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Endometriose: mulheres relatam dificuldade de diagnóstico e contam como tratam da doença

Foto: Lanamum/Internet

Cólicas intensas, infertilidade, dor durante a relação sexual e sangramento intestinal e urinário. Esses são os sintomas causados pela endometriose, doença que atinge a cantora Anitta e cerca de 7 milhões de brasileiras, principalmente na fase reprodutiva.

Na última quinta-feira (7), a cantora usou as redes sociais para contar que descobriu a endometriose após sofrer durante nove anos com os sintomas. Ao Eufemea, mulheres que sofrem com a endometriose falaram sobre a dificuldade do diagnóstico e sobre as dores intensas.

Falta de informação e períodos conturbados

A fisioterapeuta Thaís Karoline, conta que desde nova apresenta sintomas que prejudicam seu cotidiano. No entanto, ao passar por consultas, os médicos indicavam anticoncepcional e diziam que poderia ser um cisto no ovário.

Foto: Cortesia

“Sempre tive que usar absorvente grande, os noturnos, mas mesmo assim não seguravam o meu ciclo. Foram períodos bem conturbados, onde sentia dor nas relações sexuais seguidas de alguns sangramentos”, expõe.

Após várias consultas, a fisioterapeuta recebeu o diagnóstico de endometriose e a notícia que teria que passar por um procedimento cirúrgico devido às grandes lesões causadas pela doença.

“Toda a minha cavidade pélvica estava repleta de foco de endometriose. Ele disse que não teria opção além de operar, ou dentro de dez anos eu teria comprometimento renal”, conta a fisioterapeuta.

Ela relata que durante a realização da cirurgia, o médico constatou que a situação era pior do que a ressonância mostrava. Por isso, foi necessário a retirada do apêndice, e a execução de uma sutura no intestino, que consta até hoje em dia.

“Depois da cirurgia foi sucesso! Não tive mais nenhum sintoma de endometriose desde então”, comemora.

“As minhas dores sempre existiram”

Já a estudante Luana Barros, comenta que antes do diagnóstico de endometriose, sentia cólicas fortes durante o período menstrual, chegando a desmaiar de dor.

Foto: Cortesia

“É difícil conviver com endometriose por ser uma doença muito negligenciada, muitas mulheres convivem com essa doença sem nem saber, já que as cólicas menstruais fortes são um cotidiano normal na vida de muitas mulheres”, alerta.

Luana conta que o seu tratamento é com o uso do anticoncepcional, para impedir a menstruação e cólicas. No caso da estudante, a cirurgia não foi necessária, mas ela reforça a importância de ir ao ginecologista regularmente para verificar a suação.

Ela destaca que não há muita pesquisa sobre o assunto, por isso a dificuldade de profissionais para chegar ao diagnóstico. “As minhas dores sempre existiram e elas eram tratadas como algo normal, foi preciso muita investigação com médicos de diferentes especialidades para descobrir a endometriose”, relata Barros.

“É muito difícil de conviver e atrapalha o meu cotidiano tanto pelas dores que tendem a aparecer de vez em quando quanto pela constante necessidade de sempre fazer exames e de nunca saber se está realmente tudo bem ou se o remédio está funcionando como devia”, enfatiza.

Endometriose e nutrição

Foto: Cortesia ao Eufemea

A nutricionista Adriana Costa, 46 anos, foi diagnosticada com endometriose profunda há 10 anos e há sete não faz uso de nenhum tratamento medicamentoso. Atualmente, a nutricionista mantém os focos de endometriose em remissão através da dieta mediterrânea, fitoterápicos e atividade física.

Costa relata que sofria muito com dores intensas no período menstrual, na ovulação e durante as relações sexuais, necessitando muitas vezes ir para emergência.

Dados apontam que até 50% das mulheres com endometriose têm dificuldade em engravidar e até 50% das mulheres com infertilidade têm endometriose. Devido à isso, Adriana teve o relacionamento abalado por não conseguir ter uma vida sexual ativa, dois abortos e duas gestações de alto risco.

Após o diagnóstico de endometriose, o médico comunicou que o laudo de Adriana não tinha tratamento e que precisava urgente de uma equipe multidisciplinar para fazer a cirurgia, além das chances de sair com uma bolsa de colostomia.

Ela conta que, na época, ficou desesperada e não aceitou a informação, por isso começou a pedir ajuda às pessoas da família da área da saúde, buscar na internet por médicos especialistas em endometriose e grupos de apoio.

Através da internet, a nutricionista encontrou o Grupo de Apoio à Portadora de Endometriose e Infertilidade (GAPENDI), onde teve conhecimento de uma lista de médicos que realizavam tratamento de mulheres que tem a doença em São Paulo. Ao entrar em contato com um especialista, recebeu a notícia que não precisaria, naquele momento, de nenhuma cirurgia. “Naquela hora eu renasci outra vez”, conta a nutricionista.

A partir disso, Adriana resolveu iniciar a graduação em nutrição com o objetivo de adquirir conhecimento para cuidar de si e de outras portadoras de endometriose. “Após 10 anos do meu diagnóstico, hoje consigo falar da endometriose com propriedade principalmente por ser portadora e saber exatamente a dor de corpo e alma que uma portadora sofre”, comemora.

“A alimentação é de suma importância é decisiva no tratamento da endometriose. Evidências apontam que uma dieta do mediterrâneo com consumo de grãos integrais, vegetais verdes, frutas, peixe e azeite, tem papel protetor na evolução e desenvolvimento da endometriose”, reforça.

De acordo com a nutricionista, evidências científicas indicam que uma dieta ocidental rica em carnes vermelhas, alimentos ricos em gorduras saturadas, ultraprocessados, bebidas alcoólicas, embutidos representam um risco 30% maior de evoluir e até mesmo desenvolver endometriose.

Qualidade de vida

Foto: Cortesia

Para a farmacêutica Kristiana Mousinho, a cirurgia foi necessária, pois a endometriose causava desconforto na bexiga. Ela conta que durante o procedimento, foi retirado 30% do órgão e realizado limpeza nas trompas. “Hoje em dia eu convivo com ela tentando que não aumente mais”, informa a farmacêutica.

Assim como Adriana Costa, a farmacêutica também controla a doença através de modificações na alimentação e acompanhamento com a nutricionista. Para ela, mudar os hábitos alimentares e praticar exercícios físicos foi fundamental para impedir o avanço da endometriose.

“Tem ajudado que a doença estacione e eu posso ter realmente ter uma qualidade de vida”, conta.

Mousinho expõe que o diagnóstico da doença surgiu quando decidiu procurar ajuda médica após começar a urinar sangue. Durante o ultrassom médico, foi constatado uma lesão de quatro centímetros na bexiga. “A médica me chamou atenção pra essa lesão, eu conversei com meu médico por telefone e ele disse que era característica de endometriose”, conclui.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.