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Ela sofreu preconceito por parte da sociedade e é mãe solo: quem é a atriz que vai interpretar Maria na Paixão de Cristo

Dois anos sem encenar a Paixão de Cristo por causa da pandemia, a atriz alagoana Poliana Santana, de 37 anos, fará o papel de Maria, mãe de Jesus, no espetáculo que será realizado nos dias 16 e 17 de abril, no bairro Benedito Bentes, parte alta da capital.

O que muita gente não sabe é o que a atriz carrega. Ela teve covid e passou trinta dias lutando contra o vírus e na infância, sofreu violência psicológica e preconceito da sociedade por ser filha ‘sem pai’.

Poliana é mãe solo e tem três filhos. Além disso, ela é atriz, técnica em enfermagem e desde 2008 trabalha como guarda municipal de Atalaia, em Alagoas.

Ao Eufemea, Poliana destaca a importância de Maria de Nazaré para a história bíblica e afirma que “Maria confiou em Deus em uma sociedade patriarcal, machista e misógina”.

Para Santana, Maria conseguiu conduzir Jesus Cristo na Paixão de Cristo para cumprir uma missão divina com Deus. “Ela é um exemplo de amor ágape”, conta.

Essa não é a primeira vez que Poliana participa do espetáculo da Paixão de Cristo em Alagoas, em outros anos ela já interpretou diversos papéis que eram opostos ao da Virgem Maria. Devido a isso, ela conta que a oportunidade foi um presente desafiador, já que a mãe de Jesus é um símbolo de força, delicadeza, amor, fé e perseverança.

Pandemia: “eu quase morri”

O período da pandemia do coronavírus foi cercado de ressignificação para Poliana, ela conta que sua família ficou doente, mas que não apresentou sintomas graves. Já a infecção da atriz foi preocupante, ela passou trinta dias lutando para combater o vírus.

“Passei dias lutando para viver, então foi um momento da vida em que eu estava tentando superar e respirar em um mar de depressão”, lamenta.

Santana compara ainda a cura da infecção com a saída de um coma e diz que voltou com mais força e determinação.

Questionada sobre voltar ao palco após dois anos de pandemia ela relata que o teatro está mais forte, com mais significado e aprendizado.

“Foi excepcional, foi fenomenal. Essa é a palavra: fenomenal”, comemora.

Violência psicológica

Poliana não teve uma infância fácil. Filha de pais separados, a atriz sofreu violência psicológica pelo pai, que em 1994 a jogou na rua junto com sua mãe e as irmãs. “Eu fui criança, mas não tive infância”, disse.

Já na juventude, ela disse que sofreu preconceitos por ser filha de mãe solteira. Na época, as crianças eram proibidas pelos familiares de brincar com Poliana e as irmãs por serem de uma casa composta apenas por mulheres.

“Para eles se a mulher é divorciada é porque ela fez algo, ninguém parava para pensar que o marido poderia ser o errado”, explica.

Foi através dessa exclusão que Santana sentiu a necessidade de se expressar e começou o curso de teatro. “O teatro é mágico, é um canto para ser o que quiser em qualquer época que quiser”.

Maternidade e a luta constante

Foto: Cortesia

A intérprete de Maria é mãe solo e tem dois filhos do primeiro casamento. Ela relata que quando começou a cursar Enfermagem não tinha com quem deixar as crianças, por isso elas acompanhavam a mãe durante as aulas.

Já no segundo casamento, a maternidade chegou novamente e dessa vez não foi diferente. Poliana se separou durante a pandemia e agora é mãe solo de três crianças. Para ela, a luta é constante.

Com perseverança a alagoana cria seus filhos, mas sem romantizar a maternidade. Ela critica a tendência que as pessoas tem em romantizar mães solos, quando na verdade “a maternidade não é romântica, educar não é romântico”.

Apesar das maravilhas de ser mãe, Poliana destaca a necessidade de esforço, responsabilidade e abnegação de oportunidades e momentos.

“Nós fazemos jornadas dobradas. Porque além de trabalho, ainda tem a casa para cuidar. A vida do homem do homem continua a mesma coisa: ele trabalha e ponto”, conclui.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Colaboradora do portal Eufêmea.