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Capoeira muda realidade de idosas em Maceió e promove autonomia: “me libertou da depressão”

Foto: Juliete Santos/Secom Maceió

A prática da capoeira é uma forma de melhorar a autoestima e a confiança através da criatividade e liberdade de movimentos. Engana-se quem acha que a capoeira não pode ser feita na terceira idade. É essa prática que vem mudando a vida de várias idosas e idosos do grupo de capoeiristas formosas do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos do Centro de Referência de Assistência Social, Cras Pitanguinha.

O grupo conta com 32 idosas e está há dois anos em atividade. Ao Eufemea, a aposentada, Tereza Maria, conta que encontrou na capoeira uma forma de rejuvenescer e ficar mais saudável. “Com o tempo as pessoas começam a sentir dores, cansaço, mas eu não sinto nada disso porque a capoeira ajuda muito”, conta.

Foto: Juliete Santos/Secom Maceió

Ela destaca que a alegria, animação e cantoria durante as aulas faz com que a prática seja mais prazerosa e divertida. “O professor é uma pessoa muito dedicada, ele faz tudo com carinho e muito amor. Eu sou muito feliz, por isso não pretendo deixar a capoeira jamais”, afirma.

Preconceito e resistência

Apesar de ter sido reconhecida como Patrimônio Cultural e Imaterial da Humanidade, a capoeira é um esporte que sofre muito preconceito por ter sido criada por escravizados no início da história do Brasil e ter sido desenvolvida nas senzalas. Tereza Maria relata que queria praticar o esporte desde jovem, mas na época o preconceito na sociedade era maior.

“Eu sempre quis fazer capoeira, mas em Recife, cidade em que morava, era muito discriminado. Hoje eu sou muito grata e não quero mais sair! Só tenho que agradecer ao meu professor e a todos que fazem parte da capoeira”, reforça a aposentada.

“Me tirou da depressão”

Foto: Cortesia

Já Rosinete Fragoso da Silva, 58 anos, diz que enxergava a capoeira como “coisa de maloqueiro”, mas se surpreendeu positivamente e atualmente percebe saúde e cura através do esporte.

Rosinete teve depressão quando saiu do Rio de Janeiro para morar em Alagoas. Ela relata que ao chegar na capital, conheceu o esporte e mudou de vida. “A atividade aumentou a minha autoestima e me fez uma pessoa mais feliz, me tirou dessa depressão!”, comemora.

Para a carioca, a capoeira melhora o físico e emocional, por isso não pretende parar com a prática da atividade.

“Eu estava com depressão, mas a capoeira me libertou. Hoje em dia eu sou outra pessoa, Deus me livre de eu viver mais sem ela!”, diz Fragoso.

Pandemia e dificuldades

A aposentada Lêda Lopes, 65 anos, relata que é preciso encontrar o profissional e o local certo e adequado para iniciar o esporte. Ela já participa do grupo há um ano e afirma que foi o início de um período calmo e tranquilo em sua vida.

Foto: Cortesia

De acordo com Lêda, os dois anos de pandemia foram um período muito difícil, por isso foi preciso procurar um refúgio de tranquilidade. “Temos que reagir, procurar ajuda e não se isolar. Ainda tem muita vida dentro da gente!”

Autonomia e autoestima

O Professor Ivanildo Antônio da Silva Santos, mais conhecido como Mestre Besourão é praticante de capoeira há 35 anos e está à frente do projeto Capoeiristas Formosas do Cras Pitaguinha. Ele conta o sentimento de ensinar a prática para o grupo de idosas.

Foto: Juliete Santos/Secom Maceió

“Hoje ver essas mulheres com autonomia, autoestima, protagonizando ações, sempre se superando a cada dia, a cada encontro, a cada evento, percebe-se a superação individual de cada uma delas. Enfrentando suas limitações, desafiando as estatísticas. Por isso o sentimento é de satisfação, e isso não tem dinheiro que pague”, diz Ivanildo.

O professor alerta para a falta de projetos e planejamentos voltadas ao público idoso e afirma a necessidade de fiscalização das leis e do estatuto do idoso, para se fazer cumprir essas leis.

“Foi nessa perspectiva, que através da capoeira, resolvi dar minha contribuição usando a capoeira como instrumento de formação, informação e transformação de vida”, explica.

Conforme Ivanildo, as principais dificuldades encontradas durante o projeto, foram o preconceito individual do próprio idoso, o preconceito dos familiares e aceitação da conquista da autonomia, e o preconceito contra a capoeira.

Ele destaca que esses obstáculos foram superados através de informações, rodas de conversas, convidando pessoas de outras áreas de conhecimento, para que pudesse ajudar a trabalhar toda a temática.

Vida saudável

Já Alana Soriano, coordenadora geral dos CRAS, conta que as idosas relatam a mudança de vida através da felicidade, comunicação e momentos de extroversão. Alana pontua a importância para o desenvolvimento e continuidade de uma vida mais saudável. “Ficamos extremamente felizes em receber esses feedbacks positivos.”

Foto: Juliete Santos/Secom Maceió

“A capoeira é uma prática que traz movimento, alegria, amizade, companheirismo, que envolve elas no convívio social diariamente e estimula a criatividade e auxilia na melhora da saúde física e mental de todas”, finaliza Alana.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Colaboradora do portal Eufêmea.