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O emprego formal continua sendo uma exceção para as pessoas trans e travestis no Brasil. De acordo com o último levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), 90% da população trans e travesti depende da prostituição como fonte de renda, o que representa a principal maneira de “sobreviver” para essa população.
A situação se agrava ainda mais no Nordeste. Segundo a plataforma TransEmpregos, Alagoas e Maranhão foram os únicos estados brasileiros que não registraram nenhuma contratação de pessoas trans ou travestis em 2022.
Ao Eufêmea, Natasha Wonderfull, mulher trans, presidente da Associação Cultural de Travestis e Transexuais de Alagoas, representante do Fonatrans e Antra, suplente do Conselho LGBTQIAPN e técnica de enfermagem do consultório de rua de Maceió, destaca que a transfobia por parte das empresas ainda é muito presente.
Natasha é uma das poucas mulheres trans que conseguiram emprego formal. Mas antes de ser empregada, ela percorreu um caminho marcado pelos desafios e preconceitos.
Ela relata que já teve seu currículo rasgado com a justificativa de que “uma profissional como eu chocaria as famílias” e que, certa vez, mesmo tendo obtido uma boa pontuação em uma seleção hospitalar, não foi chamada para a vaga. “Fiquei sabendo que outras pessoas foram contratadas posteriormente.”
Segundo Natasha, é necessário que o poder público adote alternativas para garantir a inclusão da população trans e travesti no mercado de trabalho. “Palestras, campanhas de publicidade na televisão, sites e outdoors. O Estado e os municípios precisam investir nisso.”
Natasha ressalta a importância da criação de leis que obriguem as empresas a contratarem pessoas trans e travestis.
Além disso, ela solicita a implementação de políticas públicas que garantam o acesso à educação para a população trans e travesti. “Muitas pessoas saem de casa cedo, vivem nas ruas, trabalham na prostituição e não possuem habilidades de leitura e escrita… Elas precisam ter a oportunidade de estudar.”
“Trabalhar para fortalecer a comunidade”
Outra pessoa que está inserida no mercado de trabalho é Jade Soares, uma mulher trans e quilombola, natural de Santa Luzia do Norte, em Alagoas. Atualmente, ela é graduanda em Gestão Pública e Coordenadora Geral da Diversidade Sexual da Secretaria Municipal da Mulher, Pessoa com Deficiência, Idoso e Cidadania da Prefeitura de Maceió.
Jade ressalta que “historicamente, pessoas trans e travestis são excluídas de todas as formas e espaços, desde o âmbito familiar até a vida escolar e a sociedade como um todo”.
Quando essas pessoas conseguem ingressar no mercado de trabalho, elas enfrentam diversos desafios: tratamentos negativos, falta de respeito em relação ao uso do nome social e identidade de gênero, exclusão e falta de apoio psicológico.
“Essa pressão psicológica faz com que, muitas de nós, se afastem das funções”, afirma Jade.
Agora, dentro da Prefeitura, Jade pretende trabalhar para divulgar, fortalecer e buscar pessoas travestis e transexuais para participarem de programas que já existem na prefeitura.
Além disso, Jade deseja promover diálogo com a sociedade civil e criar campanhas para incentivar a contratação de funcionários trans nas empresas. “Assim, o ambiente de trabalho se torna diverso e inclusivo”.
“É urgente a necessidade de legislação que garanta o acesso e a permanência da população LGBTQIAPN em espaços públicos e privados”, conclui Jade.