A alagoana Rafaella de Jesus Pessoa Rangel encontrou muitos obstáculos nas empresas por ser surda, mas isso a impulsionou a fazer algo para mudar esse cenário. Ela decidiu cursar Recursos Humanos no Centro Universitário Tiradentes (Unit/AL) e se tornou a primeira surda de Alagoas a se formar em Gestão de Recursos Humanos.
Ao Eufemea, Rafaella contou que encontrou muitas dificuldades principalmente nos setores de RH das empresas que ela trabalhou. “Essa foi a principal razão da escolha do curso. Eu quero ajudar meus pares surdos a serem incluídos no mercado de trabalho”.
O início da graduação parecia difícil, mas ela não desistiu. “A faculdade é bem mais complexa que o ensino médio e quando ia ler artigo não tinha em libras”.
Entretanto, a dedicação dela junto com a intérprete de libras Flávia Araújo fez com que Rafaella conseguisse permanecer no curso e derrubasse as barreiras existentes.
Segundo ela, ser a primeira surda formada em RH tem seu lado bom e ruim.
Tradutora foi essencial nesse processo
E quem cruzou o caminho de Rafaella foi a Tradutora Intérprete de Libras, Flávia Araújo. Ela disse ao Eufemea que o auxílio se dava por meio de conversas mediadas e aulas interpretadas para a Libras. “Bem como, tradução para o português oral e/ou escrito as falas da Rafaella”.
E a intérprete não a abandonou em nenhum momento. Flávia explicou que o maior aprendizado para ambas foi poder trabalhar a inclusão no puerpério da Rafaella.
“Precisei sentar com a gestora do núcleo de inclusão da Universidade que ela estudou e amarrar alguns pontos pra conseguir fazer ela se sentir incluída e não perder nenhum conteúdo estando em casa. Foram dias de gravação de vídeos em libras, edição, contato com os professores (que foram muitos sensíveis com ela) e aulas, atividades gravadas para ela”, contou.
E apesar de todos os desafios, deu tudo certo. Rafaella conseguiu se formar. Para Flávia, vivenciar esse momento da formação dela trouxe uma “confusão de emoções”. A tradutora também reforçou a importância de Rafaella para a comunidade surda que luta por uma sociedade mais inclusiva.
“Nós que fazemos parte da comunidade surda sabemos o quanto eles lutam por uma sociedade inclusiva e por uma visibilidade em todas as áreas, como toda pessoa ouvinte também luta. A conclusão de um curso de nível superior representa muito para a comunidade. Principalmente ela que é uma mulher surda, nordestina e a primeira de Alagoas a se formar em Gestão de RH. Poder fazer parte dessa conquista como mediadora principal, não tem preço, é indescritível”.
Agora, já formada, Rafaella disse que vai lutar por um mercado de trabalho mais inclusivo. “Meu sonho é poder entrar no mercado e ajudar os outros”. E deixa uma mensagem de esperança para quem faz parte da comunidade surda, mas se sente inseguro: “Busquem seus sonhos e não desistam. Vocês conseguirão”, comentou.