Ela veio de um lar violento, onde a mãe foi vítima de violência doméstica. Na época, a mãe de Júlia Nunes não tinha apoio jurídico, financeiro e psicológico. Foi vendo essa realidade que a mãe sofria que a alagoana Júlia Nunes decidiu fazer o curso de Direito para ser advogada e ajudar as vítimas de violência. Já formada, a advogada não deixou de lado o sonho, criou a Associação Para Mulheres (AME) e é presidente da entidade.
Ao Eufemea, a presidente da AME Júlia Nunes, 32 anos, disse que cresceu com a sensação de que tinha que fazer algo por essas mulheres, já que não queria que elas passassem pelo que a mãe passou. “O sonho da minha mãe era ser advogada e eu acabei me tornando advogada; o sonho dela era poder ajudar essas mulheres que vivem a mesma situação que ela viveu, e eu realizei”, disse.
No início, a advogada achou que ia resolver o problema do mundo se ajudasse – juridicamente – essas vítimas. “Mas eu estava muito enganada”, desabafou.
Júlia disse que nos primeiros seis meses, atendeu muitas mulheres, conseguiu algumas prisões e tinha a sensação que tinha resolvido o problema daquela mulher. “Mas elas simplesmente desapareciam. Abandonavam a causa”.
Foi aí que ela percebeu que o problema não estava só no acesso à Justiça, mas também era questão de dependência emocional e financeira.
Júlia decidiu chamar uma amiga para ajudá-la e disse que uma das vítimas era tia dela. “Ela começou a fazer o acompanhamento psicológico, mas eu tive que inventar essa história porque eu não aguentava mais”. Depois, a advogada contou a ideia dela e o propósito com essas mulheres.
A união de Júlia e da amiga resultou na AME. Segundo Júlia, o atendimento psicológico foi fundamental para a construção da Associação.
“Fomos crescendo. Com o atendimento psicológico nós fomos descobrindo que essa mulher precisava de medicação porque ela tinha síndrome do pânico, bruxismo, enfim. Então nesse contexto entendemos várias situações”, reforçou.
Apoio e referência no Estado
A Associação Para Mulheres (AME) foi lançada em 2019 e cresceu com o passar dos anos. Com o apoio de outras pessoas, a AME conta com 130 pessoas no total que buscam fortalecer o público feminino de maneira psicológica e financeiramente, incentivando-o a prosseguir com as denúncias.
Como referência em Alagoas no combate à violência doméstica, Júlia disse que faz o que ama e sente que Deus deu essa missão para ela. “Eu sinto que é só o começo. Vou unir ainda mais pessoas para modificar a realidade pelo menos no estado de Alagoas”.
Ela diz que não se sente como referência, mas garantiu que é uma sobrevivente porque conseguiu quebrar o ciclo da violência que esteve presente na casa dela e na vida pessoal.