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Violência escolar: psicólogas alertam para bullying e discurso de ódio entre crianças e adolescentes

Os recentes casos de ataques nas escolas brasileiras acendem um alerta sobre a saúde mental de crianças, adolescentes e professores. Ao Eufêmea, psicólogas reforçam a importância do acolhimento no ambiente escolar e destacam os principais sinais comportamentais de atenção.

A psicóloga infantojuvenil, Maria Eduarda Ferro, explica que os recentes casos de violência nas escolas expõem a necessidade de psicólogos para estudantes e professores. “O apoio psicológico é fundamental pois quando estamos diante de relações, como no caso das escolas, nos deparamos com questões que atravessam todas as fases de desenvolvimento”, diz.

“Atenção e acolhimento”

De acordo com ela, quando o colégio não possui um profissional qualificado, dificulta visualizar problemas nas escolas como bullying, exclusão, violência, problemas de autoestima, cobranças excessivas, entre muitos outros.

Para Ferro, além do apoio psicológico, é preciso avaliar a forma de lidar com crianças e adolescentes e acompanhar as questões inerentes ao desenvolvimento e as relações sociais. “Algumas circunstâncias, infelizmente, fogem do controle das escolas”, esclarece.

“O profissional psicólogo dentro da escola irá analisar essas demandas e convocar a equipe, os alunos e as famílias para visualizar o que pode ser melhorado e melhor acolhido. Algumas situações escolares precisam ser revistas com cuidado, atenção e acolhimento”.

Sinais comportamentais

Além disso, a psicóloga alerta para os sinais comportamentais em crianças e adolescentes que os responsáveis devem ficar atentos. Para ela, alguns comportamentos podem ser considerados normais, no entanto é necessário intervir quando ultrapassa um limite funcional.

“É natural que o adolescente se isole, volte mais a atenção aos amigos e aos pares, tenha conflitos internos. Contudo, é importante intervir quando prejudica o desempenho escolar, a vida social, o relacionamento com colegas”, explica.

Após a percepção desses sinais, é preciso analisar o caso de forma individualizada e oferecer extremo acolhimento. Antes disso, é importante se vincular à criança ou adolescente, entender o que está acontecendo, o que ela está sentindo e como ela gostaria de ser ajudada. “Esse olhar precisa ser comunitário. Diversas situações dentro e fora da escola podem colaborar para isso, e não podemos fechar os olhos”, pontua.

“É importante que possamos passar segurança, mas também demonstrar nossa preocupação com a situação. É uma questão universal, escola, família, sociedade, todos estamos envolvidos”, finaliza.

Aspectos sociais

Já para a psicóloga clínica, Amanda Coimbra, a sociedade está presenciando um fenômeno que faz parte de um contexto social de adoecimento psíquico dos jovens, crianças e da sociedade como um todo.

“Entre muitos questionamentos que precisam de propostas resolutivas e urgentes, não podemos deixar de considerar os aspectos sociais excludentes, que marginalizam e privam o acesso a um desenvolvimento suficientemente bom dos seres em formação”, explica.

Ela destaca ainda a urgência para que pais e responsáveis se aproximem e se apropriem dos conteúdos consumidos pelas crianças, adolescentes e jovens, além de administrar o tempo de uso de telas, os formatos e buscar orientação para evitar a perpetuação do ódio e da violência.

Foto: Cortesia

Alguns adolescentes são alvos de bullying e vivem em situações de violência doméstica. Amanda expõe que um ser em pleno desenvolvimento precisa de um ambiente saudável e de acolhimento para que estruture a sua personalidade com confiança e tranquilidade. “Um ambiente aversivo, seja ele a casa ou a escola de um jovem, pode trazer consequências desastrosas que quando não cuidadas se perpetuam nos reflexos pelo resto da vida”.

“Ciclos de violência se repetem quando não existem possibilidades de rupturas, por isso os lares e as escolas precisam estar preparados para serem espaços potenciais do desenvolvimento humano”, continua.

Vulnerabilidade a ideologias extremistas

Na avaliação da psicóloga, os massacres em escola são efetuados por jovens que sofreram inúmeras privações e negligências ao longo da vida e são motivados pela vulnerabilidade dos que o cometem à ideologias extremistas, a grupos que cultuam o ódio e a possibilidade de acesso a armas de fogo. Já os alvos são escolhidos pela situação de fragilidade entre crianças, jovens, adolescentes e corpos docentes.

“Em sua maioria formado por mulheres, que ocupam ambientes nos quais utopicamente não precisariam vivenciar o sentimento de insegurança e nem a necessidade de preparações para autodefesa”, afirma.

Coimbra denuncia que os tabus em torno da promoção da saúde mental ainda são grandes socialmente e que não há investimento suficiente nas redes de profissionais que acolham as crianças e adolescentes que precisam de apoio e acolhimento.

“Políticas públicas são urgentes para o crescimento da rede de cuidados para esse e outros públicos”, conclui.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas. Colaboradora do portal Eufêmea.