“Representatividade: uma boneca igual a ela”, escreveu – nas redes sociais – a mãe de Melissa Emanuelle dos Santos Sousa, de 9 meses. A filha de Débora Emanuelle, de 28 e Tassio de Oliveira Sousa, de 31, nasceu sem a mão esquerda por causa da banda amniótica (uma membrana no útero, que se ligava ao membro, impedindo o seu crescimento). Na semana passada, os dois tomaram uma decisão para que a filha brincasse com bonecas que a representassem e cortaram a mão de uma das bonecas de Melissa.
Como tudo começou?
Foi no quinto mês de gestação que Débora notou que tinha algo diferente durante a ultrassom morfológica de rotina. No exame, a médica percebeu que a bebê tinha uma alteração em um dos membros do corpo.
“Nos três primeiros meses, os exames mostraram que a Melissa tinha os quatro membros. Após o exame – já no quinto mês de gestação – a médica disse que notou algo com o membro, mas não disse mais nada. Pediu pra eu voltar dois dias depois para ser avaliada com uma outra médica”, contou Débora.
Ela não esqueceu: aqueles foram os piores dias da vida dela. “Eu não consegui dormir. Eu não sabia do que ela falava, ela também parecia bem assustada, afinal, em todos os laudos anteriores ela havia colocado a presença dos quatro membros e feito todas as medidas deles”.
Saber dessa notícia não foi fácil. Foram dias de choro, medo e também culpa. “Eu e meu marido. Choramos muito. Ficamos arrasados! Com medo do futuro, medo de como tudo seria. Medo de como ela viveria com essa diferença. E me senti culpada também, por ter gerado uma criança em meu útero que permitiu (não há explicação científica do porquê disso acontecer e nenhuma causa provável, simplesmente acontece com UMA a cada 1.200 mulheres) que isso acontecesse com ela”.
Associação Dar a Mão
Quando Melissa nasceu, o amor era enorme, mas a ausência da mão esquerda doía nos pais. Foi aí que eles conheceram o grupo Associação Dar a Mão que foi criada para apoiar e “dar a mão” para as famílias e crianças, adolescentes ou indivíduos que nasceram com Agenesia de Membros (deficiência física), afetados pela Síndrome da Brida Amniótica, Simbraquidactilia ou outras síndromes/ doenças raras, ou que sofreram amputações.
“Eu vi que o que eu sentia era luto pelo membro perdido. A dor durou exatos 30 dias. Com o apoio do grupo e com os relatos das mães que tiveram filhos com agenesia de membro(s), superei todo tipo de sentimento ruim e de medo que eu tinha com relação ao futuro da minha filha. Foi ali, através de histórias compartilhadas diariamente, que vi que essa diferença não a impediria de nada. E o que eu senti era super normal”, contou.
Hoje, o pensamento dos pais é outro. Para eles, a Melissa é uma criança normal. “Sei que na infância, grande parte do que ela vai ser e pensar sobre sua agenesia, partirá de nós, seus pais. Ela vai absorver o que pensamos e sentimos sobre isso, ter auto confiança e vencer obstáculos”.
Por causa disso, os pais decidiram acrescentar brinquedos que a representassem. Daí partiu a decisão de cortar a mão da boneca. “Falei sobre o que queria, meu marido amou a ideia e foi lá, e literalmente meteu a faca”.
Segundo ela, “isso deu a esperança de que a diferença de membros fosse representada no máximo de lares possível, em mais bonecas e bonecos espalhadas, criando assim crianças mais conscientes”.
Melissa não tem a mão esquerda, mas os pais lutam por ela a cada dia. “Me sinto totalmente diferente de como me senti logo na descoberta da agenesia. Me sinto confiante. Me vejo uma mãe capaz de ensinar minha filha a driblar qualquer adversidade. Me sinto forte para lutar contra o que for! Me sinto abençoada”.
Débora não tem dúvidas: ser mãe de Melissa a fez renascer. “Não trocaria absolutamente nada e viveria tudo de novo”.