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“Merece uma surra”: os ataques contra jornalistas alagoanas nas redes sociais

Foto: Dominique Lages

Em 2022, foram registrados 92 ataques contra mulheres jornalistas no Brasil. Desse total, 18,5% são ameaças, intimidação e ciberameaças. Os dados são da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), disponíveis na plataforma de violência de gênero contra jornalistas.

Os dados apontam que 33,7% dos casos são ataques de gênero. Entre eles, 56,1% são ataques à reputação e à moral, usando a aparência, a sexualidade ou traços sexistas de personalidade para agredir. As demais situações envolvem agressões físicas e censura na internet.

Foto: Abraji

O Eufêmea conversou com jornalistas alagoanas que falaram sobre os ataques que receberam de maneira online.

Violência de gênero

Ainda de acordo com o levantamento, em 61.9% dos casos, a vítima cobria temas políticos. É o caso da jornalista Vanessa Alencar, que há cerca de um ano, recebeu comentários misóginos e ameaças de cunho sexual. De acordo com ela, esse tipo de comentário é postado em publicações de textos repercutindo notícias na área da política.

Foto: Cortesia

A jornalista relata ainda outro caso registrado há três anos, através das redes sociais do portal de notícias em que trabalha.

“O homem, cujo perfil estava identificado, chegou praticamente a me ameaçar de estupro. Nesse caso chamou a atenção o fato do agressor agir de cara limpa, usando o próprio perfil, onde possuía várias fotos, inclusive com esposa e filhos pequenos”, expõe.

Comentários que Vanessa recebeu. Foto: Cortesia

Questionada sobre as medidas de proteção tomadas, Vanessa informa que, nesses casos, a gestora das redes sociais excluiu as postagens e bloqueou o internauta.

Ela pontua que desde então não tem conhecimento se ocorreram outros ataques, já que optou por não ler os comentários das matérias veiculadas. “Foi a decisão que tomei para preservar minha sanidade”, conclui.

“Me sinto fraca e covarde”

Os dados da Abraji revelam ainda que em 73,9% dos casos, os agressores são homens. A jornalista alagoana Thayane Magalhães foi vítima de ofensas em 2018 feitas por um prefeito de Alagoas.

De acordo com ela, o prefeito enviou, através de mensagens por aplicativo de celular, ofensas com teor de ameaças após uma matéria sobre o atraso do início das aulas na cidade.

Print mostra prefeito que enviou mensagem para jornalista. Foto: Cortesia

Com o apoio do Sindicato dos Jornalistas, Thayane realizou um boletim de ocorrência para garantir seus direitos. “O Sindjornal me acompanhou junto com o advogado do Sindicato para registrar um BO [Boletim de Ocorrência]. Acionamos também o Ministério Público e o gestor foi processado e investigado pela Polícia Civil”, conta.

Apesar das medidas tomadas, a jornalista expõe que precisou mudar seu comportamento nas redes sociais, com o objetivo de se proteger. “Percebi que as pessoas estão cada vez mais violentas e como sou mãe solo de duas crianças, não posso arriscar minha vida em discussões. Infelizmente estamos sendo coagidos por pessoas truculentas, principalmente homens, que se sentem confortáveis em cometer crimes na certeza da impunidade”, lamenta.

Thayane revela ainda que agora pensa duas vezes antes de denunciar políticos, já que prioriza a segurança dos seus filhos.

“Minha saúde mental padece, pois me sinto fraca e covarde às vezes. Queria poder exercer o jornalismo sem temer sofrer um atentado”, desabafa.

“Pintei meu cabelo após ataques”

Uma jornalista alagoana, que não quis ser identificada, expõe que após veicular matérias de política relacionadas ao presidente Jair Bolsonaro (PL), sofreu ataques de seus apoiadores nas redes sociais.

A maioria dos ataques foram comentários sobre a aparência da jornalista, com o objetivo de difamar e constranger. “Já cheguei a pintar meu cabelo por causa de ataques sobre minha aparência, para me sentir menos pior”.

Ela explica que não tomou nenhuma medida de proteção, mas monitora as redes sociais para que os ataques não aconteçam novamente.

“Eu não posto mais todos os conteúdos que eu queria postar, comecei a pensar nos conteúdos para que não atraísse mais nenhum tipo de ataque”, explica.

Como proceder nesses casos?

A advogada Ariane Ferro explica que os casos de violência no âmbito online podem se enquadrar em injúria, difamação ou calúnia. Ela destaca a importância da vítima salvar materiais e informações que comprovem e relatem o crime.

Foto: Cortesia

“As vítimas devem primeiramente manter a calma porque é sempre muito difícil passar por uma uma situação criminosa na internet. A gente deve se acalmar e se atentar para preservar as provas. Preserve a cena do crime, mensagem, prints, anote o número, e-mail e se possível guarde os links”, informa.

Após coletar as provas, a advogada recomenda procurar uma delegacia. Em Alagoas, a Seção de Crimes Cibernéticos da Polícia Civil é um dos setores da Gerência de Recursos Especiais (GRE). Ela e fica situada na Avenida Jorge Montenegro Barros, no bairro da Santa Amélia, em Maceió.

“Qualquer delegacia da Polícia Civil está apta para receber essas denúncias, inclusive através do Boletim de Ocorrência on-line. Você pode registrar de forma online, através da delegacia interativa”, explica.

Além disso, a vítima é aconselhada a procurar um profissional na área de Direito, para tomar as medidas cabíveis e continuar o processo de responsabilização do agente.

“Hoje nós temos um amparo legal muito maior para a proteção dos direitos na esfera digital”, diz a advogada.

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Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.