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Em Alagoas, 7 crianças são registradas por dia sem o nome do pai

(Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Em Alagoas, de 2020 a 2022, 5.522 crianças foram registradas sem o nome do pai. Os dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen/AL) revelam ainda que, em média, sete registros de recém-nascidos no estado são feitos sem a presença do genitor por dia.

Até 1º de agosto de 2022 já foram 1.982 crianças nascidas e que estão sem o nome do pai no registro civil.

Ao Eufemea, a psicóloga Raquel Pedrosa, explica os benefícios que uma paternidade ativa pode trazer para a família. Para ela, a criança adota um bom desenvolvimento psicológico, que irá transformá-la em uma pessoa mais segura e com maiores chances de ser bem sucedida.

Raquel Pedrosa. Foto: cortesia

“A mulher se sente mais segura, amparada e com liberdade maior para se aventurar mais no mercado de trabalho, já os homens ganham novas perspectivas de aspirações profissionais”, reforça.

Segundo a lei brasileira, a mãe não pode indicar o nome de alguém que não seja o verdadeiro pai –a presunção de paternidade só ocorre em caso de pais casados.

Quando a mãe é solteira, é necessário o reconhecimento do pai para que ele conste do registro. Caso ele se recuse a fazer o exame, a certidão de nascimento é feita sem o nome dele, e a mãe poderá ingressar com ação judicial para investigação de paternidade.

Ausência paterna

Raquel Pedrosa pontua que a ausência do pai reflete no desenvolvimento da criança que já pode ser percebido na pré-escola e se manter ao longo da vida escolar. “Isso pode incluir comportamentos agressivos, baixo rendimento escolar e até problemas no desenvolvimento emocional e social da criança”, informa a psicóloga.

Raquel destaca a importância de que as crianças e os pais estejam em acompanhamento psicológico para amenizar os problemas decorrentes da ausência paterna. No caso da criança, ela explica que a psicoterapia possibilita que externe e administre de uma maneira mais saudável a frustração. Já com a mãe, a psicoterapia é válida para orientação de como lidar com as demandas de seus filhos.

De acordo com Pedrosa, a ausência da figura paterna pode refletir de diversas formas e em diversos momentos da vida de uma pessoa. Ela ressalta que na vida adulta, a pessoa pode estar mais suscetível à depressão, transtorno de ansiedade, envolvimento com álcool e outras drogas e relacionamentos interpessoais mais fragilizados.

“Não sei se é possível ensinar isso a algum homem. Ser um pai ativo é algo que se aprende no berço vendo os exemplos no seu contexto. Acho que a mudança precisa ser cultural”, conclui.

Maternidade solo

A diarista Vera Lúcia é mãe de um adolescente de 16 anos que não tem o nome do pai na certidão de nascimento. Segundo ela, o pai nega a paternidade e exige o exame de DNA.

No entanto, Lúcia afirma que a ausência paterna não afetou na educação e criação de sua filha. “Eu sempre estive presente em todos os momentos, principalmente na educação. Sempre conversei com ela sobre o que é certo e errado, e ela vê o meu exemplo”, relata.

A diarista expõe que se sente sobrecarregada e encontra dificuldades para conciliar a maternidade e a vida profissional. “Quando tem reunião na escola e nos dias dos plantões pedagógico, eu vejo que se o pai fosse presente ele poderia ir em meu lugar, quando não tenho tempo”, alega.

A mãe da adolescente conta as principais dificuldades de ser mãe solo durante a criação de sua filha e alega sempre se esforçar no trabalho para não faltar nada em casa. “As dificuldades estão na emergência de doenças, na hora da conversa para aconselhar e também nas despesas, principalmente a comida que não pode faltar”, finaliza.

Impactos

A advogada e jornalista Meline Lopes não tem o nome do pai na certidão de nascimento. Para ela, a sua infância foi frustrante por não saber quem é seu pai.

“Em eventos escolares meus amigos perguntavam quem era o meu pai e eu não sabia nem a figura dele, para mim foi muito frustrante”, lamenta.

A advogada afirma que por muito tempo sentiu dificuldade de confiar nas pessoas e ter relacionamentos amorosos, sendo necessário terapia para reparar os danos causados pela ausência paterna.

“Eu sempre achei que eu era a parte errada da história, que eu tinha feito alguma coisa de errado para ele não querer se aproximar”, expõe.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.