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Acessos de raiva e afronta contra os pais: especialistas explicam o que é TOD e como identificar

Foto: Internet

Você conhece ou já ouviu falar do Transtorno de Oposição Desafiante (TOD)? Apesar de não ser tão falado na mídia, o transtorno existe e provoca, principalmente em crianças, acessos de raiva, afronta contra pais e professores, desprezo de regras, gritos ou esperneio diante de frustrações. Ao Eufêmea, especialistas explicam o que é esse transtorno, que muitas vezes pode ser confundido com birra ou falta de educação.

A mestre em Ciências e pós-graduanda em TOD, Gisele Wandermur, explica que o TOD é um transtorno que ocorre principalmente na infância e adolescência, sendo caracterizado por três grupos de sintomas: humor raivoso e/ou irritável, comportamento desafiador e índole vingativa.‌

Foto: Cortesia ao Eufêmea

“É importante destacar que, apesar dos sintomas afetarem bastante o comportamento, existe uma base emocional importante que jamais deve ser ignorada”, comenta.‌

De acordo com a especialista, o TOD causa uma baixa capacidade de regulação emocional, então na prática a gente observa a criança/ adolescente se desregulando por motivos aparentemente pequenos e ajudar essa criança/adolescente a regular-se emocionalmente é fundamental. “Com o tratamento adequado, essa pessoa vai aprendendo habilidades que vão ajudá-la a se regular de forma cada vez mais adequada”.

Como identificar

A profissional alerta que é necessário estar atento a três parâmetros para identificar se um determinado comportamento requer a nossa busca por ajuda profissional. São eles: frequência, persistência e prejuízo.

“Se um determinado comportamento está sendo bastante frequente, mesmo sofrendo correções; se ele é persistente, e demora a passar mesmo que os adultos ali envolvidos estejam usando estratégias para ajudar essa criança”, explica.

Para Gisele, há ainda outros alertas: “se demonstra prejuízo para a criança (agressividade com familiares, colegas e dificuldade em socializar) ou para seus familiares (os pais já não conseguem sair para qualquer lugar com a criança,  um quadro de ansiedade e/ou depressão como consequência do que se passa com a criança, entre outros); apresentando esses três parâmetros já podemos desconfiar da possibilidade de um transtorno envolvido e é necessário buscar uma avaliação médica e psicológica”.

Causas e diagnóstico

Com relação às possíveis causas do transtorno, Gisele afirma que há muito a ser esclarecido. “Mas o que já se sabe é que fatores genéticos e fatores ambientais estão envolvidos”.

Segundo ela, ainda se percebe uma demora para as famílias buscarem ajuda diante desses casos após a criança apresentar os primeiros sintomas.

“Eu atribuo isso ao fato de que, por serem sintomas predominantemente comportamentais, em um primeiro momento os pais podem achar que é uma mera falta de limites, que talvez sendo mais rígidos possam “corrigir” tais comportamentos. Mas, se de fato a criança tiver TOD, não será um aumento na rigidez que irá resolver”, diz.

Wandermur destaca que o diagnóstico de TOD é feito por um médico, que realiza sua avaliação clínica, mas também requer uma avaliação de outros profissionais. “Geralmente o médico vai considerar o relatório da escola e, no mínimo, uma avaliação psicológica”.

“Dependendo do caso, este pode identificar a necessidade de outros tipos de avaliação para realizar esse diagnóstico. Importante destacar que não há um exame para diagnosticar o TOD, esse diagnóstico costuma ser puramente clínico. Se uma família desconfia que a criança ou adolescente pode ter o transtorno, vale buscar um neuropediatra ou um psiquiatra infantil”, afirma.

“Não há uma causa específica”
Foto: Cortesia

A psicóloga Roseanne Albuquerque esclarece que o TOD geralmente ocorre na infância e vem acompanhado de agressividade, raiva e desobediência, principalmente aos pais e às figuras de autoridade.

“Quanto às causas, não há uma específica. Existe uma predisposição neurobiológica aliada a fatores de risco e disfunções no ambiente no qual essa criança está inserida”, explica.

A profissional esclarece ainda sobre o diagnóstico do transtorno. Segundo ela, normalmente, para diagnosticar uma criança com TOD há quatro critérios. “A criança que se encoleriza frequentemente, discute com adultos e autoridades, desafia as regras dos adultos, que culpa os outros pelos seus erros, provavelmente, tem esse transtorno”, afirma.

Relação entre TOD e TDAH

Já com relação à relação entre TOD e TDAH, Roseanne ressalta que o transtorno de atenção é um um distúrbio neurobiológico caracterizado por inquietação, impulsividade e desatenção.

“Enquanto o TOD é uma interferência no comportamento da criança, através da irritabilidade, de muita raiva. Então normalmente as pessoas associam os dois. A criança pode, inclusive, ter os dois. Mas é importante que isso seja avaliado e que a criança seja levada a um especialista”, informa.

Segundo ela, um neurologista pode realizar a avaliação, oferecer um diagnóstico e encaminhar o paciente para outros setores de tratamento. “Seja o fonoaudiólogo, o psicólogo, psicopedagogo, terapeuta ocupacional. Todos terão a importância de acordo com a necessidade dessa criança”.

“Um desconhecido assustador”
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Andreia Rossi é psicopedagoga, educadora parental e mãe. Sua história com a maternidade atípica iniciou em 2007, com o nascimento da filha. Ela conta que nos primeiros anos de vida, a criança apresentava ganhos tardios de desenvolvimento.

“Quando completou quatro anos, ela ingressou no ambiente escolar. Foi neste período que observamos um desenvolvimento diferente, mais lento, menos tolerante à frustração e mais reativo. Procuramos ajuda de uma psicóloga e, a partir deste momento, nunca mais deixamos as terapias de lado”, relata.

Aos sete anos, a filha apresentava muitos prejuízos sociais e acadêmicos, tinha uma intolerância à frustração além do esperado. “Não conseguimos ajudá-la com o conhecimento que tínhamos. Procuramos uma neuropsicóloga especializada em Terapia Cognitivo Comportamental, que nos ajudou a alinhar a situação e trazer um pouco de equilíbrio para a rotina da família”.

“Iniciamos o processo de avaliação neuropsicológica para compreender o que estava oculto no comportamento da nossa filha. Foi quando recebemos o diagnóstico do TOD + rebaixamento cognitivo limítrofe. Um desconhecido assustador que nos tirou dos eixos. Mergulhamos em informações de todos os níveis para minimizar qualquer medo ou insegurança”, relata Rossi.

“Infelizmente ainda é pouco falado sobre este transtorno oculto”

Segundo ela, diante desses casos, ter uma rede de apoio faz toda a diferença e os familiares podem ajudar a identificar possíveis comportamentos que possam apontar para um diagnóstico do TOD.

Andreia ressalta ainda a importância da parceria entre família, escola e profissionais da saúde mental. “Eles podem trabalhar juntos em prol do acolhimento deste estudante e promover um ambiente mais acolhedor, com regras claras e combinados pré-estabelecidos. Isso favorece todo o grupo e poderá minimizar a exposição da criança que tem o TOD, evitando rótulos ou exclusão”.

“Quando vamos para o ambiente escolar, o TOD é pouco conhecido. Infelizmente ainda é pouco falado sobre este transtorno oculto e, normalmente, a criança que o tem possui um humor mais raivoso, o que faz com que ela seja estigmatizada como uma criança desobediente, mal humorada e antissocial”, completa.

Para Rossi, é fundamental ressaltar que toda criança tem sua imaturidade emocional e, enquanto amadurece, vai adquirindo habilidades sociais e capacidade de regular as próprias emoções. “Porém, quando a criança apresenta prejuízos nas relações sociais e acadêmicas, é importante entender a necessidade de buscar ajuda de um profissional”.

Acolhimento às famílias

Atualmente, a educadora atua em favor da inclusão e direitos das crianças com o transtorno opositor desafiador e suas comorbidades. Ela possui um projeto social de acolhimento às famílias com filhos diagnosticados com TOD ou outros transtornos neurocomportamentais.

“O objetivo é encorajar uma nova maneira de se relacionar com os filhos, apresentando uma abordagem acolhedora, focada no desenvolvimento de habilidades sociais, resolução de problemas e filhos colaborativos, com capacidade de reconhecer e regular as próprias emoções. Precisamos refletir sobre a maneira que tratamos e nos relacionamos com os nossos filhos. Quais são as expectativas que criamos e como lidamos com os filhos reais”, finaliza.

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Maria Luiza Lúcio

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