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Fala de vereador sobre ‘dar coça’ em trans revolta mulheres: “discurso potencializa violência sofrida por nós”

Foto: Natasha Wonderfull

A fala do vereador Franciney Joaquim, da Câmara Municipal de Coruripe, em Alagoas, de que mulheres trans devem “sofrer uma coça” caso tentem usar banheiros femininos, gerou reações de reações de entidades e da comunidade LGBTQIA+ em Alagoas. Ele pontuou ainda que “banheiro feminino é para mulheres biologicamente femininas”.

O caso repercutiu após o ocorrido na praça central de Coruripe, onde mulheres trans foram impedidas de utilizar o banheiro.

Ao Eufêmea, a presidente da Associação Cultural de Travestis e Transexuais de Alagoas (ACTTRANS), Natasha Wonderfull, disse que o vereador usou da religião para propagar discurso de ódio.

Incitação à violência

“Eu fico muito triste! Me incomodou quando eu estava vendo aquele vídeo, que é uma violência em nome de Deus. Essa história de família tradicional me preocupa muito porque a maneira que ele falou pode incentivar outras pessoas que têm o mesmo pensamento e incentivar a violência”, destaca.

De acordo com ela, a comunidade luta constantemente contra os discursos transfóbicos, com o objetivo de que o pensamento mude e a violência seja cessada. “Estamos na batalha, mas parece que esse tipo de discurso é infinito, parece que nunca acaba. Nós, da militância, temos que lutar, mas é uma pauta que não era para existir mais, em pleno século 21 era pra ser outra outra maneira de pensamento”.

“Espero que esse senhor mude, que os filhos dele não tenham o mesmo pensamento do pai, que venha com outra cabeça. Que ele não leve isso para o lado violento, não incentive os filhos a serem violentos”, continua.

Ainda de acordo com Natasha, é necessário representantes transexuais na política nacional para incentivar e apoiar  a luta diária da comunidade. “É triste Alagoas não ter ainda representante trans ainda em Brasília. Vamos lutar pra ter!”, comenta.

“Situação de vulnerabilidade”
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Já para a estudante e mulher trans Nefertiti Souza, a principal problemática na fala do vereador é a disseminação do discurso de ódio. Ela analisa que, para o vereador, a existência de mulheres trans é um ataque moral à sociedade.

“Esse ataque é a materialização do pensamento já existente de que não há direito a existência para mulheres trans, pois, nossa existência fere os dogmas religiosos e estruturais da sociedade”, destaca.

Ela expõe ainda que esse tipo de discurso pode potencializar a violência sofrida diariamente por mulheres trans e travestis. “Essa fala infelizmente pode dar mais força a pessoas que só querem praticar violência como o vereador, que não apresentou uma proposta para solucionar a grande problemática sofrida por mulheres em uma praça da cidade”.

“Quando um representante do governo, seja em qualquer esfera, profere discursos incentivando a violência contra corpos que já estão em situação de vulnerabilidade, o mínimo é que seja feita a retirada do indivíduo do seu cargo, por ir contra nossa constituição”, disse.

Resposta do vereador

Em seu perfil nas redes sociais, o vereador repostou várias vezes o trecho do vídeo em que aparece falando sobre o uso do banheiro feminino por mulheres trans. Durante seu pronunciamento, nenhum outro vereador presente à sessão questiona a sua fala.

“Seja na escola, seja no hospital, seja no posto de saúde, seja na praça, banheiro feminino é para mulheres biologicamente femininas e banheiro masculino é para homens biologicamente masculinos. E aqui não tem homofobia nem transfobia. Aqui tem respeito à família”, defendeu Franciney.

“Não passará por essa Casa, sob a minha rege, nenhuma lei, nenhuma indicação, de que pessoas que só porque dizem que são de um sexo, usem um banheiro diferente do que ele é, biologicamente falando. Eu não estou aqui para agradar ninguém, eu estou aqui para defender os meus princípios cristãos e pessoais, defender a família, a ética, a moral e o bom costume”, finalizou o vereador.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Colaboradora do portal Eufêmea.