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Da dor à solidariedade: trans conta como ato de preconceito estimulou a criação de projeto social

A paulistana Lanna Hellen, 32 anos, mora em Maceió há seis meses, é uma mulher transgênero e ganhou o noticiário local e nacional ao ser expulsa de um shopping center na parte alta da cidade, em janeiro deste ano, após protestar por ter sido, segundo ela, impedida de usar o banheiro feminino. Não foi a primeira vez que sofreu humilhação, mas nem o preconceito que enfrenta a fez desistir de apoiar ao próximo. Ao contrário. Em meio à pandemia, ela criou um projeto para ajudar moradores de rua e famílias de baixa renda.


Graças à ação social, ela consegue ajudar 120 pessoas duas vezes por semana, toda terça e sexta-feira. Leva a essas pessoas almoço, produtos de higiene e roupas. Conta com ajuda de doadores anônimos e do projeto Vaso Novo. Lanna criou um conta no Instagram, onde divulga a iniciativa, e lançou um canal no YouTube para reforçar o pedido de apoio, garantir as doações e manter o projeto. Conta ainda com o trabalho de Blenda Lorraine Machado, que faz as fotos e vai com elas às ruas da cidade para fazer a entrega dos produtos e alimentos.

Foto: Cortesia ao Eufemea


Ao Eufemea, Lanna contou sobre o projeto e sua vida. “Saí de São Paulo para fugir de uma depressão. Sofro preconceito desde quando eu me assumi homossexual para a minha família bem conservadora, de Pernambuco. Foi difícil para minha mãe me aceitar, sofri muita agressão, apanhei muito quando jovem. Saí de casa cedo e por não ter apoio da família eu aprendi a conhecer as coisas logo cedo, tanto o caminho errado como o certo. Mas o caminho certo eu só aprendi depois que conheci o caminho errado”, ela relata.


E o errado, ela diz, foi ter se envolvido com as drogas. “Fui presa, parei em clínicas de reabilitação. Cheguei no fundo do poço. Conheci muitas pessoas na mesma situação e o dinheiro ia todo com droga. Não sobrava para a comida. Eu não tinha apoio da família. Fui jogada ao vento, como essas pessoas que são moradoras de rua, a maioria usuárias de drogas, nem todas, muitas sofreram na vida, tentaram a vida em outro lugar e não deu certo. Querendo ou não estão na rua. Eu sofri muito no passado, na adolescência e aprendi a me tornar um adulto logo cedo”, lembra Lanna.

A vida toda foi de depressão. “Por sempre viver só. Essa vida de uma mulher trans é uma vida solitária. Uma vida difícil, é luta. Se você não tiver emprego tem que se prostituir”, relata.


Mudou para Maceió na busca por uma vida nova. “Tenho uma irmã por parte de pai aqui, ela me deu apoio, aluguei um espaçozinho e eu sempre tive vontade de fazer um projeto social. Quando conheci Maceió, me chamou a atenção ali na área de Jaraguá, uma cabana de lona e as pessoas limpando peixe cheio de mosca, para comer. Aquilo mexeu comigo, me fez voltar ao passado e eu por já estar quatro anos limpa, bem, longe das drogas, decidi aproveitar a situação de preconceito que me aconteceu no shopping, aquela transfobia. Por causa da repercussão, o Instagram que fizeram para mim chegou a de quase 12 mil pessoas. O projeto começou a partir do preconceito que sofri. Aproveitei a repercussão para ajudar a quem necessita”, explica Lanna, ao dizer que vai prosseguir.


“Mesmo passando a pandemia, a quarentena, o projeto vai continuar. O projeto ajuda 120 vidas, eu levo almoço duas vezes por semana, levo cesta básica, produto de higiene. É uma luta constante. É difícil conseguir doação, perdi muitos seguidores, pelo gesto de estar ajudando ao próximo, mas vou continuar. Creio em Deus que a tendência é crescer”, fala com otimismo.


Ela deixa a seguinte mensagem nesse momento de pandemia: “Que as pessoas tenham fé, que isso tudo vai passar. É só um momento difícil, de luta, e quem puder ajudar às pessoas que não têm condições, que estão passando por dificuldade, ajude com pelo menos o mínimo. Cada um fazendo um pouquinho, a gente pode fazer a diferença, mudar o mundo, o Brasil. Essa pandemia vai passar e vai servir para a gente ser mais solidária, abraçar mais as pessoas que precisam, os nossos familiares, dar mais valor às pessoas. A mensagem é de solidariedade”.

Niviane Rodrigues

Niviane Rodrigues

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