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Quando a ansiedade se torna patológica?

Muito se fala em ansiedade, em ser ansioso, mas quando a ansiedade se torna patológica? Para falar sobre o assunto de hoje convidei a psicóloga Maria Clara Rodrigues Amaral (CRP 15/6557) para colaborar com o texto. Confira abaixo.

Vivemos em um momento acelerado, no qual a nossa produtividade e exigência são sinônimos de sucesso – se não a mera sobrevivência – no mundo capitalizado. Sentir ansiedade já passou a fazer parte do dia a dia dos brasileiros, principalmente após a pandemia do coronavírus, visto que a Organização Mundial da Saúde apontou que houve um aumento de 25% nos casos de ansiedade e depressão no mundo (OPAS/OMS, 2022). Mas o que é a ansiedade e quando ela se torna um transtorno? 

O Brasil é o país mais ansioso do mundo, conforme as estimativas da Organização Mundial da Saúde (2017) cerca de 18,6 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de transtorno de ansiedade, totalizando 9,3% da população do país.

Enquanto isso, muito pouco se é discutido e esclarecido sobre o transtorno, para mais, os aparelhos públicos de saúde mental e atenção psicossocial (como os Centros de Atenção Psicossocial – CAPS) não conseguem atender totalmente às necessidades da população. Ainda, a quantidade de pacientes buscando acompanhamento psicológico nos consultórios privados, em razão da ansiedade, é alarmante.    

Antes de compreender a fundo o transtorno, é importante destacar que a ansiedade faz parte da nossa herança biológica enquanto seres humanos. Antes dos registros da história humana, conforme Leahy (2011), nosso cérebro se desenvolveu frente a grandes perigos, como a fome, predadores, plantas tóxicas, alturas, doenças etc.

O medo possuía a função de nos proteger, afinal precisávamos estar atentos para sobreviver; as características necessárias para evitar os perigos do mundo foram aquelas desenvolvidas pelos humanos para os tornar mais adaptados ao meio, é um instinto biológico de sobrevivência (LEAHY, 2011).  

Entretanto, não vivemos mais em um mundo primitivo, esses medos não são adaptativos em grande parte das vezes. Hoje, os desafios que encontramos no cotidiano são muito diferentes daqueles que nossos ancestrais se deparavam em savanas e florestas, mesmo assim, nossos cérebros continuam funcionando como se nada houvesse mudado (LEAHY, 2011).  

De acordo com a Associação Psiquiátrica Americana (2014), os transtornos de ansiedade são aqueles que partilham características de medo e ansiedade excessivos e desproporcionais às situações, além de sintomas comportamentais relacionados. O medo é a resposta emocional a ameaças iminentes, reais ou percebidas, enquanto a ansiedade é a antecipação de ameaças futuras.  

É importante ressaltar que todos nós experienciamos medo ou ansiedade no dia a dia, a chave para a diferenciação entre a ansiedade normal e a patológica está na intensidade, frequência e persistência dos sintomas, além de o transtorno implicar em impactos significativos no funcionamento cotidiano e na relação com outras pessoas.  

O Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5 – APA, 2014) divide os transtornos de ansiedade de acordo com o tipo de objetos ou situações que induzem a ansiedade, o medo, o comportamento de esquiva e as crenças associadas.

Os principais transtornos ansiosos são: transtorno de ansiedade de separação, mutismo seletivo, fobia específica, transtorno de ansiedade social, transtorno de pânico, agorafobia, transtorno de ansiedade generalizada e o transtorno de ansiedade induzido por uma substância medicamento.  

A ansiedade é um problema sério, que pode inclusive ser um fator de risco para o desenvolvimento de outros transtornos psicológicos e problemas de saúde. Caso você possua sintomas ansiosos persistentes, é importante buscar acompanhamento psicológico de profissionais especializados.  

Sempre há formas de melhorar e viver uma vida mais leve, manejando a ansiedade de forma saudável! 

Por: Maria Clara Rodrigues Amaral (CRP 15/6557) – Instagram: @psicologia.clara

REFERÊNCIAS: 

ASSOCIAÇÃO PSIQUIÁTRICA AMERICANA – APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 

LEAHY, R. L. Livre de Ansiedade. Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 13-15. 

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE, Organização Pan-Americana da Saúde. Pandemia de COVID-19 desencadeia aumento de 25% na prevalência de ansiedade e depressão em todo o mundo. 22 de Março de 2022. Disponível em: <https://www.paho.org/pt/noticias/2-3-2022-pandemia-covid-19-desencadeia-aumento-25-na-prevalencia-ansiedade-e-depressao-em#:~:text=M%C3%BAltiplos%20fatores%20de%20estresse,e%20envolvimento%20em%20suas%20comunidades>. Acesso em: 05 Jul. 2022.  

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DA SAÚDE. Depression and other common mental disorders: global health estimates. Geneva: 2017. Disponível em: <https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/254610/WHO-MSD-MER-2017.2-eng.pdf?sequence=1&isAllowed=y>. Acesso em: 05 Jul. 2022.  

Natasha Taques

Natasha Taques

Psicóloga clínica (CRP-15/6536), formada em Terapia do Esquema pelo Instituto de Educação e Reabilitação Emocional (INSERE), Formação em Terapia do Esquema para casal pelo Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (ITPC).