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Brasil terá ‘boom’ de mulheres à frente do próprio negócio nos próximos dois anos, diz Ana Fontes

O trabalho dela inspira empreendedoras em todo Brasil. Eleita uma das 20 mulheres mais poderosas do País em 2019 pela revista Forbes, a empresária Ana Fontes prevê uma explosão no número de empreendimentos abertos por mulheres nos próximos dois anos no país com o aumento do desemprego e da crise econômica provocado pela pandemia do novo coronavírus.

Fundadora do Instituto Rede Mulher Empreendedora (IRME), Ana é alagoana, nascida em Igreja Nova, e na década de 1970, ainda criança, se mudou com a família para São Paulo, onde passou a viver, estudou e se formou em Publicidade e Propaganda. Após passar por grandes empresas e sentir na pele o que mulheres enfrentam num mercado de trabalho onde precisam se superar, onde nada parecia ser suficiente para que ela crescesse, Ana decidiu empreender. E não só! Ajudar mulheres, compartilhando conhecimento.

Em 2010, ela criou a Rede Mulher Empreendedora e em junho de 2020 lançou o Potência Feminina, um programa nacional que vai apoiar negócios comandados por mulheres. A iniciativa é em parceria com o Google.org e oferecerá capacitação, aceleração de negócios e capital semente.

O Eufemea conversou com Ana Fontes, que fala desse apoio e ao que ela atribui a explosão de empreendimentos femininos no País nos próximos dois anos.

“Primeiro ao cenário político do Brasil, que já antes da pandemia estava com dificuldades em manter empregos, e segundo ao Covid19, que fez com que milhares de pessoas fossem demitidas, entre elas, muitas mulheres que encontraram dificuldades com o fechamento das escolas. A corda arrebenta pro lado mais “fraco”, dizem não sem razão”, afirma Ana Fontes.

Ela lembra que “as mulheres, historicamente, ganham menos que os homens e as que têm filhos encontram menos espaço ainda neste ambiente formal e machista. No Instituto Rede Mulher Empreendedora até temos uma pesquisa que aponta que muitas mulheres decidiram empreender logo após serem mães, justamente por não se verem mais em uma estrutura que não levasse em conta suas especificidades”.

“Por conta disso tudo, a saída muitas vezes é empreender para ter mais autonomia e tempo para estar com os filhos. Para as que não são mães, as dificuldades de encontrar um emprego e de receber um salário justo em um país ainda muito machista, também as empurram para o empreendedorismo”, ressalta Ana Fontes.

Questionada se já é possível perceber os impactos da pandemia nos empreendimentos de mulheres, ela afirma: “Com certeza! Na última pesquisa que o IRME fez, em parceria com o Instituto Locomotiva, “As empreendedoras e o coronavírus – os negócios femininos no Brasil em meio à pandemia”, vimos exatamente isso. Os rendimentos diminuíram drasticamente, as dívidas aumentaram, a falta de perspectiva e de incentivos é uma realidade muito triste”.

Ana Fontes diz ainda que em determinados casos, há como a empreendedora se adequar ao momento e permanecer no mercado. Já em outros, será bem mais difícil e exigirá inovação.

“Para algumas pessoas é possível se adequar, por exemplo, as que tinham restaurantes e agora passaram pro delivery. Para outras áreas, não é tão fácil assim. Mas eu sugiro que essa empreendedora pesquise bastante, veja o que as outras pessoas estão fazendo, tente inovar, vender cupons para serem compensados após a pandemia e estudem. Sei que o momento é muito difícil, mas o estudo é algo que ninguém tira. E esses aprendizados com certeza poderão melhorar o seu negócio, tanto agora quanto no futuro. Na RME [Rede de Mulheres Empreendedoras] estamos com inúmeros programas de apoio à empreendedora e também estamos apoiando instituições que também estão agindo nesse sentido”.

As dificuldades são muitas e acabam levando à desistência. Ela cita como barreiras o “acesso a crédito, conhecimento de negócio e da jornada empreendedora, que é cheia de altos e baixos mesmo, falta de apoio da família, entre outros”.

Redes sociais e networking
“Para se manter no mercado, eu diria que estar atenta ao redor, estudar bastante, saber o que tem de novo, para que essa empreendedora acompanhe. Vou dar um exemplo: muitas empreendedoras não estavam nas redes sociais antes da pandemia. Com todo esse cenário elas souberam que é indispensável estar nesses espaços, seja com o objetivo de continuar o contato com os clientes ou de conseguir novos compradores”.

“Outra coisa que eu sempre falo é que essa empreendedora precisa conhecer pessoas. O quem indica é muito forte e há formas de se beneficiar dessa rede, desse networking. Participar de eventos é uma ótima forma de conseguir esses contatos, falar do negócio e conhecer outros que podem ser muito relevantes para essa empreendedora”, orienta Ana Fontes.

Quanto a um ramo específico que deverá crescer mais no quesito empreendedorismo feminino nos próximos dois anos, ela afirma que não há como prevê. “Não sei responder a essa pergunta. Está tudo tão incerto! O que eu posso falar é que nessa pandemia as empreendedoras do ramo da alimentação conseguiram bastante destaque”.

Independência, autonomia, tempo com a família são alguns fatores. A maternidade, como apontam pesquisas, é um motivo importantíssimo também, diz Ana Fontes sobre o que leva mulheres a empreender. E afirma ainda que não há distinção em relação a habilidades para mulheres empreendedoras em vulnerabilidade ou não.

“As habilidades que são importantes tanto para mulheres em situação de vulnerabilidade, quanto para mulheres com uma condição melhor, são: autoconhecimento e confiança, para que elas saibam seus limites, saibam onde querem ir e quais os caminhos que precisa trilhar. Confiança para saber chegar, saber falar de si e de seu produto e serviço e cobrar o preço que ela merece. Esses dois principais abrem muitas portas e pode ajudá-las a conquistar autonomia sobre suas vidas e seus negócios”.

O Eufemea questionou se no Nordeste a situação é mais difícil para o empreendedorismo feminino ou não.

“Eu diria que alguns estados, não todos, ainda são muito machistas, ainda não acreditam, no geral, no potencial da mulher e precisam caminhar para um ambiente que seja propício para esse tipo de empreendimento pelo bem deles próprios e da mulher. Você consegue observar essa falta de apoio público e pessoal por meio de políticas e dados de mulheres que empreendem e ganham rendas justas por isso, além de dados de violência contra a mulher, por exemplo”.

Abaixo, ela fala sobre o programas que idealizou e desenvolve para ajudar mulheres.

– Ana, como fundadora do Instituto Mulher Empreendedora, me fala sobre de onde surgiu a ideia, do que se trata, qual o objetivo e os resultados já alcançados.

O Instituto Rede Mulher Empreendedora foi criado em 2017. Ele é o braço social da Rede Mulher Empreendedora – RME e está apoiado em valores como igualdade de gênero, oportunidade para todos, educação, capacitação acessível e colaboração social. O foco é capacitar mulheres em situação de vulnerabilidade social em todo o Brasil. Estamos conseguindo! Falo isso com muita alegria porque não é um caminho óbvio e fácil.

Os resultados é que pelo programa Ela Pode, feito com o apoio do Google, com o objetivo capacitar 135 mil mulheres brasileiras a criar oportunidades econômicas, tornando-as confiantes e preparadas para o autodesenvolvimento pessoal e profissional, já conseguimos capacitar mais de 80 mil mulheres de todo Brasil!

Também temos um projeto em andamento, o Heróis Usam Máscaras, que já remunerou mais de 5 mil profissionais de costura (maioria mulheres) que produziram mais de 9 milhões de máscaras. As máscaras estão sendo distribuídas gratuitamente em comunidades em situação de vulnerabilidade social também.

E agora temos o Potência Feminina, que pelos próximos dois anos pretende impactar a vida de 50 mil mulheres.

– E o Potência Feminina, do que se trata? Está entrelaçado ao Mulher Empreendedora? O que vocês esperam a partir deste programa? Surgiu também da situação de crise causada pela pandemia?

O Instituto Rede Mulher Empreendedora (Instituto RME), com apoio do Google.org, o braço filantrópico do Google, lançou o Potência Feminina motivado pelo cenário de pandemia que está afetando milhares de mulheres e seus negócios. O programa é nacional e vai apoiar negócios liderados por mulheres por meio de capacitação, aceleração de negócios e capital semente. Além do apoio a negócios, a ação visa também capacitar mulheres nos temas de empreendedorismo, empregabilidade e tecnologia. O Potência Feminina conta com uma doação de aproximadamente R$ 7,5 milhões e vai auxiliar diretamente mais de 50 mil pessoas pelos próximos dois anos.

As capacitações, previstas vão acontecer em 10 regiões periféricas do país. Para aplicar essas capacitações, o Instituto RME treinará tutoras locais, fornecerá computadores e internet a OSCs locais onde serão ministrados os cursos, à distância e presenciais, além de remunerar a equipe envolvida durante a duração do projeto.

Niviane Rodrigues

Niviane Rodrigues

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