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*com Rebecca Moura
Uma pesquisa da Semrush (plataforma de gerenciamento de visibilidade online) mostrou que a busca pelo termo “saúde mental” saltou de 14.8 mil buscas em janeiro de 2022 para 22 mil em março de 2023, um crescimento de 50% no último ano.
No estudo, algumas especificidades do termo chamaram a atenção: “saúde mental no trabalho” registrou um aumento 238.5% no último ano, enquanto “teste de saúde mental” cresceu 310.3%. Também apontaram aumentos relevantes os termos: “hormônio do estresse” (+184.2%), “remédio para estresse” (+125%) e “estresse sintomas” (+22.7%).
Pandemia contribuiu
Ao Eufêmea, a psicóloga Adelayde França disse que tem observado um interesse pela saúde mental e acredita que isso é fruto da pandemia global. “Foi durante a pandemia que as pessoas entenderam realmente que a saúde mental faz parte da saúde. Muitas pessoas que não se consideravam ansiosas, desenvolveram quadro de ansiedade e até depressivo”.
Ela também acredita que as pessoas começaram a procurar psicólogos como forma de prevenção, o que antes não era tão comum. “As pessoas só procuravam quando já existia algo, mas estou vendo que elas estão buscando como forma de prevenção”.
A psicóloga reforçou que outro ponto que pode ter contribuído para que as pessoas buscassem mais foi a questão do home office e o de estar conectado o tempo todo. “Esse novo modelo que ajudou muita gente também deixou muitas pessoas presas naquele mundo virtual que faz com que elas fiquem conectadas o tempo todo, trabalhando e estressadas”.
A psicóloga afirmou que é necessário que as pessoas se observem, se percebam e não romantizem os problemas.
“Muitas vezes o problema e o estresse estão ali, a pessoa sabe que faz mal, não come bem, perde o sono, se desgasta. Então isso tudo já são sinais que algo não está indo bem. É importante relembrar que se você não está conseguindo lidar com isso é hora de buscar uma ajuda especializada e não romantizar os problemas, se acostumando com eles”.
Redes sociais e testes online
A psicóloga clínica, Sarah Karenina também ressalta que as redes sociais também desempenharam um papel importante nesse cenário. De acordo com ela, o compartilhamento aberto de experiências por artistas, influenciadores e pessoas comuns têm incentivado a discussão sobre o sofrimento psicológico e a importância do cuidado com a saúde mental.
“Fazer terapia, buscar medicamento com psiquiatra, quando necessário, e fazer exercícios físicos, são ações que podem ajudar no cuidado da saúde mental”, explica Sarah.
A psicóloga alerta para a necessidade de cautela ao realizar testes online, pois nem todos são embasados cientificamente. Para ela, é importante buscar a orientação correta para avaliar de forma precisa e confiável a própria saúde mental.
Ao ser questionada sobre como identificar a necessidade de buscar ajuda profissional, Sarah Karenina enfatiza a importância de observar os prejuízos na vida cotidiana.
Ela avalia ainda que muitas pessoas demoram a buscar ajuda profissional, o que pode resultar em agravamento dos problemas e até mesmo no desenvolvimento de comorbidades. A psicóloga alerta que é importante ficar atento aos sinais de que algo não está bem e buscar apoio o quanto antes, para evitar maiores prejuízos na qualidade de vida.
Embora haja um avanço considerável na quebra do tabu em relação à saúde mental nos últimos anos, Sarah destaca que ainda existe resistência em buscar ajuda profissional.
“Ainda existe uma resistência muito grande de procurar ajuda profissional, a gente vê que as pessoas já falam sobre, mas a resistência muitas vezes de buscar ajuda profissional é muito grande. É importante a gente falar e ver como algo que não é anormal”, conclui.
Cuidado com a saúde mental
A estudante Laura Albuquerque disse que aos 14 anos foi diagnosticada com Transtorno de Ansiedade Generalizada e que não é algo simples para ela.
“Desde então, tenho começado a entender mais um pouco sobre meu comportamento e minha reação ao cotidiano em geral, mas assumo que muitas vezes é difícil. Muita gente não leva a ansiedade a sério como uma doença e, na maioria das vezes, somos mal-compreendidos”, disse.
Ela disse que já chegou a usar o Google para pesquisar técnicas para se acalmar durante uma crise ou para achar dicas para evitar situações que a deixam ansiosa.
“O Google é uma forma simples e gratuita de encontrar respostas. O acesso é fácil”, disse.
No entanto, como ela tem tido uma piora no quadro, Laura afirma que está buscando uma ajuda profissional. “Não estou conseguindo lidar sozinha com tudo isso”.
“Me tornar minha melhor versão”
Já a estudante Tainá Sarmento, de 22 anos, relata que sua primeira experiência com a terapia ocorreu após enfrentar uma crise de ansiedade, quando ainda não sabia como lidar com essa situação. “Com a terapia eu aprendi a lidar melhor com minha ansiedade e hoje em dia eu busco a terapia para continuar lidando bem e porque considero importante para o meu autoconhecimento e conseguir me tornar minha melhor versão”, esclarece a estudante.
Durante o período do vestibular, Tainá enfrentou problemas com a ansiedade e sentiu a necessidade de buscar ajuda. Ela relata que após recorrer ao Google em busca de respostas sobre o que estava vivenciando acabou descobrindo a terapia como uma ferramenta eficaz para o cuidado da saúde mental.
“Hoje depois de algum tempo na terapia vejo como é importante cuidar da saúde mental e que não é só para pessoas que lidam com depressão, ansiedade e outros problemas psicológicos, mas sim para qualquer um”.
“Todos passamos por sofrimentos e desconfortos emocionais e cuidar da nossa saúde mental nos faz aprender a lidar com essas situações”, finaliza a estudante.