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Cadê seu namorado, moça? A red pill em pequenas doses

Hoje eu queria ser

Seu espelho pra quebrar na sua frente na primeira passada de batom

Queria ser seu motorista

De aplicativo só pra cancelar sua corrida e te deixar na mão

Queria ser o segurança da boate pra falar

Ingressos esgotados, seu nome não tá na lista

Queria ser o cara que vai chegar em você, suas amigas vão torcer

E a pergunta dele vai fazer você lembrar de mim sem querer (sem querer)

Entre os séculos 15 e 13 a.C o livro mais lido e vendido no mundo trazia o surgimento do homem e da mulher. Não é de se estranhar que numa sociedade patriarcal o homem tenha vindo primeiro, e que a mulher tenha sido criada com a finalidade de acompanhar e auxiliar o homem, numa espécie de divertimento. O que estranhamos é que até hoje, algumas pessoas nos veem assim, como auxiliares dos homens, e nunca como protagonistas de nossas vidas.

Biblicamente, há uma indissociabilidade entre o homem e a mulher após a união. A mulher não pode decidir por sua vida, pois há um estado de completa submissão às regras do homem. Estamos falando do Pentateuco, os livros mais antigos da Bíblia. Antes de Cristo! O incrível nisso é que essa situação se perdurou até 1977 quando houve a possibilidade de dissolução e reconhecimento legal do divórcio.

A mulher sempre foi criada para ser esposa, ser mãe, cuidar dos filhos e do esposo, e para os afazeres domésticos. Enquanto filha, a mulher precisa de anuência de seu pai para tudo, e após o casamento, quem decide sobre sua vida é o marido. Deste comportamento social repressivo podemos perceber que a mulher sempre foi submetida a extremas subordinações.

Rememorando um pouco do que nossas antecedentes passaram, não é de se espantar que no terceiro milênio da era cristã as mulheres sejam tão pressionadas a terem um relacionamento, a se casarem e terem filhos.

Contudo, são essas mentalidades retrógradas e preconceituosas que justificam que um homem brigue com uma mulher por causa da roupa que ela vestiu, pelo comportamento dela ser mais liberal, por causa de um batom mais vermelho, porque não fez a comida dele, porque não limpou a casa. E mais, que não admitam que ela esteja num cargo superior que o dele, que seja mais bem remunerada, que possa sair e se divertir, e que não precise dele.

A sociedade falocêntrica, que cultua obeliscos e disciplina o corpo feminino para servir ao homem, é a mesma que normaliza e legitima a misoginia. E nesta dinâmica machista, o discurso construído é o de que o verdadeiro homem precisa dominar e subjugar a mulher.

Por isso, é preciso que estejamos atentas para combater essa red pill da machosfera que pode vir de forma sutil numa música, numa tentativa de esconder o real sentido dela que é mostrar para a mulher que ela não será feliz sem um homem.

Que ela pode até tentar, mas o desejo que ela se dê muito mal e se arrependa de ter tomado a decisão de seguir sozinha faz com que outros desdobramentos surjam à partir daí. E vejam, mesmo que ela esteja com amigas, entre outras mulheres, a superioridade masculina fala tão alto que quem dá o direcionamento para a vida desta mulher é outro homem.

Moça, você pode e deve viver do jeito que quiser! Com ou sem relacionamento. Você merece ser feliz. E se alguém lhe falar que nascestes de uma costela de Adão e por isso você deve ser submissa ao homem, lembre-se: as costelas são altamente resistentes, e sem elas não é possível proteger pulmão e coração, órgãos vitais para a sobrevivência humana. Quem não conseguiu viver só foi Adão, e não Eva! Eva é leve e resistente, empoderada e necessária.

Não importa se você tem namorado, moça! Seu valor está em você e não no outro.

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Natércia Lopes

Natércia Lopes

Licenciada em Matemática, Mestra em Educação Matemática e Tecnológica, Doutora em Ciências da Educação pela Universidade de Coimbra e Psicanalista formada pela ABRAPSI.