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Luto sem despedida: psicóloga alerta sobre a importância de viver o momento de tristeza

O Brasil já registra 16.792 mortes por causa do novo coronavírus. São pessoas que tinham famílias, sonhos, histórias de vida. Não são números, são nomes. Como se não bastasse a dor de perder um familiar, os parentes e amigos – em algumas cidades – estão se despedindo de maneira rápida: poucas pessoas, com tempo marcado e com o caixão fechado. Em algumas situações, não há sequer tempo para chorar. 

Com esse avalanche de mortes, surge um questionamento para quem perdeu alguém de uma forma rápida: como lidar com o luto? O velório e o enterro já não são mais os mesmos, e os sentimentos podem ficar bagunçados neste momento de despedida.

O Eufemea conversou com a psicóloga Silvia Teixeira, que é especialista em luto. Segundo ela, o momento é difícil já que não há presença física, nem gestos, afagos e nem palavras de despedida. 

“Não há contato com o corpo, praticamente não há velório, não há cerimônia, o corpo vai despido e o caixão fechado. Há ausência de cortejo, poucas ou nenhuma pessoa presente, não há troca de carinhos”, ressaltou.

A especialista disse que “há muita tristeza que fica presa na garganta”. “Não há espaço pra chorar, não há encontros familiares e com amigos”.

Por causa dessa situação, os problemas vão surgir futuramente e trazer implicações para a vida das pessoas. “Pode criar lacunas abertas, luto não vivido, não elaborado. Dificuldades de lidar com perdas, aumento de medos, inseguranças, dificuldades de criar vínculos”, disse Teixeira.

A especialista disse que a humanidade teme a morte e que estamos de forma real diante da finitude. “Não está dando tempo de se preparar”, alertou.

Silvia também ressaltou que algumas pessoas ainda estão no pensamento mágico de que “isso não acontece comigo” e acabam negligenciam os cuidados.

“É um processo de educação para o novo, para o inesperado. A adesão aos cuidados, requer lidar com as crenças limitantes e com  a mesmice. De acreditar que se tem controle de tudo”, explicou.

A especialista enfatizou ao Eufemea que é importante que a pessoa vivencie o luto. Silvia deu dicas para quem passa por esse momento de tristeza.

“Se você perdeu alguém, faça um velório simbólico; pegue uma foto da pessoa falecida, um objeto pessoal use como referência, junte algumas pessoas da família, faça sua preces, sua orações, cante as músicas que a pessoa gostava, expresse seus sentimentos, faça homenagens a ela”, comentou.

Se ainda assim, ficar difícil, a orientação de Silvia é que procure ajuda profissional. “Não tenha medo de sentir sua dor, reforce sua crença religiosa, buscando o que melhor ela pode oferecer”.

Por fim, a especialista disse que é difícil lutar com o luto já que não somos educados a falar sobre o assunto. Mas que é necessário que as pessoas conversem sobre isso e entenda que falar sobre morte, é valorizar a vida. “É dar mais atenção a vida. E busque cada vez mais aprender que viver vale a pena, é maravilhoso o tempo que for possível viver”.

Foto: Fábio Motta

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.