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“Paixão, cultura e valor”: nordestinas compartilham experiências e destacam atuação feminina no ramo do café

Por trás das xícaras aromáticas e sabores distintos, as mulheres ganham cada vez mais destaque por impulsionar a qualidade e a inovação no mundo do café. Do plantio do grão até o preparo, essas produtoras vêm deixando sua marca na indústria cafeeira.

“Mulher é detalhista, sensível, afetuosa. Tudo que a mulher coloca a mão tem sensibilidade e amor”, destacou Tamyris Oliveira, empresária de 36 anos, sobre o papel das mulheres na cafeicultura e a importância de sua presença nesse mercado predominantemente masculino.

Gênero na produção do café
Foto: Cortesia ao Eufêmea

Ao Eufêmea, Tamyris conta que atua há oito anos no ramo do café, com a “Chapelatto”, um ponto convidativo de cafés especiais em Natal, Rio Grande do Norte.

A empresária é especializada em estratégias de marketing digital, posicionamento de marca, branding e experiência do cliente. Ela ressalta a relevância das mulheres em todas as áreas e destaca sua especialidade em atender ao público feminino. 

“A presença da mulher é de extrema importância, não para competir, não para eliminar, não para dizimar os homens, mas para ter uma abordagem totalmente diferente”, expõe.

Mais de 40 mil estabelecimentos agrícolas brasileiros com produção de café são dirigidos por mulheres. Esse número equivale a apenas 13,2% dos 304,5 mil existentes. As informações são da análise dos dados levantados em 2017, no último Censo Agropecuário realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que pela primeira vez trouxe dados sobre gênero na produção do café.

Na avaliação de Oliveira, o protagonismo feminino ainda é limitado no mundo do café, e atribui isso a diversos fatores, incluindo o machismo estrutural enraizado nesse setor.

No entanto, Tamyris acredita que as mulheres devem superar essas barreiras e buscar seu espaço de destaque, entendendo que enfrentarão julgamentos e desafios. “É preciso ter um posicionamento, estratégia e propósito para os seus objetivos e ir em frente”.

“Unir pessoas e criar conexões”

Tamyris relata sua experiência pessoal como empreendedora na área do café. Ela conta que começou de “forma aleatória”, já que anteriormente era uma militar da aeronáutica, mas sempre soube que tinha um espírito empreendedor. A paixão pelo café e o desejo de lidar com pessoas a levaram a iniciar sua jornada nesse ramo. Para Tamyris, a cafeteria é um espaço perfeito para unir pessoas e criar conexões.

“Eu amo pessoas, lidar, receber, ter gente, juntar pessoas, conectar. Então para mim a área de cafeteria é uma área perfeita para unir pessoas. Já amava café então foi muito mais fácil”, relata a empresária.

Ela revela que seu verdadeiro produto não é o café em si, mas sim o atendimento e a experiência oferecida. Tamyris valoriza sua equipe de baristas e destaca a importância de um bom atendimento tanto para os clientes como para os colaboradores internos. “O que me motiva é saber que consigo impactar a vida do meu cliente através do atendimento”, conclui.

Protagonismo feminino
Foto: Cortesia

A publicitária e instrutora de barista, Alexandra Matias, de 26 anos, é outro exemplo do potencial das mulheres na área do café. Ela avalia que as mulheres têm desempenhado um papel fundamental na produção do café especial e têm marcado presença no cenário competitivo internacional.

No entanto, ela também reconhece que o protagonismo feminino ainda é limitado, não apenas para as baristas mulheres, mas em todas as áreas relacionadas ao café.

Para enfrentar esse desafio, ela enfatiza que através de modelos inspiradores, é possível incentivar outras mulheres e estimular sua entrada nesse campo. “É preciso enfrentar de frente e participar de eventos que façam o posicionamento de mulheres como referência na área. Dessa forma, é possível criar um espelho ou melhor uma inspiração”, ressalta.

Alexandra descobriu sua paixão pelo café especial graças ao seu marido, Henrique Dias, que trabalhava em uma torrefação e escola de café. Inicialmente envolvida na área de publicidade da empresa, ela mergulhou de cabeça no mundo do café especial e encontrou um universo rico de possibilidades.

Hoje, além de atuar como barista e instrutora de barista, ela continua responsável pela área de publicidade, aproveitando sua experiência para divulgar a cultura e o valor do café.

“Conhecimento e paixão pelo café”
Foto: Cortesia

O café está presente no cotidiano de Alexandra em todas as 24 horas do dia. Seja através de um cafezinho matinal para despertar os sentidos, ou durante sua rotina na torrefação e escola de café, onde ela prova novos cafés, explora diferentes perfis de torra e ministra cursos.

Além disso, ela também oferece apoio a parceiros locais, como cafeterias, fortalecendo a comunidade e compartilhando seu conhecimento e paixão pelo café. “É uma paixão. A cultura e o valor. A transparência”, diz.

De acordo com ela, o café especial ainda é pouco conhecido, o que representa tanto uma oportunidade quanto um desafio. No entanto, apresentar essa nova cultura do café é uma missão que requer esforço e dedicação, mas que apresenta potencial de crescimento e valorização desse segmento único.

Olhando para o futuro, Alexandra acredita que o café é um caminho sem volta. Com a abertura de novas cafeterias e o aumento da demanda por profissionais qualificados, o desafio de instruir os baristas profissionais se torna crucial.

Para ela, o barista é a peça-chave que representa toda a cadeia de valor do café. “É através dele que entregamos uma xícara de café perfeita”, conclui a barista.

Rebecca Moura

Rebecca Moura

Estudante de Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas e colaboradora no portal Eufêmea, conquistou o primeiro lugar no Prêmio Sinturb de Jornalismo em 2021. Em 2024, obteve duas premiações importantes: primeiro lugar na categoria estudante no 2º Prêmio MPAL de Jornalismo e segundo lugar no III Prêmio de Jornalismo Científico José Marques Melo.