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A pandemia do novo coronavírus caiu como uma bomba para a saúde mental da população, que sofre os efeitos do isolamento social, do medo do desconhecido e da morte, cujos casos não param de aumentar no Brasil. Situação que leva ao crescimento do consumo de ansiolíticos.
“Nós humanos somos seres sociáveis e as consequências da pandemia trouxeram efeitos deletérios para a saúde mental de muitas pessoas. Isto pode ser visto tanto como consequência das incertezas relacionadas ao vírus; medo da contaminação, da morte ou até prazo incerto de ‘quando isso tudo irá terminar’, o que comumente acarreta sintomas ansiosos, algumas vezes desenvolvendo até transtornos ansiosos propriamente ditos”, disse ao Eufemea a psiquiatra Andréa Chavante, que atua no Hospital Universitário (HUPAA/Ufal, no Hospital Escola Helvio Auto (Uncisal) e no próprio consultório, hoje de forma virtual.
A profissional chama atenção ainda para os quadros de depressão diante da situação. “Vivemos os impactos do isolamento social que pode ter como consequência os quadros de depressão, podendo chegar até as tentativas de suicídio”, diz.
Segundo a psiquiatra, “um estudo observacional realizado no Rio de Janeiro entre os meses de março e abril, observou que os transtornos de ansiedade aumentaram a incidência de 8,7% para 14,9% da população e que os quadros de depressão quase duplicaram neste período, evidenciou-se um salto de 4,2% para 8,0%”.
Os dados, destaca Andréa Chavante, “seguem o aumento progressivo dos transtornos mentais em nível mundial ‘pós-pandemia’ e sugerem que existe uma possível ‘pandemia silenciosa’ dos transtornos mentais sob a superfície da pandemia de Covid-19”.
As mulheres são as principais vítimas desse quadro. “De acordo com a epidemiologia dos transtornos mentais, tanto a depressão como os transtornos ansiosos em geral, têm no público feminino o seu maior índice de prevalência e incidência, sendo estes transtornos os mais relacionados ao uso de benzodiazepínicos”.
Ela explica ainda que “existem dados informais sobre o aumento do uso de benzodiazepínicos (classe de ansiolíticos) tanto no nosso Estado como em nível nacional. Este fato decorre do aumento dos sintomas ansiosos e depressivos, assim como também, aumento do uso para fins sedativos em grande parte da população durante a pandemia”.
Porém, o uso sem nenhum controle desses remédios pode trazer consequências ao organismo. “Os riscos do uso indiscriminado de benzodiazepínicos são diversos, porém os mais comuns são a dependência ao uso da substância (ou seja, o vício) e, a longo prazo, acarreta prejuízos na capacidade cognitiva dos pacientes, prejudicando principalmente a memória destes”.
Vale ressaltar, diz a psiquiatra, que estas medicações são, muitas vezes, prescritas por médicos ‘não-psiquiatras’ sem um acompanhamento regular, mesmo sendo uma medicação de indicação restrita e com efeitos deletérios a longo prazo”, alerta Andréa Chavante.
Para passar por esta situação e preservar a saúde mental, a médica orienta: “Estamos vivendo um momento difícil para todos, isto é um fato, porém o que fará a diferença em transformar ou encontrar meios de fazê-lo menos doloroso, é a capacidade mental de cada um em reagir de forma mais positiva a esta situação.
Oração e espiritualidade
E aponta para o lado positivo que se pode encontrar. “O isolamento tem muitos pontos positivos: oferece mais tempo para organizar as atividades do cotidiano, para incrementar nosso conhecimento profissional através da leitura ou de cursos online, para dar maior atenção à família e aos filhos, para podermos treinar novas habilidades como a culinária, além de termos mais tempo para praticar novos e velhos hobbies, como ver filmes, séries, ler um livro ou tocar um instrumento, por exemplo”.
Porém, Andréa Chavante diz que “o meio que considero mais efetivo para melhor aproveitarmos este período de isolamento é nos oferecendo diariamente um tempo para uma maior conexão com o nosso interior e a nossa espiritualidade, seja através da meditação ou da oração. Isto fará toda a diferença!”.
Médica, especialista em psiquiatria com formação por residência médica no Estado do Ceará., ela conta que atuo na área há 11 anos e que a escolha pela especialidade se deu “pelo encantamento e fascínio que as funções mentais me proporcionam, além da curiosidade e busca incessante de conhecimento no tocante às diversas formas de manifestação dos fenômenos psíquicos”.