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“É muito difícil quebrar o silêncio”, diz psicóloga sobre casos de violência sexual contra crianças e adolescentes

“Como a violência sexual ocorre na maioria das vezes dentro do núcleo familiar e muitas vezes não ocorre isoladamente, é muito difícil realizar a quebra do silêncio”. Foi assim que a psicóloga Ana Laura de Moura Reis da Secretaria de Prevenção à Violência (Seprev) classificou os casos de violência sexual contra crianças e adolescentes.

A psicóloga disse que a maioria das vítimas é do sexo feminino e hipossuficientes economicamente. “Não é que não haja casos em crianças e adolescentes de classe média e classe média alta, mas estigmatização faz com que esses casos muitas vezes sejam subnotificados”, justificou.

De acordo com a Seprev, em sete meses, o Instituto Médico Legal atendeu 130 crianças e adolescentes que foram vítimas de violência sexual em Maceió. 50% dos casos de abusos ocorrem na faixa etária de 10 a 14 anos.

Em 2019, foram 609 atendimentos e em 2020, 130. Isso não significa que o número está reduzindo. Pelo contrário, a psicóloga do Núcleo de Atendimento de Crianças e Adolescentes Vítimas de Violência da Seprev, Ana Laura, alertou que apesar de ter essa “redução”, não significa dizer que os casos de violência não estejam ocorrendo.

Devido à pandemia, de acordo com Ana, as vítimas estão tendo dificuldade muitas vezes de realizar a denúncia. “Estatisticamente a violência  é  intrafamiliar, portanto o pacto do silêncio que pode ocorrer de diversas formas, como chantagem, ameaças, violência física,  fica mais  acentuado quando a vítima está confinada por boa parte do dia ao lado do criminoso. Então pode ser que quando esse período de isolamento social termine, aumente as notificações. Isso terá que ser avaliado posteriormente”, afirmou.

Quando as vítimas chegam ao IML é realizado o acolhimento da vítima e seus familiares. “Além disso é  feita a sensibilização para realização do exame de corpo de delito, visto que muitas vezes essa vítima está muito abalada emocionalmente”, disse a psicóloga.

Em um segundo momento é realizado o encaminhamento para a Rede de Proteção, incluindo o Núcleo de Atendimento à  Criança e ao Adolescente. “Então quando recebemos essa vítima no NACAVV, realizamos atendimento psicológico por até 6 meses, podendo ser prorrogado a depender do caso. Realizamos também visita domiciliar, atendimento social e jurídico, onde orientamos e tiramos dúvidas  dos responsáveis”, explicou Ana.

Por fim, Ana deu dicas para que sejam identificados os sinais que apontam se a criança ou adolescente está sendo vítima de violência.

INDICADORES FÍSICOS

• Roupas rasgadas ou com manchas de sangue;

• Hemorragia retal ou vaginal;

• Secreção vaginal ou peniana;

• Infecção urinária;

• Dificuldade de caminhar;

• Dores pélvicas;

• Hematomas ou escoriações pelo corpo;

• Infecções/doença sexualmente transmissíveis.

INDICADORES COMPORTAMENTAIS/PSICOLÓGICOS

• Mudança brusca de comportamento ou humor;

• Transtorno alimentar;

• Perturbação no sono;

• Timidez em excesso;

• Medo de ficar sozinha com alguém em algum lugar;

• Sexualização precoce;

• Comportamento incompatível com a idade (regressão)

• Automutilação;

• Tentativa de suicídio.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.