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Masculinidade tóxica: homens precisam questionar quão nociva é essa construção social e cultural

Falar sobre comportamento masculino em portal feminino parece lugar comum. O propósito é pela urgência do debate sobre a violência, cada vez mais refinada, a que muitos sujeitam as mulheres, até sem se dar conta. É necessário que os homens questionem quão nociva é essa construção social e cultural misógina que valida a masculinidade tóxica. Esse debate vem sendo carregado pelas mulheres, ainda de maneira tímida, porque a maioria delas é que sofre os seus efeitos.

A nossa estrutura social convencionou que o homem não deve falar sobre suas emoções nem demonstrar fragilidade, porque não pode demonstrar fraqueza. Desde meninos são envenenados pela figura alegórica do homem que não chora, não brinca de boneca, não pode usar rosa e tem que gostar de futebol. E esse mito da virilidade até hoje alimenta misoginia, machismo e violência e mantém um sistema cujos homens colocam as mulheres como meras reprodutoras. Para eles, a mulher ideal deve ser omissa, aceitar a dominação masculina, considerar o parceiro como superior, usar roupas recatadas, não manifestar o que pensa e não ser mãe solteira.

Nesse contexto, é compreensível essa crise de masculinidade para aqueles que só vislumbram homem como sinônimo de poder e virilidade. Quem só enxerga essas utilidades não saberá lidar com a autonomia feminina. Quantos homens que você conhece têm mulheres como ídolos? Inconscientemente ou não, a maioria só idolatra homens. Diante de todas as conquistas alcançadas pelas mulheres no decorrer do tempo, nenhuma aceita retroceder ao período da opressão e dominação.

Muitos casais estão vivendo luto no próprio casamento. A relação é infeliz, não vivem bem, mas não separam. Os motivos são variados, mas aqui trato especificamente dos vários tipos de violência sofrida pela mulher, que nem sempre compreende que está numa relação abusiva.

O homem, apesar da cultura machista que durante muito tempo anestesiou a consciência da sociedade, pode iniciar o seu processo de desconstrução de estereótipos de gênero tendo a coragem de olhar para sua postura. Não existe nenhum estudo científico que afirme a existência de um cérebro masculino e feminino, principalmente para justificar um comportamento tóxico. Não reproduza o discurso de que “homem é assim mesmo”.

Meu convite é para que as mulheres percebam as nuances e sutilezas (nem tão sutis assim) das condutas masculinas, e para que os homens façam autorreflexão. Nem sempre a violência física é uma violência maior que a violência moral.

O homem é abusivo e passivo-agressivo quando: tem a mania de interromper ou não dar atenção à fala das mulheres; faz ou ri de quem faz comentários abjetos sobre o vestuário feminino; não consegue ouvir não como resposta a uma investida e forçosamente assedia; ensina ao filho a falar palavrão ou pegar na genitália e mostrar para as meninas; não é colaborativo e nem faz a sua parte nas tarefas domésticas e na criação dos filhos porque é “coisa de mulher”; numa discussão, enche o peito e se arma pra intimidar, como se dissesse “tá vendo? Sou perigoso!”; coloca defeito na fala, na comida, em tudo, com a intenção de diminuir a mulher; arremessa ou quebra objetos, bate porta, soca a parede; pratica violência patrimonial utilizando dinheiro pra adquirir poder e respeito (eu sou provedor, portanto eu que mando); diz que a culpa é mulher por ficar nervoso, não se responsabiliza pela própria falta de regulação emocional; toma decisões individualmente; faz chantagem emocional dizendo que vai se matar; fala de coisas que sabe que magoam, usa segredos que foram compartilhados como arma para chantagear ou manipular. obriga a mulher a reproduzir a pornografia contra sua vontade, de uma maneira humilhante e degradante.

Além do velho e conhecido Gaslighting, uma forma de violência psicológica: “foi só uma brincadeira”, “você está ficando louca”.

Eu desejo que você, homem, ao se reconhecer abusivo, procure ser uma versão cada dia melhor de si mesmo. Rompa a casca do machismo e seja responsável por fazer do seu círculo de amizades masculinas um ambiente não tóxico e não misógino. Para as leitoras que vivenciam esses abusos, o meu abraço. Como você está reagindo ao que está vivendo? Estabeleça limites, procure ajuda para sair desse ambiente adoecido. Lembre que amor é fartura, e não escassez.

Estou no Instagram: @carlabprado