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Mesmo sob proteção da legislação, mães relatam constrangimentos ao amamentar filhos em público

Foto: Gabriela Pessoa

O Estatuto da Criança e do Adolescente assegura à lactante o direito de amamentar a criança em todo e qualquer ambiente, seja público ou privado. Quem proibir ou constranger as mulheres que amamentarem em público terá que pagar multa.

Apesar disso, as mulheres ouvem comentários negativos, de censura e enfrentam situações desconfortáveis após decidirem amamentar em público. Ao Eufemea, duas alagoanas contaram como lidaram com esses comentários.

“O constrangimento nunca foi e nunca será meu”

Elen Toledo, empresária e mãe de uma bebê de 10 meses, afirma já ter ouvido comentários negativos por amamentar em público e diz que enfrentou um sentimento de tristeza diante da situação. Ela conta que os comentários costumam partir sempre de mulheres, a maioria mais velhas, e os homens, normalmente, viram o olhar para não ver a cena.

“Acho triste que algo tão poderoso como a amamentação seja vista como um tabu. Eu estou alimentando uma criança que depende disso para sua sobrevivência. Não deveria haver vergonha nisso. Ao contrário, deveria ser algo valorizado e louvado”, comentou.

A empresária acredita que, com relação aos olhares, “não tem o que fazer”. “Comentários sobre paninho, eu respondia que não tinha, que tava tudo bem assim”. Ela chegou a receber um cobertor de presente para se cobrir durante a amamentação. “Eu só agradeci e doei”.

Toledo alega que, apesar dos comentários e olhares, nunca deixou de amamentar sua filha pela presença de outra pessoa. “Mesmo em casa, no puerpério, ao receber visitas, eu avisava aos amigos que ia amamentar, que se sentissem constrangidos eles se retirassem para outro ambiente da casa. O constrangimento nunca foi e nunca será meu”.

Ela diz que o leite materno é o melhor alimento para o bebê e os órgãos de saúde preconizam que ela seja feita de forma exclusiva nos primeiros 6 meses do bebê. Não é crença, é ciência. Não há mais espaço para se discutir a importância do leite materno”.

“A gente precisa discutir agora a discrepância entre essa recomendação oficial e a legislação trabalhista que garante como licença maternidade apenas 4 meses à trabalhadora. A conta não fecha”, destaca.

Para Elen, a amamentação em público ser garantida por lei não é suficiente para garantir esse direito. “Acredito que há pessoas e ambientes que reprimem essa garantia legal e que pouco se faz para combater essa questão. A lei é só um texto escrito se não houver aplicação, fiscalização de cumprimento”.

Segundo a empresária, difundir informação e quebrar os paradigmas de preconceito é que, eventualmente, poderão garantir que a amamentação em público passe a ser vista com bons olhos. “Não há obscenidade na ação de amamentar. Se alguém vê dessa forma, é a percepção própria que está enviesada”.

“Mais uma vez o machismo estrutural coloca a mulher em lugar de repressão quando ela deveria estar sendo incentivada e ajudada a cumprir a função da amamentação. O direito da amamentação é todo do bebê, a mulher está somente cumprindo a função animal natural dela. Quando se nega à mulher esse direito, se está na verdade agredindo o bebê”, afirma.

“Estou respaldada pela lei”

A enfermeira Cynthia Kassia, mãe de um bebê de 1 ano e seis meses, conta que uma pessoa já chegou a dizer que ela ficava exposta quando amamentava porque mostrava o peito, e pediu para que se cobrisse.

Foto: Cortesia

“Apesar disso, nunca deixei e nunca vou deixar de amamentar em público, até porque não estou fazendo nada de errado. Afinal estou respaldada pela lei”, declara.

Cynthia acredita, porém, que muitas pessoas não sabem que a lei assegura à lactante o direito de amamentar a criança em todo e qualquer ambiente, público ou privado, existe. “Já presenciei pessoas parando de amamentar ou mudando de lugar por conta dos olhares de outras pessoas”.

Ela destaca que a amamentação é muito importante no desenvolvimento da criança, nas primeiras duas horas de vida tanto para mãe como para o filho e no decorrer da vida.

“A criança que mama adoece menos.Além disso, a amamentação é muito mais que alimento, é colo, é cuidado, é amor e uma das formas de criação do maior vínculo entre mãe e filho. Mas deixando bem claro que a mãe que não amamenta não é menos mãe e não vai criar vínculo, cria sim, de outras formas”, comenta.

Por considerar a amamentação como algo tão importante, Cynthia realiza doação de leite materno para o Hospital Universitário (HU). “Quando passo o dia fora de casa, no trabalho, e chego com os peitos ainda cheios, consigo ordenhar e fazer a doação paras crianças do hospital”.

“Desde que meu filho nasceu, eu sou doadora de leite materno. E hoje, ainda quando eu viajo ou quando eu passo o dia no trabalho, a minha mama ainda enche, eu ordenho e peço para o HU ir buscar nos potinhos que já deixo separado”, completa.

Consulta de amamentação auxilia mães no aleitamento

A consultora de amamentação, Lilian Carnaúba, auxilia mães que já ouviram comentários negativos por amamentar em público, lhes oferecendo informações e evidências científicas que o ato de amamentar vai muito além de expor ‘um peito’ ou ‘uma parte do seu corpo’. “Ela está ali alimentando e também nutrindo fisicamente e emocionalmente seu bebê”.

Foto: Carnauba Fotos

“Para as que mesmo assim se sentirem ainda desconfortáveis, orientamos o uso de roupas de lactantes, que são blusas e vestidos com aberturas próprias para facilitar a vida das mães lactantes poderem amamentar de forma mais prática, como também expor o que ela julgar necessário para amamentar seu bebê”, explica.

Lilian ressalta que a amamentação aumenta o vínculo afetivo entre mãe e bebê. “Tão importante para ambos. O leite materno não só é o melhor alimento do mundo para o bebê até os seis meses, como é essencial na completação nutricional da criança até pelo menos os dois anos”.

“O leite também atua diretamente no sistema imunológico e de defesa do bebê. Livrando-o de alergias e comorbidades como diabetes e outros”, informa.

Com relação ao ato de amamentar para a mãe, ajuda para que ela se recupere mais rápido das alterações fisiológicas da gestação e do parto em seu corpo.

“Ela é inundada pelo hormônio ocitocina sempre que amamenta, trazendo mais relaxamento e conforto emocional, diante dos desafios da maternidade. Além da tranquilidade de saber que está oferecendo o melhor alimento para seu filho”, comenta.

Principais dificuldades na amamentação

A profissional cita as principais dificuldades e queixas de uma mãe para amamentar. São elas:

Acreditar que amamentar é intuitivo e fácil, e se frustrar nos primeiros desafios;
Não saber fazer a pega correta e acabar amamentando com dor e machucados;
Não saber cuidar das mamas quando acontece a apojadura(“descida do leite”) e em outros momentos;
Falta de informações atualizadas e seguras;
Dificuldade em lidar com os palpites e acabar cedendo as fórmulas, chupetas e mamadeiras que podem levar ao desmame precoce;
Não saber como funciona sua produção de leite e como aumentá-la.
Não saber como continuar amamentando com o retorno ao trabalho.

Ela acredita que a melhor forma de auxiliar a amamentação é buscando informações atualizadas e seguras, ainda durante a gestação. Não apenas em livros e na internet, mas também com profissionais especializados, como uma consultora de amamentação, para receber atendimento personalizado de acordo com as características, histórico de vida e saúde da mulher.

“Para que a mesma saiba como conduzir seu bebê da melhor forma, como cuidar de si mesma e trazer a melhor experiência possível para a dupla mãe e bebê de acordo com suas realidades. Assim também, como incluir sua rede de apoio nessa preparação de informações”, conclui Lilian.

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Maria Luiza Lúcio

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