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Normalizar o caso ou passar pano para o Nego do Borel é compactuar com estupro

Foto: Reprodução

O caso envolvendo o cantor Nego do Borel e a modelo Dayane Mello repercutiu ontem nas redes sociais após os vídeos (dos dois na cama) terem sido vazados. A modelo — visivelmente alcoolizada — pede para que o cantor (que estava deitado do lado dela) “parasse”. Mas ele continua.

É óbvio que na internet todos reagiriam. Depois de muita repercussão, ele foi expulso. Parece uma sensação de Justiça, mas não é. Após a expulsão começou o julgamento de “a culpa foi dela”. Sim, na cabeça de muitas pessoas, a culpa é da vítima.

Dayane estava bêbada e no seu depoimento, ela diz não lembrar de algumas falas e até afirma que não houve nada abusivo. E aí que já entra o tribunal do júri online. Muitas mulheres e homens dizendo que Dayane provocou algo.

Recordo-me que uma amiga, certa vez, estava em uma festa de casamento e bêbada. Um rapaz queria ficar com ela e não tinha conseguido a noite inteira, mas na hora de ir dormir, ele deitou ao lado dela e a forçou a fazer sexo.

Sim, a forçou. Ela não queria fazer, mas ele ficava insistindo, beijando, tirando a roupa dela. E isso é estupro porque praticar ato sexual contra uma pessoa embriagada é crime.

Quando ela me contou no dia seguinte, eu disse que aquilo estava errado, mas ela não viu assim.

É natural que após uma situação assim a vítima não entenda bem o que aconteceu. Então começa um processo de culpa interna. “Será que eu não fiz algo e dei a entender que queria isso?”; “Será que eu não estou errada de alguma forma e a vítima é ele?”. 

Infelizmente, o caso da minha amiga e da Dayane não é diferente. Ambas achavam que foi algo ‘natural’ e não pararam para assimilar o que de fato tinha acontecido. Até porque parar para analisar isso dói. 

E também dói precisar explicar o que é consentimento e que um homem decente NÃO se aproveita da situação de uma mulher que está incapaz de decidir algo. Independente se ela quis ficar com ele ou não.

Quantas mulheres não passaram por isso? Quantas mulheres preferiram o silêncio porque o julgamento é pior? Quantas mulheres perceberam agora, com o caso da Dayane, o que aconteceu de verdade?

É preciso que as pessoas entendam de uma vez por todas que isso é crime. Normalizar ou passar pano para homem abusador é compactuar com estupro.

NÃO É NÃO! Tudo fora do consentimento é estupro.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.