Foto: Rodrigo Marinho
Alagoas é o único estado em que há paridade de gênero nas secretarias. Das 27 secretarias, 14 são comandadas por mulheres. O Eufêmea iniciou uma série de entrevistas com as secretárias que comandam pastas tão importantes.
A segunda entrevistada é a secretária Paula Dantas, da Secretaria de Estado Extraordinária da Primeira Infância. Médica e filha do governador de Alagoas, Paula Dantas diz que luta pela justiça social e afirma que inseriu na sua equipe de trabalho pessoas de povos originários, os filhos dos quilombos, LGBTQIAP+, pessoas com autismo e transexuais.
Confira a entrevista abaixo:
Quem é Paula Dantas?
Sou uma mulher nordestina, apaixonada pelas pessoas, com muita energia e disposição para fazer as coisas acontecerem. Sou médica e acredito na humanização, na multidisciplinaridade da medicina. Sempre fui engajada no movimento estudantil e, na faculdade, fundei o coletivo feminista e LGBTQIAP+ e fui presidente do centro acadêmico. Busco por justiça social. O meu olhar com as pessoas não é apenas no sentido do ambiente em que vivem. É também no cuidar da família, da escola, da igreja, o que se refere à atenção primária. Trabalhei no último ano em atenção primária. Isso me fez abrir, ainda mais, o olhar. A gente só muda o mundo por meio das políticas públicas e ajudando quem mais precisa.
Alagoas é o único estado com paridade entre homens e mulheres no secretariado. O que representa para as mulheres alagoanas?
Quanto mais mulheres na política, mais políticas para as mulheres. Isso aumenta as chances de que sejam atendidas as suas garantias. A gente precisa que as pessoas estejam nos lugares para que a mudança aconteça. Até agora, só Alagoas fez isso. Estamos tendo a oportunidade de dar o exemplo e construir uma nova perspectiva, a partir dessa experiência. Para haver uma mudança na sociedade precisa incomodar. Se fosse comum um primeiro escalão no governo com tantas mulheres, não teria todo esse holofote.
O que o governo de Alagoas fez foi atípico e essa decisão partiu de um homem, no caso o governador Paulo Dantas. Sou jovem e cresci vendo a predominância de homens no poder. Fazer parte dessa mudança me fortalece e, certamente, vai inspirar meninas e mulheres. O ano de 2022 entrou para a história com a atuação competente, de várias delas, como a secretária do Gabinete Civil, a jornalista Luiza Barreiros. Ela foi a primeira mulher a assumir essa pasta. Com certeza, essa representatividade contribui para que mulheres de outras esferas da sociedade se sintam representadas. E na Secretaria da Primeira Infância, ao compor a equipe, inserimos pessoas de povos originários, os filhos dos quilombos, LGBTQI+, autistas e transexuais. Essas pessoas precisam de campo para mostrar suas competências. Elas inspiram vidas, olhares e transformam a realidade.
Para você, qual a importância de ocupar uma secretaria que foi criada agora, mas que é necessária para a primeira infância?
Nossa missão é fazer um trabalho que se destaque para que a Secretaria da Primeira Infância não seja uma pasta temporária. Vamos provar que é necessária por tempo indeterminado porque os anseios das crianças são o presente e o futuro. Quando falamos sobre Primeira Infância (PI), falamos de vida, então, seria muito ingênuo restringir a saúde, a assistência e a educação.
É mostrar o tanto de trabalho que é possível fazer. A PI é um tema transversal e vamos continuar trabalhando para que o que está posto no Marco da Legal da Infância, a exemplo da Constituição Federal de 1988, do Estatuto da Criança e do Adolescente, da Convenção sobre os Direitos da Criança, Decreto nº 99.710/1990, além de outros documentos oficiais, sejam cumpridos a fim de assegurar uma infância saudável, segura e feliz para as nossas crianças.
Alagoas é o primeiro Estado do país a instituir uma secretaria para a primeira infância. O que deu respaldo para essa decisão foi o trabalho iniciado lá atrás, com as ações do Programa Criança Alagoana (CRIA), criado no governo do Renan Calheiros, e conduzido com extrema competência pela ex-primeira-dama, Renata Calheiros. A Secretaria Extraordinária da Primeira Infância foi criada a partir da Lei Delegada nº 48, havendo o entendimento da Assembleia Legislativa e do próximo governador, a secretaria poderá tornar-se definitiva e estamos dedicados para que esse seja o caminho.
Quais os projetos pretende desenvolver este ano?
A Primeira Infância tem um objetivo de continuidade e fortalecimento. Vamos entregar junto à Secretaria de Estado da Educação (Seduc) 200 creches, das quais 27 já foram inauguradas. A meta é cadastrar 150 mil pessoas beneficiárias no Cartão Cria, que transfere mensalmente R$ 150. Já temos 142 mil pessoas cadastradas.
Na área da saúde, a nossa prioridade é inaugurar o centro cirúrgico do Hospital da Criança (HCria). Além disso, vamos continuar com as ações e implementar outras que fortaleçam os equipamentos. O Creche Segura, que capacita profissionais da educação a atuar em caso de primeiro socorro envolvendo crianças. Faremos os inquéritos vacinais e a prioridade será atender os municípios com as menores coberturas vacinais. Outra iniciativa será o Criando Sorriso, que fará uma busca ativa com ações educativas ao ensinar sobre higiene bucal, a importância da escovação e do uso do fio dental. Sendo detectada a necessidade de algum tratamento, o projeto irá providenciar o encaminhamento da criança para os dentistas do município, onde reside cada criança.
As capacitações com as professoras das creches sobre os princípios básicos, métodos pedagógicos, que devem ser aplicados com as crianças, terão sequência. Temos o projeto com grêmios estudantis a fim de passar a importância da Primeira Infância e ao final abrir inscrições de bolsa de estudo para projetos voltados para a PI. Teremos ainda, na assistência, o seminário da Primeira Infância que vai envolver os municípios e algumas secretarias estaduais. Vamos ampliar a relação com o programa Criança Feliz. Em Maceió, teremos a Casa do Autista, um ambiente de atendimento multidisciplinar para autistas e suas famílias, em parceria com a Secretaria da Pessoa com Deficiência. A fim de democratizar a informação, produziremos e-books com temas variados relacionados à PI.
Além disso, estaremos trabalhando para crescer a rede de apoiadores juntos aos Poderes Judiciário e Executivo, a rede estadual, institutos, inclusive internacionais. Já estamos em contato com a Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal. O assento do Estado junto ao Conselho Estadual da Primeira Infância é ocupado pelo Gabinete Civil e estamos viabilizando que seja ocupado pela nossa pasta. Outra iniciativa nossa será reativar o Comitê Estratégico da Sesau, Seduc e Seads.
Como você enxerga a mudança de presidente? Acredita que Lula olhará mais para mulheres e trará mais projetos?
Sem dúvida. A vitória do presidente Lula nas urnas significa investimento em políticas públicas para o povo. Será muito positivo para as minorias, ainda mais quando a gente sabe do posicionamento do governo anterior com relação a misoginia, ditadura e que não existia minorias. A expectativa é que as nossas crianças e os diferentes tipos de famílias sejam valorizados. Uma das principais pautas do Governo Lula é combater a fome. A criança precisa ser alimentada, mas sua família também. Não tem como dissociar. Antes de pensarmos no desenvolvimento psicomotor, precisamos pensar na alimentação. Sem isso, como pensar, trabalhar, aprender? Combatendo a fome, a gente trabalha com esperança.
Quando recebeu o convite para ser secretária, aceitou de primeira ou teve medo de assumir o cargo? Por que decidiu aceitar?
Medo nenhum. Aceitei de cara. Todo o meu desejo para fazer a diferença será canalizado em trabalhar, estudar para que a PI avance. Sempre me dedico ao que me proponho a fazer, como na atenção primária, nas pautas durante a campanha para governo do Estado, defendendo a democracia. Assumir a Secretaria da Primeira Infância é, sem dúvida, a missão da minha vida. Temos uma equipe técnica competente, e também uma rede de apoio que são as secretarias, os conselhos. O nosso time vai se doar para fazer o melhor pela Primeira Infância.