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Escritora de cultura nordestina atrai seguidores com literatura de cordel: “arte é um ato político”

Foto: Cedido

Por meio do cinema, música, dança, poesia, a arte faz a diferença e cria conexões. Essa é a definição da alagoana Maryana Damasceno, escritora de arte, poesia e cultura nordestina. Ao Eufemea, a artista conta sua trajetória com a escrita e a afinidade com a literatura de cordel.

Natural de Santana do Ipanema, no Sertão de Alagoas, Maryana cresceu sendo uma criança leitora. Ela conta que teve muito incentivo literário de sua família, que a presenteava com quadrinhos e livros. “Isso, sem dúvida, estimulou a minha criatividade. Li muitos gibis do Maurício de Souza, livros de fantasia mais robustos, como Harry Potter, e sempre ia me envolvendo com a escrita e com o poder dela”.

Prazer pela comunicação

Ainda na infância, Maryana começou a escrever as próprias histórias, muitas não foram concluídas, mas estimulava a imaginação e incentivava que continuasse no processo de escrita. Foi o prazer pela comunicação que fez Maryana cursar Jornalismo.

“Durante o curso, um professor desafiou a turma a explicar o assunto que estávamos estudando de uma maneira diferente, e foi aí que resolvi tentar escrever minha primeira literatura de cordel”, explica.

De acordo com a jornalista, o processo de poesia fluiu de forma natural, já que ela conhecia o gênero literário e como ele se estruturava.

“Assim, a poesia foi fluindo e vi que estava dando certo. A cada verso, a satisfação aumentava por conseguir explicar exatamente o que eu queria, de forma simples, rimada, e dentro das características que o cordel exigia”.

Foi através do desafio proposto em sala de aula que a inspiração veio, depois disso a alagoana continuou escrevendo e percebeu que “a vida e tudo que ela coloca ao nosso redor, pode ser inspirador”.

“A arte é importante em nossas vidas”

O trabalho da escritora é exposto para os leitores através do Instagram, na conta @‌1assunto1cordel. Ela conta que decidiu criar a conta após o incentivo de sua mãe, antes disso as produções ficavam guardadas de forma aleatória e muitas se perderam ao longo do tempo. “Um dia, minha mãe perguntou como poderia mostrar meus cordéis para as pessoas, e me dei conta que eu não tinha nenhum tipo de acervo”.

“Isso aconteceu durante a pandemia, e era um período em que eu, como tantas pessoas, estava me sentindo mais solitária, e percebia, de forma mais gritante ainda, como a arte é importante em nossas vidas. Seja por meio do cinema, da música, da dança, da poesia, ela faz a diferença, e cria conexões”, continua.

A primeira postagem do perfil, em 2020, foi sobre política. A ideia surgiu junto com o sentimento de “grande indignação com o descaso do governo da época”. Com as mortes devido ao coronavírus, a escritora resolveu desabafar por meio de um cordel e criar o perfil para publicá-lo.

“Criei o perfil para poder levar meus sentimentos para além de mim. Conversei com meus irmãos sobre essa vontade e eles me deram total apoio, sendo, inclusive, o nome da página ideia de um deles”.

Sobre o processo de inspiração para a escrita, ela diz que é muito importante reconhecer o momento certo para criar. “A inspiração não é algo forçado, ela vem e vai, variando com os estímulos que tenho. Se não fluir, faço uma pausa. Se estiver fluindo, as palavras saem de forma bem mais leve”, conta.

No entanto, a artista revela que nem sempre é um processo rápido, mas estar em silêncio e ler em voz alta o que está escrevendo é uma dica crucial. “Ouvir se a rima está boa, se as palavras estão se encaixando no tempo certo da métrica do cordel, e se aquilo, de alguma forma, me toca. Me considero crítica, mas sensível.”

Arte é um ato político

De início os textos sobre política já trouxeram seguidores que gostam do tema, Damasceno relata que sempre foi uma pauta presente pois acredita na força do posicionamento social para atrair pessoas que se identifiquem. “Afinal, a arte é um ato político”.

Ela diz que o engajamento aumenta quando aborda sentimentos cotidianos, como amor e saudade, além dos assuntos que estão em alta no momento. “Apesar de ser sempre bem curtido pelos seguidores, nem sempre consigo dar conta por um simples motivo: tempo”.

Uma das principais inspirações da jornalista é a música do Nordeste, como Maria Bethânia, Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho, Chico César, Belchior, Gal Costa e Djavan.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Colaboradora do portal Eufêmea.