Colabore com o Eufemea

A infidelidade na mídia: Por que Neymar é aplaudido por assumir traição e Luísa Sonza é julgada?

Estou no Instagram: @raissa.franca

Foto: Internet

Menino Ney. Sim, menino. Afinal, quando os homens erram, são colocados em uma posição de menino. “Quem nunca errou que atire a primeira pedra”, dizem os internautas defensores da família a todo custo (desde que tenha sido o homem que errou, porque se uma mulher errar, é inadmissível que o homem continue com ela). 

Ontem, o Brasil viu no perfil do jogador Neymar nas redes sociais um post sobre a traição do menino Ney contra a sua noiva, que está grávida. É muito bom ser homem. Imagina só que absurdo seria se uma mulher assumisse, nas redes sociais, que traiu o esposo, mas que se arrependeu? Seria trágico! Uma mulher de vergonha não trai, assim diz a sociedade que passa pano diariamente para homens que traem. 

O post dele rendeu centenas de mensagens de admiração e apoio pela atitude, vindas até de celebridades. Quero fazer uma comparação com o caso da cantora Luísa Sonza (que não traiu Whindersson Nunes, mas que até hoje todos acham que sim). 

Até hoje, Luísa é jogada na fogueira e colocada como uma ‘bandida’, ‘puta’, ‘sem vergonha’, por algo que ela não fez. E se ela não fez e acontece isso, imagine se ela fizesse… 

Há diferenças perceptíveis na maneira como a sociedade muitas vezes responde à traição quando se trata de homens e mulheres. 

Historicamente, as normas sociais estabeleceram expectativas diferentes para homens e mulheres em relação à sexualidade e ao comportamento amoroso. 

Os homens frequentemente foram encorajados a demonstrar uma suposta “virilidade” e a conquistar várias parceiras, o que às vezes levou a uma certa tolerância ou até mesmo admiração em relação à infidelidade masculina.

Em contraste, as mulheres foram muitas vezes associadas à ideia de pureza, castidade e fidelidade, e a infidelidade feminina foi considerada uma violação dessas expectativas tradicionais, resultando em julgamento e repulsa.

Essa discrepância nas reações à traição reflete uma estrutura de poder desigual e perpetua estereótipos de gênero prejudiciais. 

A tendência de aplaudir os homens enquanto se apedreja as mulheres por comportamento semelhante reforça a noção de que as ações dos homens são mais aceitáveis ou justificáveis, enquanto as mulheres são vistas como imorais ou desleais. 

Quando pensarmos que a sociedade coloca o homem e a mulher no mesmo patamar, precisamos avaliar esse caso. De um lado, um ‘menino’, o coitado que traiu, mas que se arrependeu, pediu desculpas e quer manter a família, acima de tudo.

Do outro, a mulher que não traiu, se explicou e mesmo assim é apedrejada até hoje. Ela não recebeu aplausos e comentários bondosos, mas recebe ofensas até hoje. As mulheres são cobradas para serem adultas, mas os homens? Eles são eternos meninos que erram, não crescem e a gente perdoa.

Raíssa França

Raíssa França

Cofundadora do Eufêmea, Jornalista formada pela UNIT Alagoas e pós-graduanda em Direitos Humanos, Gênero e Sexualidade. Em 2023, venceu o Troféu Mulher Imprensa na categoria Nordeste e o prêmio Sebrae Mulher de Negócios em Alagoas.