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Abrace o Biu: jornalista cria projeto para contar boas histórias sobre o bairro: “Quero que moradores sejam vistos”

Foto: Jon Lins

O bairro do Benedito Bentes é o maior da parte alta de Maceió. Ele é considerado um bairro da periferia e muitas notícias negativas são divulgadas sobre ele na mídia local. Violência, assaltos, homicídios. As manchetes dos jornais sempre trazem esse tipo de conteúdo sobre o Benedito Bentes, o Biu, como é chamado. Mas será que o local é tão ruim assim? Foi com o propósito de mudar a imagem do bairro que a jornalista Dayane Laet criou o projeto ‘Abrace o Biu’ para contar boas notícias e histórias dos moradores com o objetivo de melhorar a autoestima deles.

Moradora do bairro mais populoso de Maceió há 8 anos, Dayane disse que o bairro foi se expandido com o passar dos anos. “No começo, quando comecei a morar no Biu, não tinha quase nada, mas agora nós temos”.

Entretanto, ao falar que morava no Benedito Bentes, ela sempre ouvia duas coisas: “que o Benedito é o fim do mundo e que é perigoso”.

E ela acredita que uma parcela de culpa é da imprensa para que as pessoas pensem assim. “Porque só sai notícias ruins sobre o Benedito Bentes. Então eu percebi que o bairro tinha um comércio forte, terminal de passageiros grande, e aí fui vendo que o ‘Biu’ é maior do que muitas cidades do interior”.

“Nós temos indústria, nós temos a Coca, temos a Ambev, o shopping. Nós temos uma estrutura que sobrevive com recursos próprios”, citou.

Mas a jornalista disse que nada disso é visto já que as pessoas, quando falam do Benedito Bentes, só enxergam o lado negativo. “E na realidade, o perigo está em todos os bairros. Aqui as pessoas são simples. Então você meio que se acostuma com a juventude, com a cultura dele, o jeito que eles se vestem”, reforçou.

Dayane confessa que também tinha uma resistência para andar pelo bairro, mas quando ela começou a conhecer mais o local que morava, entendeu que ele não era o que as pessoas falavam.

“À medida que eu comecei a andar pelo bairro, conversar com as pessoas, percebi que existiam vários personagens interessantes que precisavam ser mostrados”, destacou.

O que é o Abrace o Biu?

E foi nessa ideia de mostrar o lado bom do bairro que nasceu o projeto. “A situação está tão difícil para todos nós que pensei em fazer algo diferente. Quero que as pessoas do bairro possam ter a autoestima melhorada para que elas se enxerguem”.

Dayane define o ‘Abrace o Biu’ como uma vitrine para quem tem interesse em conhecer coisas novas e a cultura local.

Nas andanças da jornalista, ela já descobriu de tudo um pouco no Biu: poetas, roda de samba, capoeira, músicos, entre outros. “Só que é uma galera muito humilde, sabe? Então, eles precisam ser respeitados. O projeto é para trazer a autoestima dos moradores e mostrar que aqui não é só violência. Quero que eles sejam vistos”.

A jornalista também enfatizou que os índices de criminalidade caíram pela metade no bairro nos últimos três anos, conforme dados, mas parece que as pessoas ainda não querem enxergar isso. “Elas querem saber quem morreu, quem teve a cabeça arrancada. Mas o bairro é muito mais que isso”, comentou.

Para que as pessoas conheçam as histórias e o que o bairro tem de bom, Dayane criou um perfil no Instagram (@abraceobiu).“Entrevisto personagens incríveis e fico pensando que o bairro tem vida, mas ele não é exposto. Então quero mostrar aos próprios moradores o que eles têm de valor, o que eles estão fazendo. Para que as pessoas não tenham mais preconceito com o bairro”, finalizou.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.