Foto: Zenclub
O medo de perder o trabalho, mas ao mesmo tempo não está bem mentalmente. Isso é mais comum do que as pessoas imaginam. Algumas profissionais alagoanas estão trabalhando mesmo doentes com medo de perderem o emprego. No entanto, isso pode ter um preço lá na frente.
Quem faz o alerta é a médica psiquiatra Tainá Carvalho. Ela disse ao Eufemea que isso acaba perpetuando o ambiente do trabalho que pode ser que também esteja adoecido.
“É importante que o ambiente de trabalho seja pensado que aquela profissional é importante para o trabalho, mas que ela não é uma máquina. As consequências vão ser caóticas para a empresa e para a funcionária”, explica.
A médica reforça que se a funcionária precisar do afastamento, o psiquiatra faz um atestado colocando uma justificativa de acordo com a Classificação Estatística Internacional de Doenças. “Após o exame mental, a colaboradora será afastada pela quantidade de dias que o médico pensa e combina com ela. Não é algo que vai garantir que ela fique 100% boa, mas é um tempo para que a pessoa se reorganize mentalmente e descanse um pouco”.
A psiquiatra enfatiza que a saúde mental é um espaço de escuta de si mesmo e que é importante buscar informação, além de acolhimento e ajuda profissional. “Isso é importante para a pessoa que está adoecida”.
Mulheres deixam saúde mental em segundo plano
Quem continua trabalhando mesmo tendo sido diagnosticada com ansiedade generalizada provocada pelo excesso de trabalho é Clarice Tereza*, 34 anos. Ela é publicitária e começou a ter crises de ansiedade quando chegava ao trabalho.
“Tinha crises de ansiedade, ficava passando mal e não me concentrava. Quando a crise passava que a demanda chegava, voltava tudo de novo”, contou.
Ela trabalha numa agência de publicidade na capital e resolveu buscar ajuda após insistência da equipe. “Os meus colegas se preocuparam e procurei uma psicóloga. Fui diagnosticada depois pelo psiquiatra, mas mesmo assim não deixei de trabalhar. Tenho medo de perder meu emprego”.
Segundo ela, mesmo com a orientação dos médicos de que ela deveria se afastar do trabalho por um tempo, o medo é maior. “Sei que estou deixando minha saúde mental em segundo plano, mas preciso financeiramente do salário e acho que a empresa vai acabar preferindo alguém que esteja bem, e vai me demitir”.
Ao Eufemea, uma administradora que não quis ser identificada contou que foi diagnosticada com burnout, mas que não deixou de trabalhar. “Tenho duas filhas que precisam de mim. Não tive coragem de dizer ao meu chefe que fui diagnosticada assim”.
Ela disse que ‘prefere’ continuar trabalhando da forma que está – tendo cansaço excessivo, dores de cabeça, insônia e negatividade constante – do que se afastar e ser demitida.
“Na minha empresa as pessoas olham a saúde mental como algo besta. Se eu me afastar, voltarei e serei demitida. Prefiro ir aguentando como posso”, concluiu.