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Evitar emoções dolorosas é saudável? Por que fazemos isso?

Em um mundo onde é preconizada a autonomia de forma bastante distorcida, expressar vulnerabilidade e buscar apoio emocional pode ser um verdadeiro desafio. O desconhecimento da forma mais saudável de lidar com nossas emoções nos faz recorrer aos modos mais primitivos biologicamente instaurados.

Há uma grande inibição nas expressões e muitos se vêm sem saída diante das diversas dificuldade e acabam buscando fugir dos seus problemas e emoções. No entanto, apesar de natural, esse caminho pode apresentar grandes consequências como o adoecimento mental e/ou físico.

Compreendendo que o cérebro humano é dividido em diversos “setores”, é necessário entender que, assim como em uma empresa, os setores têm funções e velocidades diferentes para a execução do seu trabalho.

Portanto, quando algo emocionalmente difícil nos acontece, o setor defensivo do nosso cérebro age muito rapidamente para nos proteger e ao cumprir sua função, nos coloca diante de três possibilidades imediatas: lutar, paralisar ou fugir.

Diante da sensação de ameaça, age a amígdala cerebral, uma área mais primitiva do cérebro, um “setor” extremamente rápido, mas nem sempre preciso na sua escolha. Também é chamado a atuar o córtex cerebral que é um setor mais evoluído, com capacidade mais analista e racional. Então, a depender do seu repertório, temperamento e da capacidade de interlocução entre as duas áreas, serão apresentadas saídas mais ou menos saudáveis para lidar com as emoções que surgem em situações estressoras.

A problemática é que esse setor mais moderno do cérebro e extremamente eficaz é muito lento se comparado ao primeiro mais primitivo, e quando menos percebemos já reagimos defensivamente de uma forma não assertiva.

Quando falamos em evitar as emoções, o estilo de enfrentamento é a fuga, que pode aparecer tanto no processo de bloqueio de pensamentos desagradáveis e lembranças dolorosas, ou simplesmente o não acesso, ou ainda, não expressão da sensação emocional naturalmente mobilizada diante de uma situação estressora. Então, a fuga surge como uma reação de defesa pré-programada em nosso cérebro.

Mas se ela é uma defesa natural, como pode ser tão prejudicial?

A questão aqui é: esse mecanismo que pode salvar nossa vida em algumas circunstâncias, em outras, especialmente se usado de forma generalizada e repetitiva, libera em nosso organismo agentes bioquímicos que não se limitam à área cerebral, sendo liberados em todo nosso organismo, através dos neurotransmissores e um coquetel de ativações hormonais.

Um fator importante que negligenciamos é que seres humanos precisam da expressão das emoções para se autorregular, bem como, muitas vezes, precisa de acolhimento e afago de outros seres humanos ou até animais.

Mas por que evitamos aquilo que é necessário?

Isso pode estar relacionada a uma fase muito inicial da vida. O bebê quando nasce não tem capacidade de fazer autorregulação e necessita totalmente do outro para isso, quando não atendida essa necessidade primordial, sente-se extremamente inseguro e desamparado, podendo gerar traumas muito precoces.

Quando necessidades básicas emocionais são negligenciadas durante o seu desenvolvimento, o aparato de busca de regulação no outro e de acesso às emoções podem ser “desligados” defensivamente, então a expressão das emoções também é cortada, já que a resposta a ela foi por muito tempo inexistente. Em outros momentos da vida essa necessidade de evitação pode surgir após traumas, ou situações muito estressoras em que percebemos que a expressão das emoções seria algo muito negativo ou até perigoso.

As consequências dessa forma de enfrentar a vida dificultam o acesso, a compreensão e a expressão de emoções, que acabarão sendo possivelmente canalizadas em nosso organismo como adoecimentos físicos: baixa de imunidade, problemas cardíacos, estomacais, intestinais, de pele, entre outros. Também afetam nossa saúde mental tendo como consequências transtornos psicológicos diversos.

É imperativo que se encontre a melhor forma de vivenciarmos as fases ou situações dolorosas da vida, não fugindo da dor e de pessoas que possam ajudar oferecendo orientação, acolhimento e segurança, desenvolvendo a capacidade de autorregulação emocional, afinal, não precisamos e nem devemos passar por caminhos tortuosos sozinhos escondendo nossas dores.

Se permita ser cuidado! Uma base segura é curativa ao processo evitativo que construímos como defesa. Busque sua base segura, ela pode vir de familiares, do parceiro, dos amigos e também de um processo terapêutico genuíno e humano.

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Natasha Taques

Natasha Taques

Psicóloga clínica (CRP-15/6536), formada em Terapia do Esquema pelo Instituto de Educação e Reabilitação Emocional (INSERE), Formação em Terapia do Esquema para casal pelo Instituto de Teoria e Pesquisa em Psicoterapia Cognitivo-Comportamental (ITPC).