Thais Carla, 21 anos, dançarina. Natural do Rio de Janeiro, ficou conhecida em 2009 ao participar do quadro Se Vira nos 30, do programa Domingão do Faustão, da TV Globo, e ganhou o prêmio de 15 mil reais ao dançar uma música de hip hop.
Após participar do Legendários em 2012, fez parte do grupo de dançarinas da cantora Anitta de 2017 a 2019. Desde então, tornou-se figura notável nos camarotes durante o carnaval, incluindo o de Salvador. No dia 18 de novembro de 2021, participou do São Paulo Fashion Week.
Amanda Souza, 35 anos, consultora de imagem, mãe. Natural de Campinas, é adepta a tatuagens, foi casada duas vezes e diz gostar de viver romances nada superficiais.
Ficou famosa nacionalmente por participar da segunda edição do reality Casamento às Cegas, uma produção independente do streaming Netflix.
O que as duas têm em comum, além de serem influenciadoras e famosas? Recentemente, sofreram com episódios de gordofobia que foram amplamente divulgados.
A título de esclarecimento, a gordofobia é um neologismo criado para indicar o preconceito de pessoas que julgam o excesso de peso e a obesidade como um fator que mereça seu desprezo.
Amanda protagonizou o episódio durante o próprio reality. Ao conhecer seu pretendente Paulo Lopes pessoalmente, se viu rejeitada por sua aparência física, o que causou comoção nacional e rendeu a moça perto de 300 mil seguidores no Instagram, onde agora fala sobre aceitação, amor próprio, relacionamentos e preconceito.
O caso de Thais foi ainda mais recente. No último sábado, dia 4, a influencer postou uma foto provocativa com o corpo pintado num carnaval passado e os internautas logo levantaram a possibilidade de ser um spoiler apontando que ela poderia vir a ser a Globeleza 2023.
O deputado federal Nikolas Ferreira, do PL/MG, tweetou na foto de Thais que haviam tirado a “beleza” e só teria ficado o “globo”, ridicularizando a modelo que prontamente respondeu insinuando que iria processa-lo.
É importante esclarecer que, hoje em dia, crime de ódio e intolerância está mais ligado à etnia, raça e religião, não existindo interpretação para enquadrar a gordofobia, mas vale lembrar que uma ação movida pela própria Thais alguns anos atrás levou a condenação do humorista Leonardo Lins, a primeira condenação direta desse tipo, tendo sido o ato enquadrado como injúria e passível de dano moral.
Não bastasse o constrangimento pontual pelo qual as duas tiveram que passar, esses episódios são só o que algumas pessoas precisam para despertar seus gatilhos de preconceito e destilar o ódio em cascata.
Não é incomum que esse tipo de post gere uma série de comentários contra e pró agressor. Isso mesmo. Muita gente sai em defesa do autor da injúria e, na maioria das vezes diminuindo, fazendo chacota e trazendo o argumento: “está na chuva é para se molhar”, ou seja, se expôs agora aguente as consequências da opinião pública.
Mas qual o limite dessa opinião? A palavra deriva do latim “opinio,onis”, que significa modo de pensar”. Ou seja, trata da esfera do pensamento onde realmente nem o direito penal tem o poder de punir. Você está livre para pensar o que quiser.
Mas a partir do momento em que você expressa isso, a coisa muda de figura. Voltemos para os anos 90, o início da década de 2000, onde quase ninguém tinha acesso à internet. Você, uma pessoa gorda, preta, homossexual, ao sair na rua está se expondo? Eu diria que sim. Está se expondo a uma dezena e até centena de pessoas que cruzam o seu caminho naquele trajeto. Isso dá o direito de alguém caminhar na sua direção e te injuriar, te agredir verbalmente por não gostar do seu peso ou cor?
A diferença está na escala, o limite continua sendo exatamente o mesmo. As redes sociais escalaram a exposição que saiu da casa da dezena e pode ter ido aos milhares, até milhões. O limite, caras, continua exatamente igual: é o bom senso e a empatia.
A frase famosa: “meu direito acaba onde começa o do próximo” e se colocar no lugar do coleguinha, funcionam em qualquer ocasião, independente de década e de exposição.
Sua opinião acaba quando começa a ferir o respeito ao próximo, aí já passa a ser falta de educação, de respeito e, em alguns casos, crime.