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Mulheres relatam momentos de dor e angústia após violência obstétrica: “Pior experiência da vida”

Foto: Jeoja/Arquivo Pessoal

O parto é o momento mais aguardado durante a gestação, mas em alguns casos, o que deveria ser marcado por alegria acaba se transformado em aflição e angústia por causa da violência obstétrica. As vítimas? As mães que sofrem agressão — seja física ou verbal — durante o parto ou no pré-natal.

Em um recente caso, a influenciadora Shantal foi vítima de violência obstétrica por parte do médico que fez o parto de sua segunda filha, em setembro. A mensagem foi divulgada na internet, após a influenciadora compartilhar os áudios com amigas.

O Eufemea entrevistou duas mulheres que sofreram violência obstétrica. Elas falaram sobre a experiência do parto que deixou consequências físicas e emocionais.

A maquiadora alagoana Jeoja Lucena relatou a ansiedade durante o processo para o parto, onde foi negligenciada após horas de extrema dor. A placenta, também chamada de “bolsa”, estourou às 10h, contudo a maquiadora ficou até às 13h aguardando assistência médica.

Ela estava acompanhada apenas de muita dor, já que seu marido não esteve presente devido a pandemia do novo coronavírus.

“Estava com muita dor e sentada em frente a um relógio porque não aguentava levantar. Eu via e sentia cada minuto, cada segundo que passava daquela dor”, relata.

Ela conta que durante as horas de espera, em nenhum momento a equipe médica prestou apoio emocional ou físico. Quando a médica chegou para realizar os procedimento antes do parto, Jeoja já estava sem forças, fraca e com muita dor.

“Eu estava gritando, gemendo de dor, nunca senti tanta dor em toda minha vida. Não sabia o que era dor até esse dia. Eu vi cada segundo passar sentada em frente a um relógio e imaginei várias vezes que meu filho fosse morrer”, lamenta.

Jeoja conta que a maternidade é bem conceituada na cidade de Maceió, inclusive o parto de seu primeiro filho aconteceu no mesmo local e além de ser bem atendida, também não passou por situação de negligência médica e violência obstétrica.

Após os procedimentos cabíveis, a médica afirmou que seria necessário realizar o parto com urgência ou a mãe poderia perder o bebê. “Fiquei muito nervosa e extremamente preocupada, comecei a chorar e só tinha forças para falar que se acontecesse alguma coisa com meu filho eu iria acabar com aquela maternidade”.

“Pior experiência que eu tive em toda minha vida”

Jeoja estava liberando uma grande quantidade de líquido meconial, matéria fecal estéril verde escura produzida pelos intestinos antes do nascimento, mas não foi comunicada sobre as causas.

Ela relata que durante o processo a equipe médica não falava nada, o único som no local era seu gemido de dor. Além disso, o filho nasceu engasgado e em seguida foi retirado da mãe durante horas.

“Quando ele nasceu eu não ouvi o choro, mas a anestesista avisou que ele nasceu engasgado. Após alguns segundos ouvi um grito e a médica comunicou que iria trazer o meu filho para me mostrar. Isso era umas 15h, mais uma vez tinha um relógio e eu via tudo que acontecia a cada minuto, eu só fui ver meu filho às 18:49. Durante todo esse tempo eles não trouxeram meu bebê, não deram notícia nenhuma. Foi péssimo a pior experiência que eu tive em toda minha vida, eu não desejo isso para ninguém”, explicou.

Parto forçado

Já a outra mãe identificada como Patrícia contou à reportagem que foi instruída pelos médicos para que seu parto fosse normal, no entanto não foi comunicada sobre os riscos que corria. Os últimos três meses do parto foi o período da pandemia, entre abril até junho, onde ela ficou sem assistência médica, pois todos os médicos ficaram afastados.

Ela expôs que a barriga era enorme, e a última gestação mostrava que o parto poderia ser antes do previsto, pois o bebê era grande. No dia 22 de maio a mãe foi atendida por uma médica particular da cidade, onde realizou uma ultrassom, na qual o bebê estava pesando 3,1kg.

“Há cinco anos tive um filho de parto normal que nasceu com 3,300kg, então pensei que iria conseguir ter esse outro bebê normalmente. Essa obstetra não me explicou nada, mostrei todas as ultrassons pra ela, onde mostrava que meu bebê era grande, não me disse dos riscos que eu corria”, diz.

Violência durante o parto

No dia do parto, Patrícia sentiu muita dor devido ao tamanho do bebê, ela pediu diversas vezes para ficar no soro e a equipe médica negou alegando que não seria necessário. Após uma hora de dor, onde o bebê já estava em sofrimento, a parteira chamou o médico de plantão para ajudar.

“Quando o médico chegou foi muito rápido, uma violência tão grande, ele fez aquele corte horrível, que dilacerou tudo, e empurrou minha barriga, quase que subiu em cima dela, e puxou o bebê com violência e rapidez”, contou.

A mãe relata que depois do parto ficou de pernas abertas por mais de uma hora para costurar a região que foi agredida. No entanto, o médico foi almoçar e as parteiras avisaram que somente ele iria costurar. Ela conta que ficou seis horas sem levantar e teve anemia após o parto.

Consequências: fisioterapia e bexiga baixa

Na hora do parto seu filho apresentou um problema físico, o pediatra percebeu que o braço esquerdo não mexia igual ao direito. Em seguida do raio-x, o bebê foi encaminhado para o ortopedista, que logo encaminhou para fisioterapia.

“Meu bebê passou um ano fazendo fisioterapia no braço, e teve que ser particular, pois no SUS por conta da pandemia não estavam atendendo e eu não podia demorar”, conta a mãe.

Por causa do parto, ela precisa realizar uma cirurgia de bexiga. Já foram feitas 10 sessões particulares de fisioterapia na pélvica, para ajudar a fortalecer os músculos pélvicos, já que não aguentava mais fazer xixi o tempo todo. Como os músculos pélvicos estavam bem fracos devido ao bebê que era grande e o parto forçado, a mãe não conseguia mais segurar o xixi.

“A médica disse que as fisioterapias pélvicas não iriam resolver e que eu precisava fazer a cirurgia mesmo, eu ainda não fiz, mas estou já vendo médicos para ano que vem providenciar essa cirurgia. Continuo sem conseguir segurar o xixi por muito tempo, quando vem a vontade, ou faz xixi logo, ou faz na roupa”, conclui.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.