Foto: Reprodução/Instagram
Em busca de uma rede de apoio dentro de um ambiente de maioria masculina, mulheres se juntaram para criar o grupo de surfistas Rainhas dos Picos. Desde 2018, elas compartilham ideias e experiências sobre o esporte, em Maceió. Ao Eufemea, integrantes falam sobre experiências na prática e como foram beneficiadas pelo coletivo.
O grupo foi formado após algumas mulheres se conhecerem em um local bastante frequentado por surfistas da capital. Diante do cenário majoritariamente masculino, decidiram criar uma rede de apoio segura, sólida e de confiança para as mulheres se sentirem seguras tanto no surf, quanto em suas vidas pessoais.
As participantes também fazem companhia umas às outras para surfar e, assim, esperam expandir a rede de mulheres surfistas e fortalecer o cenário local. Atualmente, o grupo possui 122 mulheres, sendo mais da metade ativas no surf, em um grupo do Whatsapp. No Instagram, já ultrapassaram mais de 4.000 seguidores.
Participantes relatam assédio no surf
A arquiteta Mariana Melo pratica o esporte desde 2017. Ela relata que nos locais onde costuma surfar, na maioria das vezes, há uma maior quantidade de homens.
“Com o crescimento do grupo [Rainhas dos Picos], hoje, vejo muitas mulheres no mar. Há dois anos atrás era muito mais difícil encontrar alguma”, afirma.
Mariana diz que já sofreu assédio durante a prática do esporte. Ela conta que costumava surfar sozinha em Maceió e, em uma dessas vezes, ficou em um local onde haviam outros quatro homens no mar, mas não conhecia nenhum deles.
“Mas o que me assustou foi um homem que estava na areia. Uma hora que fiquei surfando, ele ficou me encarando e apontando o celular na minha direção. Isso me assustou. Tive que pedir ajuda a um surfista que estava perto, perguntei se ele conhecia o sujeito na areia, ele disse que não. Perguntei se poderia me acompanhar quando eu saísse do mar até o carro porque estava assustada. E ele o fez”, relata.
Ela diz que após esse episódio não teve mais coragem de ir surfar sozinha. “Assim que entrei no carro, o sujeito foi embora. Apesar de não ter acontecido nada, isso me deixou muito assustada, fiquei pensando que se não tivesse ninguém ali pra me apoiar, qualquer coisa poderia ter acontecido comigo com aquele homem me ‘perseguindo’”.
Apesar disso, a arquiteta destaca que não cogita desistir do esporte. “Mas deixei de fazer uma coisa que gostava, que era ir sozinha, no meu tempo, sem depender de ninguém. Hoje em dia, só vou com alguma companhia”, finaliza.
“O surf define quem eu sou hoje”
Já Karen Kacurin, que surfa desde 2017, explica que antes do grupo Rainhas dos Picos, ela costumava ser a única mulher no mar. “Agora, com frequência, encontro alguma mulher na água, mas sempre tem muito mais homem”.
Para a surfista, os homens não costumam levar as mulheres muito a sério e acredita que isso motivou diversas situações de assédio enquanto praticava o esporte.
Ela afirma que precisou pedir ajuda para um amigo que estava surfando também. “Só assim, quando estávamos com outro homem é que ele parou de seguir a gente. Foi nesse dia, com essa ‘desconhecida’, que tivemos a ideia de criar um grupo feminino de surfe, para unir e incentivar a mulherada a cair na água. Esse grupo hoje é o Rainhas dos Picos”.
Mesmo enfrentando esse tipo de situação com recorrência, ela nunca pensou em abandonar o esporte. “Para mim, o surfe é um estilo de vida e define quem eu sou hoje”.
Escola de Surf das Rainhas
Para quem possui interesse, o grupo também dá aulas de surf para mulheres, que acontecem na Praia da Jatiúca, Praia de Cruz das Almas e na Praia do Francês. É possível contratar um pacote com duas ou quatro aulas mensais, além de haver a opção de comprar uma aula avulsa ou em grupo. Os valores variam de R$ 100 até R$ 240.
Nas aulas, o grupo fornece os materiais individuais para cada aluno: prancha, cordinha e parafina. Basta preencher o formulário neste link para se inscrever.