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Por que a depressão atinge mais as mulheres e a população idosa? Especialistas explicam

O índice de mulheres com depressão é duas vezes maior do que em homens. Estudos apontam que o risco de depressão é entre 10% e 25% para mulheres. Enquanto isso, entre os homens, o índice fica entre 5% a 12%. Ao Eufêmea, especialistas falaram sobre o assunto.

A psicóloga clínica Mariana Gaia disse que isso ocorre devido a uma série de fatores sociais e biológicos.

“Mulheres mais velhas, com baixa escolaridade, donas de casa, separadas ou viúvas, em estado de insegurança alimentar, com baixa qualidade no sono, com alguma doença crônica e com relato de algum tipo de violência são as principais afetadas”, explica.

Vulnerabilidade social e emocional
Mariana Gaia, Psicóloga clínica

A psicóloga destaca ainda que a maioria dessas mulheres têm pouco ou nenhum acesso à informação, ou não dispõe de uma rede de apoio que incentiva a pedir ajuda, dificultando o acesso aos cuidados e tratamentos necessários.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), as mulheres que sofreram violência por parte do parceiro são quase duas vezes mais propensas a desenvolver depressão e problemas com álcool. A taxa foi ainda maior para as mulheres que sofreram violência sexual de não-parceiros.

Para Gaia, cabe ao Estado oferecer subsídios para o planejamento de políticas públicas de enfrentamento a violência contra a mulher para propor saúde mental e física.

“Muitas mulheres não vivem de maneira digna e satisfatória. Não há qualidade de vida, muito menos saúde mental e sem segurança”, afirma.

A discriminação laboral, o trabalho não remunerado e o viés sexista na redistribuição salarial tornam as mulheres ainda mais vulneráveis para depressão, de acordo com a psicóloga. “Mulheres trabalhadoras têm sido mantidas em trabalhos de baixa remuneração em um mercado de trabalho duplo que limita as oportunidades, e têm interrompido carreiras com obrigações e responsabilidades”.

Ressignificar dores
Gabriela Pachioni

Já a psicóloga clínica Gabriela Pachioni destaca a importância do Janeiro Branco, campanha brasileira iniciada em 2014 que busca chamar a atenção para o tema da saúde mental na vida das pessoas.

“Campanhas como Janeiro branco, setembro amarelo, novembro azul, tem o objetivo de viabilizar temas com o intuito de promover a prevenção e auxiliar na busca de hábitos saudáveis. Fazendo com que o sujeito pare e pense no bem estar físico e psíquico”, explica.

Ela analisa que buscar ajuda profissional é “ressignificar dores e dificuldades do dia a dia que não nos permite estar bem”.

De acordo com Pachioni, culturalmente as mulheres buscam mais auxílio quando se trata sobre o tema saúde do que os homens, evidenciando um número maior de mulheres nos consultórios e clínicas. “A realidade e a psicoeducação de campanhas como o janeiro branco tem mudado um pouco essa situação”, conclui.

A campanha Janeiro Branco também reforça a necessidade da busca pelo envelhecimento ativo, que ainda é um desafio para muitos idosos. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde, a população idosa é a mais afetada pela enfermidade, que atinge 13% das pessoas entre os 60 e 64 anos de idade.

“Essa é a faixa etária mais propensa a desenvolver doenças ou transtornos psiquiátricos, em especial a depressão”, comenta Paula Melo, psicóloga do Hapvida NotreDame Intermédica.

Causas da depressão na melhor idade
Paula Melo, psicóloga do Hapvida NotreDame Intermédica

Abandono familiar, sentimento de inutilidade, limitações motoras, solidão. Esses são alguns dos principais fatores responsáveis por desencadear a depressão na melhor idade.

“Em uma sociedade que muitas vezes privilegia a produtividade, os idosos são invisibilizados. Por isso, as limitações e os sentimentos trazidos pelas transformações que são impostas pelo processo natural de envelhecimento podem gerar uma carga emocional bastante pesada”, explica a psicóloga.

O transtorno depressivo pode causar sintomas como perda de apetite, irregularidades no sono, alterações cognitivas e até desânimo para realizar atividades que, até então, eram consideradas prazerosas. Por isso, os sintomas não podem ser negligenciados e a família deve ficar atenta a eventuais mudanças de comportamento.

Alzheimer e Mal de Parkinson

Além disso, Paula Melo afirma que o quadro depressivo no idoso também pode atuar como precursor de outros transtornos comuns à terceira idade, como o Alzheimer e a doença de Parkinson. Assim, a dica é incorporar alguns cuidados na rotina para contribuir para o bem-estar emocional e busca pela qualidade de vida.

“Momentos de lazer, por exemplo, trazem inúmeros benefícios, pois garantem oportunidades de distração, interação social e prática de atividades que eles gostam. Outra dica legal é criar uma rotina com horários e atividades bem definidas. Isso ajuda a recarregar as energias, manter o ânimo lá em cima e ainda trabalha a capacidade cognitiva”, ressalta.

“Por fim, contar com o apoio psicológico também faz toda a diferença nessa fase da vida. A terapia traz benefícios que vão desde o estímulo das capacidades cognitivas até a prevenção ou tratamento de doenças, como a depressão”, finaliza a profissional.

Serviços especializados existentes em Maceió:
– Caps Enfermeira Noraci Pedrosa (Jacintinho) – (82) 3312-5532
– Caps Dr. Sadi Feitosa de Carvalho (Chã de Bebedouro) – (82) 3312-5521
– Caps AD. Dr. Everaldo Moreira (Farol) – (82) 3312-5517
– Caps Dr. Rostand Silvestre (Jatiúca) – (82) 3312-5500
– Capsi Dr. Luiz da Rocha Cerqueira (Serraria) – (82) 3312-5540
Outros números de atendimento
– Centro de Valorização a Vida (CCV) – Ligue 188
– Centro de Promoção à Saúde, Educação e Amor à Vida (Cavida) – 82 98879-2710 / 99941-0326 e 98891-0820.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.