Colabore com o Eufemea
Advertisement

Mulheres raspam a cabeça para apoiar amiga com câncer em Maceió: “Raspamos porque a amamos”

Até onde você iria por uma amiga sua? Você já pensou nisso? A auxiliar de serviços gerais, Glecia Pereira da Silva, de 50 anos, não imaginava o quanto era amada até receber o diagnóstico do câncer de mama. Junto com a fase difícil e a queda do cabelo provocada pela quimioterapia, veio um apoio marcante por parte de três amigas dela que rasparam a cabeça em solidariedade à amiga.

O Eufemea traz a história de Glecia, Cely Chrystian, Mônica Souto e Francirrégida Campos. As quatro se conheceram após trabalharem juntas em uma escola situada no bairro do Clima Bom, em Maceió.

Francirrégida, ou apenas Régida, é coordenadora pedagógica da escola. Cely é diretora da instituição. Glecia e Mônica trabalham como serviços gerais.

Glecia contou à reportagem que trabalha há 12 anos na escola. Foi daí que se formou a amizade entre as quatro. 

A descoberta do câncer

Glecia descobriu que tinha câncer de mama após notar que tinha algo estranho na mama esquerda. “Só que eu tinha 38 anos quando comecei a ter a sensação de algo diferente. A minha médica disse que eu não tinha idade para fazer a mamografia, mas após insistir bastante, eu fiz o exame e deu tudo normal”.

Mesmo assim, Glecia achava que algo não estava certo. Quando completou 40 anos, a alagoana continuou repetindo as mamografias que não acusavam nada. 

“Aí em 2019, eu fiz a mamografia em outubro. Em março de 2020, senti um incômodo e procurei um médico. Mas por causa da pandemia, muitos médicos estavam afastados”, contou.

Glecia procurou um médico particular, repetiu os exames e descobriu o câncer. “Eu achava que era na mama esquerda, mas ele estava na mama direita”. Após o resultado, a auxiliar de serviços gerais foi encaminhada para um oncologista e iniciou o tratamento com a quimioterapia pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A queda do cabelo

Foto: Cortesia ao Eufemea

“Estava muito inchado meu seio, então resolveram tratar com a quimio. Eu tinha feito uma selagem no cabelo, por isso meu cabelo caiu mais rápido do que o normal”. Em setembro, Glecia iniciou o tratamento, mas em 15 dias o cabelo já havia caído.

Foi aí que ela pensou em raspar a cabeça. “Chamei meu sobrinho que é cabeleireiro e raspei no dia 14 de outubro”.

Dois dias depois, Glecia recebeu um telefonema. “Elas me disseram que chamasse meu sobrinho que elas tinham uma surpresa pra mim”.

Surpresa que emocionou e marcou a vida delas. Foi na casa de Glecia que tudo aconteceu. As amigas deram adeus aos cabelos. O momento foi marcado por lágrimas, sorrisos, abraços e muito amor.

Ao Eufemea, Glecia disse que sabia o quanto as amigas gostavam dela, mas não imaginava o quanto seria. “Eu não sei se eu seria capaz de ter tanta empatia, sabe? Fiquei surpresa com todas, mas principalmente com a Cely por causa da hierarquia. Ela é diretora da escola e eu não imaginava que chegaria a isso”.

O amor por Glecia

“Vejo na Glecia uma pessoa muito forte, destemida e vaidosa”. É assim que Cely definiu a amiga. Quando soube que Glecia tinha perdido o cabelo por causa da quimioterapia, Cely notou que ela ficou abalada. “Eu admirei essa coragem, força e garra, pois sei que não é fácil se desprender da moldura do nosso rosto, o reflexo da nossa vaidade”.

A diretora confessa que teve medo de ‘perder’ o seu cabelo, mas sabia que o amor que sentia por Glecia era maior. “Nós mostramos para ela que o cabelo não é mais importante do que o apoio das pessoas que estão ao nosso redor. Foi por isso que raspei a minha cabeça”.

“Me vi também como vejo a Glecia: forte, corajosa e linda mesmo sem cabelo, pois cabelo não é tudo, o amor sim”, enfatizou. A atitude de Cely também foi copiada pela filha mais velha, de 12 anos, que decidiu cortar o cabelo e doar para Glecia.

Foto: Cely e a filha de 12 anos.

Para Régida, Glecia é uma mulher que sempre cuidou das pessoas. Raspar o cabelo, segundo ela, foi um desafio, já que o cabelo é um símbolo de beleza feminina e de poder. “Algo que a sociedade rotula que se a mulher raspar a cabeça ou está doente, ou é referente a opção sexual, nunca como uma vontade ou desejo de mudar de ficar diferente”.

Régida raspando a cabeça. Foto: Cortesia

E acrescenta: “Raspamos porque a amamos e cuidamos de quem amamos”.

Amizade além do cabelo

A auxiliar de serviços gerais, Mônica Souto, não faz mais parte do mesmo trabalho que Glecia. Mas a amizade não mudou. “Conheci todas elas no ano passado quando comecei a trabalhar na escola. Saí de lá em abril deste ano, mas a amizade não mudou”.

Foto: Cortesia. Mônica no dia que raspou o cabelo.

Pelo contrário, Mônica afirma que elas são amigas em todos os momentos. “Não foi só raspar o cabelo.  Nós também a acompanhamos na quimioterapia”.

Glecia ainda está fazendo o tratamento contra o câncer, mas sabe que amor não falta. A atitude das quatros impressiona e emociona quem sabe da história. “As pessoas dizem que é difícil encontrar uma amizade assim”, finaliza Mônica.

Picture of Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.