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Qual o papel da pessoa branca na luta contra o racismo? Advogada explica

Synthya Maia. Foto: Cedido

O caso de racismo envolvendo os filhos da atriz Giovanna Ewbank e do ator Bruno Gagliasso trouxe uma reflexão importante: ‘Qual o papel de pessoas brancas na luta racial?’. Quem responde é a advogada e vice-presidente da Comissão de Promoção da Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil em Alagoas (OAB/AL), Synthya Maia.

Segundo a vice-presidente , a luta contra o racismo não é e nem deve ser apenas de pessoas negras, mas de toda sociedade. Além disso, ela afirma que os brancos precisam reconhecer seus privilégios e responsabilidades raciais. “Até porque o racismo foi inventado pela branquitude”, pontua.

A advogada reforça que se reconhecer enquanto racista, ou seja, enquanto pessoa branca beneficiada por toda uma estrutura que prioriza o ser branco em todos os espaços políticos e sociais, ao ver dela, é um passo importantíssimo para iniciar a luta contra o racismo.

“Não é fácil, claro, até porque o racismo tem esse poder e sutileza de beneficiar pessoas brancas sem que elas até percebem”, comenta Synthya.

Segundo ela, a partir dessa desconstrução, pessoas brancas podem começar a sair do lugar de superioridade que lhes é reservado.

“Se posicionar como antirracista significa assumir um letramento racial de engajamento continuo em ações que não podem ser resumidas em dicas ou checklists”, afirma.

Para Maia, este é um processo constante de reconhecimento, escuta, de não omissão e de ação. “Questionando espaços da branquitude, não deixar passar atos racistas de colegas, familiares”.

Ela diz ainda que essa prática vai depender do papel social e político que essa pessoa branca ocupa na sociedade. “Se essa pessoa é membro do Judiciário, ocupa um cargo político ou chefia alguma unidade de saúde ou de segurança pública, por exemplo”.

“É confortável ser uma pessoa branca em uma sociedade repleta de desigualdades raciais, sempre estar nos espaços de poder, não ser preterido, não sofrer. É confortável estar inserido em um sistema que os privilegia em detrimento de outros grupos. Muitas pessoas brancas não sabem, ou fingem que não, o que significa ser uma pessoa branca”, declara.

Questionada sobre a postura defensiva e de negação que alguns brancos adotam durante discussões sobre racismo, a advogada acredita que isso acontece quando o impacto chega e a pessoa se sente ofendida. “Afinal, ela nunca escravizou ninguém e até tem amigos que são negros”.

Synthya explica que muitas pessoas brancas não entendem que as pessoas negras estão em desvantagens por serem negras. “Não conseguem se enxergar em vantagem estrutural justamente por serem brancas”.

“Falta letramento e profundidade racial e o que falei anteriormente: o reconhecimento dos privilégios e responsabilidades raciais. O incômodo é porque não reconhecem a branquitude como um lugar de vantagem estrutural na sociedade racista. Independente de concordar ou não com o racismo, de possuir ou não atitudes racistas, uma pessoa branca possui uma vantagem estrutural, um privilégio”, completa a vice-presidente.

Práticas antirracistas

De acordo com Synthia, a principal dificuldade em incorporar práticas antirracistas no cotidiano está em negar o racismo. “Dizer que o outro é racista, mas nunca você mesmo. Acreditar no mito da democracia racial, no ‘somos todos iguais’. Esses discursos só aumentam a não responsabilização de pessoas brancas e dificultam o reconhecimento do papel deles na luta antirracista”.

“Essa dificuldade faz com que pessoas brancas não se comprometam com a luta e ainda legitimem o racismo ao escolher sempre seus pares brancos em seleções de trabalho, no círculo social de amizade e até em relações afetivas”, conclui a advogada.

Maria Luiza Lúcio

Maria Luiza Lúcio

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