Nascida em Maceió, Mãe Graça de Oxum é dirigente de um templo de Umbanda chamado ‘Cabocla Jurema e Caboclo Ubirajara’ que fica situado no bairro do Barro Duro, na capital. Se ser mulher por si só já é considerado difícil, imagine ser mulher e comandar um tempo de umbanda na capital. Ao Eufemea, Mãe Graça de Oxum contou um pouco da sua trajetória, as intolerâncias que viveu e analisou o cenário relacionado à matriz africana em Maceió.
“Sou filha adotiva criada por uma família católica, mas apesar dos dogmas cristãos, sempre tive uma relação muito intensa com a Umbanda e o Candomblé”, disse a dirigente.
Segundo ela, a mediunidade sempre foi considerada forte e ela sentiu que pertencia a outras religiões. “Essa busca por pertencimento me levou até a Umbanda, onde fui recebida, cuidada e onde finalmente tive a sensação de estar em casa”.
Quem é de religião matriz africana sabe que a intolerância religiosa atinge mais membros da religião do que qualquer outra. Segundo mãe Graça, ela já sofreu intolerância de muitas maneiras — das mais simbólicas até as mais veladas –.
“Já vi minhas filhas sendo hostilizadas na escola. Tive problemas com vizinhos intolerantes, ataques à nossa propriedade (minha e do terreiro)”, explicou.
Mulher e dirigente de um terreiro
De acordo com ela, ser mulher negra de pele clara e dirigente de um terreiro é um desafio diário. Na avaliação dela, isso se dá devido ao país que é ‘extremamente machista, racista e intolerante’. “Essas repulsas às religiões de matriz africana estão presentes em inúmeras práticas de pessoas desinformadas e intolerantes que expressam seu preconceito e discursos de ódio cotidianamente”.
Falando de Alagoas, mãe Graça disse que o estado é marcado por intolerância e racismo religiosos no berço de sua história desde 1912, ano em que acontece o Quebra de Xangô, fato histórico de ataque, violência e perseguição às casas de axé, praticantes e sacerdotes de matriz africana que resultou em um século de apagamento e silenciamento das manifestações religiosas e culturais afro-alagoanas.
Por fim, mãe Graça disse que vê o cenário relacionado às religiões de matriz africana como um cenário dinâmico e fluido. “Não estático”. Para ela, o povo tem um axé forte que resiste.
“O povo de axé de Alagoas está em constante movimento pela defesa de nossas pautas. Historicamente, Alagoas é marcada por episódios de repressão, como citei anteriormente sobre o Quebra de Xangô em 1912. Mas percebo que é formado por um povo de axé forte que resiste diariamente em suas práticas e cultos religiosos diversos. Esse povo ocupa os espaços públicos da cidade gradativamente, reivindicando o respeito, a tolerância, o fim do racismo, da violência religiosa e resgatando a memória de inúmeras figuras importantes que fizeram e fazem parte de uma história de resistência e defesa dos direitos dos povos de terreiro”, concluiu.