Foto: Reprodução/Instagram
Neste domingo (29, é comemorado o Dia Nacional da Visibilidade Trans. A data foi instituída em 2004 como forma de garantir a proteção social à população transexual e travesti.
Como forma de marcar a celebração, o Eufemea traz uma entrevista com a artista alagoana Ísis Florescer, que fala sobre seu reconhecimento como mulher transexual, sua carreira como atriz e a mudança no cenário politico.
Confira abaixo a entrevista completa:
- Quem é Ísis Florescer?
Uma mulher trans afroindigena, atriz , escritora e moradora da periferia de Maceió. Ela diz que foi na arte e na política que encontrou força para existir e ser quem é.
- Quando iniciou sua transição de gênero?
Dentro do movimento trans não denominamos mais nosso processo como transição. Atualmente compreendemos que nossas narrativas são múltiplas. Por isso reconhecemos nossa identidade afirmando e expressando quem somos. Meu reconhecimento como mulher trans aconteceu a partir de 2018 e desde então sigo florescendo.
- Sempre teve apoio da sua família e amigos (as) durante esse processo?
Recebi apoio de minha mãe e irmã, de amizades próximas. Mas principalmente de pessoas que acompanharam esse momento de afirmação e expressão da minha identidade e gênero. O que contribuiu para que eu pudesse me fortalecer nessa trajetória.
- Quais as principais dificuldades que enfrentou enquanto mulher trans?
As principais dificuldades que a maioria das pessoas trans passam envolve rejeição da família, não conclusão dos estudos formais, exclusão do mercado de trabalho.
No meu caso foi mais delicado me manter nos espaços de trabalho. Já que a realidade é a ausência de programas de inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho. E quando conseguimos uma oportunidade geralmente estamos sozinhas nesses ambientes que não trabalham a temática da diversidade, do respeito e da inclusão nesses espaços.
Outra questão que atravessa a nossa existência é a ausência de relacionamentos amorosos, já que somos vistas apenas como objetos sexuais, sendo o machismo, a misoginia e transfobia institucional e estrutural desse sociedade patriarcal opressora o que alimenta e produz diversas formas de violência contra mulheres trans e travestis.
Os homens cisgêneros e heterossexuais não estão preparados pra sustentar e assumir o desejo afetivo por nós mulheres trans.
Mesmo consumindo pornografia trans e serviços sexuais daquelas que trabalham na prostituição.
- Quando iniciou sua carreira como atriz e escritora? Sempre foi o que desejava fazer?
A arte entrou na minha vida desde a infância. Fiz o curto técnico de teatro na UFAL [Universidade Federal de Alagoas]. E a escrita veio junto com meu processo de legitimação enquanto mulher trans. A arte me ajudou a pensar, criar e sentir o mundo ampliando minha sensibilidade e capacidade de analisar e criticar a realidade.
- – Com a mudança no governo federal, acredita que pode haver uma cenário mais favorável e seguro para pessoas trans?
Acredito que esse momento de retorno ao Estado Democrático de Direito com a vitória do Presidente Lula nos coloca de volta nos caminhos da luta e construção de políticas e direitos para nós pessoas trans.
Já estamos presenciando esse novo momento com as criações dos Ministérios dos Direitos Humanos, da Igualdade Racial, dos Povos Originários e da Mulher. E dentro do Ministério dos Direitos Humanos já foi criada a Secretaria Nacional LGBT com a nomeação de uma mulher trans para conduzir os trabalhos da pasta.
Conheça mais sobre a artista
Dentre suas obras como escritora, Ísis publica uma série de poemas e produções próprias através de sua página no Instagram. Em abril do ano passado, ela lançou um poema sobre a transfobia.
Atualmente, Ísis está trabalhando na divulgação de seu livro, entitulado “Segunda Pele”. A obra é repleta de poemas que exalam reflexões e provocações sobre a vida, a existência e a nossa essência. Para quem deseja adquirir, basta entrar em contato com a escritora através de suas redes sociais.
