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Nas ruas de Maceió, gari convive com o medo de contrair coronavírus, mas relata amor pela profissão

Todos os dias ela acorda às 4h40 para preparar o leite do filho e às 7h já está no trabalho. Tem uma hora de intervalo para o almoço e só larga às 15h20, quando finalmente volta para casa e começa o serviço doméstico. Os dias de Quitéria Maria Barros da Silva, 32 anos, são puxados, mas ela não reclama. Ao contrário. Agradece por trabalhar e manter os dois filhos com a profissão da qual se orgulha: gari. Na pandemia do coronavírus, Quitéria está entre as categorias que corre risco de contágio diário, já que o trabalho é na rua, na limpeza urbana.

Os amigos a chamam carinhosamente de máquina. Não à toa! Quitéria tem ainda uma barraca onde vende lanches e nos finais de semana ou feriados, faz unha e cabelo em domicílio.

No Dia do Gari, comemorado neste sábado (16), o Eufemea ouviu Quitéria, que traz um relato de amor e dedicação à profissão. “Sou gari há um ano e meio. Antes eu trabalhava como autônoma, fazendo lanche para vender. Tive a oportunidade e mandei meu currículo, que foi aprovado”, conta, ao falar da seleção que participou para gari. Quitéria mora no conjunto Frei Damião, No Benedito Bentes II, um dos bairros mais carentes de Maceió.

Nas ruas, as dificuldades são muitas, a começar do preconceito que sofre, mas ela encara com muita sabedoria. “Amo o que faço. Há muito preconceito, mas vejo minha profissão como qualquer outra, honesta”, afirma. 

“A gente passando pela rua, limpando, e um homem descascando laranja e jogando as cascas no chão. Pedi pra não fazer isso e ele disse: ‘Se não varrer, você não tem trabalho’. Há uma semana vi um rapaz pendurado num muro, ofereci ajuda. Ele disse que não porque tava com um saco de milho na mão e se o povo visse não ia querer comprar o milho. Me senti constrangida”, confessa.

Mas nada desanima Quitéria. Ela sonha em entrar na faculdade e cursar administração. “Vou juntar dinheiro e fazer minha faculdade. Na minha profissão de gari eu só vejo motivo para crescer e não tenho vergonha. É do meu trabalho que alimento meus filhos, pago minhas contas”. Ela está separada e o ex-marido desempregado. Com o salário que recebe, sustenta dois filhos, uma menina de nove anos e um menino de dois. “Minha maior qualidade é a minha fé , nunca se abala. Devo tudo a minha mãe , que me ensinou que só vivemos bem no mundo com dignidade”, afirma.

Extrovertida, Quitéria gosta de fazer vídeos e ultimamente tem levado por meio de suas gravações mensagens a quem a acompanha nas redes sociais. Fala sobre a necessidade de se proteger do coronavírus.

“Sinto bastante medo. Tenho duas crianças em casa e minha, que mora perto, tem diabetes, é hipertensa. Tento me cuidado ao máximo para ajudar as pessoas, as famílias. Sempre faço a higienização com álcool gel, uso luvas, máscaras, que troco sempre, deixo a farda que uso na casa de apoio da firma e antes de entrar em casa lavo toda a roupa, limpo o celular”, ela conta, ao pedir que as pessoas façam o mesmo para proteger a família dela também.

Niviane Rodrigues

Niviane Rodrigues

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