Durante o feriado natalino, ao menos três feminicídios ocorreram no país. Em cidades distintas, em momentos diferentes, mas de uma forma igual: Anna Paula, Thalia e Viviane foram mortas por ex-companheiros. Esse feriado mostrou bem o retrato do feminicídio no Brasil e o quanto ainda precisamos avançar.
Dados levantados pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam que quase 90% das vítimas de feminicídio no Brasil são mulheres mortas por ex-maridos ou ex-companheiros.
Ontem, enquanto pensava em escrever um texto sobre os casos, vi o penúltimo episódio de ‘Bom dia, Verônica’, uma série que está disponível no Netflix. Ao longo da série, Verônica tenta salvar e alertar Janete – uma mulher que sofre violência do marido – de que ele não vai mudar e que ela precisa denunciar.
Acontece que em muitos momentos da série, Janete diz que ela é culpada pelo marido fazer aquilo com ela e outras mulheres. E que sim, ele vai mudar. Mas ele não muda. E o fim dela era ‘previsto’.
Eu imagino o que uma mulher que sofre violência pensa e vive. A negação, a frustração, a esperança de que aquele homem vá mudar. E as que conseguem denunciar, levar o caso adiante, muitas vezes não encontram apoio dentro da própria família. Não encontram Justiça, sabe? E no meio do caminho… só julgamentos de pessoas que sempre acham uma maneira de dizer que a culpa é da vítima.
E os ex-companheiros que não aceitam o fim do relacionamento (acho terrível isso de não aceitar algo), machistas, querem exercer um ‘poder’ sobre as mulheres e por isso matam. E nós, mulheres, sentimos que os criminosos ficam impunes.
A sociedade machista perpetua a violência contra as mulheres e o Judiciário precisa fazer a sua parte. Não basta apenas ter a Lei Maria da Penha para que este cenário mude. É preciso ir além com novas medidas e que a Justiça tenha pessoas comprometidas em dar um basta nesse ciclo de violência.
No caso da juíza Viviane Vieira, muitos comentários recaíram sobre ela, já que Viviane retirou a queixa após o pedido de uma das filhas. Mas é aí que o Judiciário deve entrar. E alertar que é preciso que ela continue com a medida protetiva. É aí que nós, mulheres, entramos! Quando aconselhamos nossas amigas para que elas denunciem e apoiamos elas nesse momento. Não é apenas falar e deixar para lá.
Dito tudo isso, reforço mais uma vez e deixo um recado para as mulheres que são vítimas de violência, ou que vivem uma relação abusiva: o seu companheiro não vai mudar. A culpa não é sua, busque ajuda especializada, denuncie, conte para uma amiga que você confia e peça ajuda a ela. Não espere para amanhã. Porque o amanhã pode não chegar.