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De Rita para Raí: a história de um intersexo alagoano que lutou pela verdadeira identidade

Já imaginou nascer mulher, mas ter a sensação de que você não é mulher? Foi isso que aconteceu com Rita. Alagoana, formada em Direito, filha de militar e de uma professora. Ela se olhava no espelho e não se reconhecia mulher. Mas isso ia além: Rita tinha os dois órgãos genitais e faz parte de 1% da população que é intersexo. O Eufêmea traz a história de Raí Albuquerque, 54 anos, que contou sua história e como lidou com o preconceito.

Hoje, Rita é Raí. Mas para chegar até a mudança de nome e gênero foi um longo caminho. Estudos mostram que em um em cada mil crianças, não é possível determinar a olho nu se o aparelho reprodutor é de um menino ou de uma menina. 

Raí conta que sofreu preconceitos durante toda vida e que desde criança sabia que não era uma menina.

“Eu soube quando me colocaram para dançar com um menino e eu não quis. Passei por diversos preconceitos, principalmente quando eu ía ao banheiro e diziam que lá não era o banheiro feminino”, disse. Ele ainda contou que foi chamado por anos de lésbica porque ninguém entendia a aparência dele.

Com a voz grossa, pêlos, barba e bigode, Raí teve câncer de tireóide e procurou uma médica endocrinologista que se interessou pelo caso e pediu vários exames porque percebeu uma disfunção hormonal. “Retirei o câncer, fiz o tratamento e de acordo com os exames, a doutora constatou que eu tenho um problema no cromossomo 23 – que é quando a pessoa nasce – e eu sou o XXY – o famoso intersexo”, explicou.

Raí aos 54 anos

Só que foi a chegada de um câncer de mama que mudou a história dele. “Provavelmente a doença que eu tive foi por causa da disfunção hormonal”. Com o câncer mama, Raí retirou os seios.

Após a doença, ele procurou uma advogada  e deu entrada na Justiça, com os laudos médicos, para mudança de nome e gênero. “Em seis meses, saiu à retificação e correção do meu sexo. Hoje me chamo Raí”.

Para ele, a Rita era um personagem que “ele tinha que representar a sociedade”. “Por isso é um erro muito grande na concepção de uma criança as pessoas perguntarem se é menino ou é menina, só deveria acontecer isso depois que se tivesse certeza do sexo biológico e da identidade de gênero de cada um”, enfatizou.

A vida dele mudou depois da mudança de gênero e nome. “Hoje em dia as pessoas me enxergam como homem e me sinto muito melhor”. Mas sabe que o preconceito ainda existe. “Quando o homofóbico se aproxima, ele não quer saber qual gênero pertencemos”, contou.

Raí hoje em dia é aposentado, tem 54 anos e é o único intersexo de Alagoas. Ele também já foi convidado para palestrar sobre a vida e sobre o que é ser intersexo.

E a luta dele não acabou. Agora, ele quer a mudança na certidão de batismo, único documento que ainda consta o nome de Rita.

“O que prevalece é a decisão judicial que manda trocar meu nome e sexo. Será uma conquista se tiver essa troca”.

Por fim, Raí diz que muitas pessoas ainda são preconceituosas, mas deixa uma reflexão. “Se diz que a Criação é a perfeição e ser intersexo é algo genético, em que lugar fica a fala dos ortodoxos que dizem que o trans, a lésbica e o gay quer forçar uma situação? Eu não forcei nada, foi Deus que me criou assim. O intersexo quebra essa fala, inclusive”, finalizou.
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Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.