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Pandemia, home office e a sobrecarga de mulheres que são mães

De repente, uma pandemia. E a vida das mulheres que são mães precisou mudar radicalmente. Sem escolas, creches, visitas a família e com a liberação das funcionárias, as mães começaram a viver uma nova realidade de equilibrar o home office com o cuidado integral das crianças, além dos afazeres domésticos. A jornada é desafiadora, e muitas vezes, até solitária.

Ao Eufemea, três mulheres contaram como elas estão lidando com esse momento de sobrecarga. 

A arquiteta Vivi Davino, de 37 anos, é casada e tem duas filhas. Porém, ela, o marido e a filha mais nova foram morar em Recife. O esposo trabalha os dois horários e Vivi fica com a filha de 4 anos, mas precisa conciliar o trabalho, com os afazeres domésticos e os cuidados com a crianças.

“Eu fico fazendo meus projetos e ela fica comigo. Então assim por causa da história da escola, eu estou praticamente sozinha pra cuidar das coisas. Estou tentando me virar porque já são mais de 60 dias que eu não estou saindo”, ela diz. 

Vivi contou que já aconteceu dela está fazendo uma live e teve que interromper porque a filha mais nova estava no banheiro e precisou de papel higiênico. “Eu tive que parar para poder socorrer, né? Essa situação foi até engraçada”, disse.

A escola – que é um ponto de apoio também para a mãe – está com as aulas suspensas. “Ela estuda integral e eu consigo trabalhar. Hoje em dia, por causa da pandemia, nós tomamos café juntas, passeamos dentro do condomínio”.

Vivi sente na pele porque só tem o esposo e a filha em Recife. “Minha família toda é de Maceió. Então isso complica muito”.

A arquiteta disse que diferentemente dos homens, a mulher acaba abdicando de várias oportunidades. “Até para descansar. Não podemos, né? Porque estamos com a criança”.

“Não consigo ser 100% em tudo”

A advogada e professora Raphaela Batista, 33 anos, tem uma filha de um ano e cinco meses, é casada, e tem uma rotina profissional parecida com a do marido. Segundo Raphaela, por causa dessa rotina, os dois não conseguem fazer o revezamento dentro de casa para cuidar da filha. Raphaela também disse que vê uma diferença entre a produtividade feminina e a masculina em tempos de pandemia.

“Como estamos fazendo? Eu não sei. Estamos nessa rotina faz 60 dias e o que eu percebo disso tudo, e me causa um tanto ressentimento, é que vejo muitos homens que aproveitam o isolamento social para produzir seus conteúdos, vídeos, estão estudando e publicando. E eu, como mulher e mãe, não estou fazendo”, disse.

A advogada disse que como está muito sobrecarregada de todas as tarefas, ela e o esposo tentaram criar uma rotina de trabalho da mesma forma que ela fazia quando saía de casa. “Eu acordo, me arrumo para que a cabeça entenda que aquele é meu horário de trabalho. No tempo que estou trabalhando tento ficar isolada trabalhando, mas nem sempre é possível. Não consigo ser 100% em tudo”, explicou. 

“Precisei me reinventar”

Lilian Carnaúba, 33 anos, trabalha em home office antes mesmo da pandemia. Lilian tem um filho chamado Joaquim, de 4 anos, e mesmo sendo acostumada a trabalhar em casa, ela garante que precisou se reinventar neste momento. “Eu perdi minha rede de apoio. As mães que trabalhavam ou não com home office perderam suas redes de apoio: escola, funcionária que ficava com os filhos ou algum parente que dava suporte. E hoje eu me vejo no mesmo lugar que elas”, disse.

Para conciliar casa, filho e trabalho, Lilian tem tentado buscar enxergar  o momento com outros olhos, criando uma nova rotina mais flexível e mudando algumas prioridades. “Tenho evitando a autocobrança. A sobrecarga existe, mas a responsabilidade em alimentá-la ou amenizar está em minhas mãos”, afirmou.

Para ela, se a mãe não tiver uma rotina mais flexível, as mães serão devoradas pelo tempo e inúmeras tarefas dentro de casa. “Não dá pra ser vítima da situação, é preciso encontrar possibilidades para trazer mais leveza pra esse momento”.

“No início foi tudo novo, não entendi que duraria tanto tempo, e agi como se estivesse me dando férias”, disse.

Porém, aos poucos, Lilian viu o caos que estava a vida dela e a casa. “Precisei encontrar meios para colocar ordem em tudo. Ainda é cansativo e desafiador, mas recebo muitas mães questionando o quanto a bagunça emocional também está contribuindo para sobrecarga mental, emocional e física que estão precisando enfrentar”.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.