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Dor, revolta e machismo marcam a série Pacto Brutal: “Os assassinos tiveram futuro, Daniella Perez não”

Se você ainda não assistiu a série documental “Pacto Brutal: o assassinato de Daniella Perez”, assista. Mas prepare-se para chorar, sentir raiva, ódio e frustração. Recordo-me quando era criança e minha mãe me contou sobre o assassinato da Daniella. A história que chegou para mim era que Daniella tinha sido amante de Guilherme de Pádua. No documentário você percebe que a história que chegou até você não é o que aconteceu.

A série documental conta com riqueza de detalhes sobre o assassinato de uma jovem de 22 anos. Uma jovem cheia de sonhos, talentosa, casada com o amor da vida dela, que tinha família, amigos e que sorria o tempo inteiro (isso você consegue perceber através das fotografias e vídeos).

Por inveja, ganância, psicopatia, Guilherme e a esposa Paula matam Daniella. Apesar de ter acontecido uma movimentação muito grande em prol de Daniella, me impressionou saber que algumas pessoas ainda defendiam Guilherme. Enviavam cartas de amor para ele e alimentavam a mente psicopata do assassino.

Alguns pontos me marcaram durante essa série: a força da Glória, mãe de Daniella e o quanto ela a busca pela justiça ser a nova vida dela; a união entre ela e as mulheres, principalmente a Jocélia Brandão, que teve a filha assassinada (chorei bastante nessa cena); o machismo escancarado da própria mídia que tentou manchar a imagem da Daniella colocando-a como a errada na história; e a psicopatia de Guilherme que tentou fazer o que TODOS os homens agressores fazem: jogam a culpa na vítima e se colocam como santos.

Quase 30 anos depois, finalmente, nós estamos tendo oportunidade de conhecer a verdadeira história (principalmente a minha geração). E dói saber que Guilherme e Paula vivem uma vida normal.

Guilherme virou pastor. Paula casou novamente e vive com os filhos por aí. Ao terminar a série, fiquei me perguntando se realmente houve Justiça para esse caso. Claro, houve avanços: o caso de Daniella e outros de grande repercussão mudaram a lei brasileira. Mas o casal cumpriu a pena (por pouco tempo) e saíram.

Fico pensando na família que foi destruída e jamais voltou a ser a mesma. Nos sonhos interrompidos, no casamento que acabou, na dor imensa que aquela mãe carrega dentro do peito. Houve mesmo Justiça?

Como diz a Glória em uma determinada parte da série: a vítima não volta mais. Ela morreu.

Morreu de uma forma brutal e covarde. Com a morte da Daniella morreu um pouco de cada mulher brasileira, de cada mãe que não pôde colocar mais a filha no colo. Para mim, morreu até a esperança de que a Justiça seria feita.

Como diz um trecho da música da banda Legião Urbana: “Os assassinos estão livres, nós não estamos“.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.