Você sabia que cerca de 10 a 15% dos casais no mundo são inférteis? Destes, um terço de origem masculina, um terço feminino e um terço combinado ou indefinido. Muitas são as causas da infertilidade, se fazendo necessária uma profunda investigação para compreender o motivo. Para falar sobre o assunto convidei a psicóloga Huíla Gonçalves Cardoso Clapp (CRP 15/5673).
Uma gravidez bem-sucedida perpassa por uma complexa engenharia biológica que envolve muitas fases, e quando ocorre algum problema em uma ou mais fases desse processo que impeça a gravidez junto a certo período – 12 meses de tentativas com relações regulares sem uso de contraceptivos para mulheres com menos de 35 anos; mulheres com mais de 35 anos, 6 meses de tentativas são suficientes para iniciar uma investigação- pode se fechar um diagnóstico de infertilidade.
Uma vez compreendido o motivo da infertilidade, trata-se a causa e quando não encontrada recorre-se a produção assistida. Mas, nesse texto me concentrarei quando todas essas possibilidades se esgotam e se torna um fato a impossibilidade de gerar filhos biológicos. E o que fazer agora? Cada indivíduo, casal encontrará a resposta dentro de si.
Muitos casais optam por passar por todo esse processo ‘sozinhos’ por muitos motivos – vergonha, falta de acolhimento, por exemplo. Falo aqui de um luto não reconhecido, legitimado pela nossa sociedade. Que em muitos casos não consegue empatizar com a dor da perda que essas pessoas estão vivendo.
O mundo não vai parar para que possamos viver nossas dores, luto. A vida não pausa, as obrigações nos impõe a levantar a cada manhã. Sofrer por não gerar um filho pode parecer ingratidão diante de um mundo com tantos ‘problemas maiores’. Deveria ser uma perda ‘pequena e superável’. A vivência do luto da mulher infértil pode ser marcado por um profundo senso de vergonha que poderá influenciar na inibição da expressão de pesar, ou seja, a própria mulher não se autoriza a viver essa dor.
Penso que o luto é sempre sobre o enlutado, ou seja, cada um vivenciará esse processo a sua forma. Não cabe certo ou errado aqui, mas sim o que faz sentido e o que ajuda nessa nova fase, a da ausência. Cada casal viverá a infertilidade a seu modo, uns se afastam outros se aproximam, uns conseguem se conectar com a dor do parceiro…
Segundo Casellato (2020), quando o filho sonhado não se torna real, isso gera consequências em todas as esferas da vida. O não nascimento do bebê é um convite a repensar as expectativas futuras, onde serão depositadas e sobre o que se construirão. É um vazio no ventre e também simbólico sobre o esperado para o presente e futuro. A não maternidade/ paternidade é o luto do sonho que não se realizará, é a morte de uma história que aconteceu nos sonhos, nos planos, na forma como se imaginou viver toda uma vida.
Como a psicologia pode me ajudar?
Buscando profissionais que compreendam que você está vivendo um processo de luto (existe um nicho da psicologia especializado em perdas e luto) e que ele precisa ser vivido, e que entrar em contato com ele pode ser muito difícil, mas saudável.
Para Casellato(2020), com o filho que não vem, não vem a mãe que se sonhou ser, não vem a família que se sonhou ter, não vem o roteiro que se planejou viver. O luto na infertilidade abrange todos esses não nascimentos.
Nenhuma mulher precisa passar por isso sozinha, buscar um profissional pode ser o primeiro passo rumo a um futuro diferente do imaginado, mas ainda assim cheio de sentido e alegria.
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