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Mulher negra e descendente indígena: conheça Maria José, secretária da Mulher e dos Direitos Humanos de AL

Foto: Assessoria

Alagoas é o único estado em que há paridade de gênero nas secretarias. Das 27 secretarias, 14 são comandadas por mulheres. O Eufêmea inicia uma série de entrevistas com as secretárias que comandam pastas tão importantes.

A primeira entrevistada é a secretária Maria José, da Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh). Maria é uma mulher negra, descendente indígena da etnia Fulni-ô e defensora dos direitos humanos.

À reportagem ela contou sobre sua trajetória, projetos da Semudh para 2023 e sobre o que ela espera do governo do presidente Lula.

Confira abaixo a entrevista completa:

Quem é Maria José da Silva?

Sou administradora de formação, ativista, defensora dos direitos humanos, mulher, negra, descendente indígena da etnia Fulni-ô. Estou no Partido dos Trabalhadores há mais de 16 anos, seguindo os princípios da defesa daqueles que não tem voz, principalmente pela posição que hoje me encontro.

Aceitei a missão de representar, na Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos, as chamadas minorias, que na soma se tornam a maioria da população. Uma tarefa que demanda muito suor e energia, mas é gratificante na mesma medida. Trago na bagagem a experiência que tive como secretária da Central Única das Favelas (Cufa) e como superintendente do Nordeste pela Fundação Cultural Palmares, para continuar contribuindo com a pasta em nosso Estado.

Alagoas é o único estado com paridade entre homens e mulheres no secretariado. O que isso representa para você?

Avanço e respeito. Avanço pelo simples fato de que mulheres precisam de mais espaços na linha de frente, em posições de destaque e poder, pois quando uma mulher se levanta, ela levanta todas que estão ao seu redor. Uma frase do discurso de posse do governador Paulo Dantas resume bem a representatividade deste ato, quando ele disse que “Alagoas é um Estado conhecido por ser terra de cabras machos, e queremos que seja conhecido por ser terra de mulheres brilhantes”.

Alagoas mostrou ao Brasil que é, sim, possível haver igualdade entre homens e mulheres. Esperamos que isso se torne um efeito cascata não só em nosso Estado, como também no resto do país.

Alagoas teve um alto índice de casos de feminicídios no ano passado. A Semudh tem algum projeto para 2023 com a finalidade de reduzir esses crimes?

A Semudh é uma secretaria de articulação e que trabalha na promoção do combate à violência doméstica e familiar, com os direitos humanos, com recortes para a comunidade LGBTQIAP+, violência contra os povos tradicionais, ao racismo e aos mais vulneráveis, além de dar suporte e apoio às vítimas. Atualmente contamos com o Centro Especializado de Atendimento à Mulher – CEAM, que possui serviços psicológicos, jurídicos e de assistência social, para auxiliar as vítimas a começar uma nova vida.

Para 2023, teremos a entrega do Complexo da Mulher Alagoana que vai dar lugar ao CEAM. O espaço terá abrigo para as vítimas e seus filhos, bem como a ampliação do refeitório, o estacionamento e alojamento para os policiais da Patrulha Maria da Penha (que funciona no local) e playground, entre outras inovações, proporcionando mais segurança e conforto para as assistidas. Além disso, realizamos anualmente campanhas de conscientização e disseminação dos direitos femininos, como o Agosto Lilás, Outubro Além do Rosa e 21 Dias de Ativismo.

Quais projetos pretende desenvolver este ano?

Ainda estamos em fase de planejamento para os próximos meses, mas temos grandes projetos em vista. Além da reforma e inauguração do Complexo da Mulher, para 2023, temos duas novidades importantes na Semudh. Com a mudança de status da Superintendência de Políticas para a Pessoa com Deficiência para a Secretaria da Pessoa com Deficiência e Cidadania, o novo organograma da SEMUDH abriu espaços para a criação da Superintendência dos Povos Originários e a Superintendência de Igualdade Racial, seguindo a linha do Governo Federal. É um espaço maior e com a possibilidade de ampliarmos as campanhas com uma nova vertente, em parceria com os Conselhos, movimentos sociais e a sociedade civil.

Sendo uma mulher negra e descendente indígena, o que representa para você ocupar o cargo de secretária da Semudh?

Alagoas é uma terra de cultura única, com quilombos e aldeias espalhadas em seu território, comunidades ciganas e de pescadores e marisqueiras, recheada de histórias e encantos. Além de ser uma honra, ocupar o cargo da pasta da Mulher e dos Direitos Humanos com a ancestralidade ao meu lado, é motivo de felicidade e de responsabilidade.

Responsabilidade por representar as raízes do nosso povo, por entender a importância da luta contra a discriminação, o preconceito, quebrando estereótipos de gênero, raça e orientação sexual. É importante que cargos como estes sejam representados por aqueles que sentem na pele o preconceito e que fazem parte dessa luta, pois somente desta forma conseguiremos avançar em nossas pautas.

Tem sido uma gratificação enorme ser secretária da SEMUDH, conseguir avançar dentro de uma pasta tão importante e a nossa missão, enquanto Estado e enquanto órgão que cuida de atendimento direto à população que mais precisa, é continuar buscando conquistas em nome do nosso povo alagoano.

Quando recebeu o convite para ser secretária, aceitou de primeira ou teve medo de assumir o cargo? Por que decidiu aceitar?

Estou no cargo desde 2018, quando entrei na gestão do ex-governador e agora Ministro Renan Filho, onde recebi a confiança de assumir esta pasta tão nobre com o apoio do meu partido, o Partido dos Trabalhadores – PT, em especial do deputado federal Paulão. Agora, junto ao governador Paulo Dantas, fui convidada para assumir mais uma vez a Semudh e seguir um trabalho que vem dando muitos frutos para Alagoas, mesmo sabendo que muito ainda precisa ser feito. Isso é fruto de muita dedicação da minha equipe e de todos os nossos parceiros na busca por mais dignidade para quem mais precisa.

Como você enxerga a mudança de presidente? Acredita que Lula olhará mais para mulheres e trará mais projetos?

Todas as gestões do presidente Lula tiveram como princípios o combate à fome, o respeito à diversidade e o apoio ao desenvolvimento social e humano. Foi um homem que passou pela fome, pelo Sertão pernambucano e acumulou conquistas por meio do respeito que construiu ao longo dos anos com trabalho e dedicação pelo bem estar do seu povo. Foi assim que conseguimos sair do mapa da fome, e assim será novamente nos próximos quatro anos.

Não à toa, recriou o Ministério da Mulher e, junto à nova ministra Cida Gonçalves, que já ocupou o cargo de secretária nacional de enfrentamento à violência contra as mulheres nos mandatos de Lula, temos plena certeza que a pauta será tratada com carinho. O mesmo vale para a pauta da igualdade racial, dos direitos humanos e dos povos originários. Com o olhar diferenciado para nossas raízes e nossa história, estaremos no caminho certo.

Maria Luiza Lúcio

Maria Luiza Lúcio

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