversificada que trabalhamos os componentes artes, expressão corporal, espiritualidade indígena e cultura”, diz.

E explica como funcionam as atividades. “Os nossos recursos são grupo de WhatsApp. Cada turma tem seu grupo e as atividades são mandadas pelo WhatsApp. Os alunos que não têm acesso à tecnologia, a gente imprime as atividades e deixa nas casas deles. Essa iniciativa funciona 70%  se levamos em consideração esse momento excludente, pois a maioria das famílias não tem  acesso à internet e nem tem celular para que os filhos possam estudar”, afirma Andrea Rufino.

Apesar do esforço, ela é realista quanto aos resultados.  “Os resultados infelizmente não são tão bons, pois o cenário que estamos hoje é uma situação nunca vivida por nós. Estamos tendo que abrir mão do contato com os nossos parentes (alunos) e o que é mais complicado é que temos que driblar também a necessidade muitas das vezes de comida das famílias em vulnerabilidade, pois temos famílias que a única refeição era feita na escola. O ensino- aprendizagem está com uma deficiência muito grande, porque temos famílias que não acompanham seus filhos do jeito que era para acompanhar, infelizmente”, ela lamenta.

Para o pós-pandemia, afirma a cacique, “é correr atrás do prejuízo e tentar recuperar os alunos que não atingiram a meta que gostaríamos”.

Compartilhando conhecimento

Já no Espírito Santo, o esforço para compartilhar conhecimento com quem está longe da sala de aula desde que foi declara a pandemia, vem da estudante do primeiro período de Medicina Anna Carolina de Assis Ribeiro, 17 anos. Com as atividades da faculdade paradas, ela decidiu dedicar parte do tempo a dividir material de estudos com alunos que vão fazer o Enem.

Anna Carolina: “É uma sensação surreal! Não esperava uma repercussão tão grande e fico imensamente feliz de estar contribuindo pelo menos um pouco”

“As aulas foram suspensas há mais de 3 meses. No começo eu me sentia melhor, achava que voltaríamos rápido e estava seguindo minha rotina normal, já que minha faculdade adotou o EAD [Ensino a Distância] desde o início. Mas, com o passar do tempo, ficou muito mais difícil para manter o mesmo foco, já que ficamos sem previsão de volta e com uma situação cada vez mais lamentável no país e no mundo”, diz.

“É difícil manter a concentração quando se vive um momento histórico, ainda mais passando o tempo todo dentro de casa. Além disso, também sinto muita falta da prática. Sou uma pessoa muito visual e entender a anatomia e vascularização de um órgão, por exemplo, seria muito mais fácil com a peça na mão”, relata Anna Carolina.

Mas e a passar material de estudos para quem vai fazer o Enem, como surgiu? “Eu sempre gostei de transmitir para os outros o que aprendia, gostava muito de compartilhar com meus pais e meu irmão, por exemplo. Quando descobri que existiam pessoas que compartilhavam seus estudos e dicas voltadas para isso no Instagram fiquei muito motivada. Acompanhei por um tempo e depois decidi criar um perfil para que eu pudesse ajudar outras pessoas também”, ela diz.

Anna Carolina conta que assim que passou na faculdade, “muitas pessoas chegaram no meu perfil com muitas dúvidas e almejando passar também, e esse foi meu ponto de virada no instagram. Comecei a produzir conteúdo para resolver as maiores dúvidas do pessoal que me seguia”.

Com a pandemia, ressalta Anna Carolina, “vi que muitas pessoas ficaram sem acesso a material de estudo. Aí decidi compartilhar meus próprios resumos do ano de vestibular para que pudesse contribuir um pouco com o estudo de pessoas sem condições de arcar com cursos online e outros alunos em geral também”.

A estudante destaca que não dá aula. “Gravo alguns vídeos no meu Instagram sobre redação, mas deixo claro que compartilho minha experiência como aluna e com base nas cartilhas liberadas pelo próprio INEP [Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira]”, diz.

Público diversificado

“Todo conteúdo é oferecido a partir do meu perfil no Instagram, seja em formato de post, vídeos no igtv ou link para o drive com resumos. Pessoas do Brasil inteiro me seguem, mas não tenho essa base de serem alunos carentes ou não. Já recebi alguns relatos de alunos sem condições de arcarem com curso online, mas acredito que é um público bem diversificado”, conta Anna Carolina.

E o retorno tem sido significativo, segundo ela. “Com certeza! Recebo muitas mensagens, fotos e vídeos de pessoas utilizando o material que disponibilizei e agradecendo por isso! Muitos dizem que só estão conseguindo estudar através dele, o que é fantástico pra mim”.0

“É uma sensação surreal! Não esperava uma repercussão tão grande e fico imensamente feliz de estar contribuindo pelo menos um pouco. Entendo como o ano de vestibular é um momento difícil, mas nem consigo imaginar o quanto isso deve estar amplificado nesse momento de pandemia. Sou imensamente grata por ter a oportunidade de auxiliar tantas pessoas através do meu perfil, o que é meu principal objetivo”, completa a estudante.
Niviane Rodrigues

Niviane Rodrigues

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